Flyboys é mais um filme que clama ser baseado em fatos reais mas que, aparentemente, recorre pesadamente ao romance e à fantasia para dar um pouco mais de punch hollywoodiano a um drama de guerra que talvez nem precisasse disso, dado o apelo fácil da história junto ao público. A obra resgata a tradição dos filmes de combate aéreo, sendo que seu tema central já rendeu um longa-metragem no passado (Lafayette Escadrille, 1958, de William A. Wellman). O orçamento de 60 milhões de dólares foi torrado praticamente todo no departamento de efeitos especiais, que se esmera em criar uma ambientação realista para as acrobacias de alguns dos primeiros combatentes do ar da história. O resultado final não é nenhuma obra-prima, mas supera com honra longas semelhantes como Pearl Harbor (Michael Bay, 2001).
Tirando alguns exageros aqui e ali, tanto na ação quanto no sentimentalismo fora de contexto, o filme tem uma dinâmica bacana relacionada ao fascínio e ao perigo inspirado pelas máquinas voadoras inventadas, na época da história, há menos de 20 anos. O diretor Tony Bill, veterano que deu um tempo da carreira na TV para ocupar novamente uma cadeira de diretor, é hábil em conduzir os dramas paralelos dos personagens, driblando com classe passagens potencialmente piegas e dosando a ação com um romance pitoresco e, em sua efêmera vida na tela, arrebatador (graças à presença da radiante Jennifer Decker). Para quem não sabe, foi Tony Bill quem dirigiu o cult Cuidado com Meu Guarda-costas (1980), sendo que o cineasta tem ainda na estante um Oscar como produtor de Golpe de Mestre, de 1973.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a França resistia bravamente à invasão alemã enquanto o mundo ocidental hesitava em entrar no conflito. Adiantando-se em relação ao governo de seus país, alguns americanos se alistaram para integrar as tropas da resistência na Europa, aprendendo a pilotar aviões de combate. A Esquadrilha Lafayette foi uma destas equipes, e o filme se concentra no destacamento orientado por um capitão francês (Jean Reno) e liderados no ar por um americano amargurado (Martin Henderson). A saga destes pilotos é centrada no cowboy desiludido feito por James Franco, que se sobressai em seu grupo na luta contra os malvados alemães e, no processo, se apaixona por uma bela camponesa local (Jennifer Decker). Porque, obviamente, tais filmes hollywoodianos não são feitos só de fuselagem fumegante e batalhas no ar.
Para a grandiosidade pretendida, o resultado final de Flyboys fica na média. O título do filme soa ridículo, só encontrando algum respaldo talvez no fato de todos os pilotos mostrados no filme serem praticamente adolescentes e, sob qualquer ponto de vista, verdadeiros heróis. A distinção entre o bem e o mal é bastante clara (os aviões inimigos são vermelhos – e o do "último chefe", claro, é preto), e o processo de aprendizado dos cadetes vem com os esperados reveses que os novatos sofrem, emblemáticas cenas de perda da inocência, os preconceitos sofridos por alguns deles e momentos decisivos onde vários dos pilotos tombam num misto de perplexidade e incredulidade. Os combates aéreos rendem, em sua maioria, uma dose razoável de emoção, e compensam a infantilidade com que algumas decisões do roteiro são tomadas (como na última missão do protagonista). Em tempo: o filme tem cara de Jerry Bruckheimer, mas o famoso produtor não teve nadinha a ver com o longa.
A melhor parte, contudo, está na representação do romance – inesperado, engraçado e surpreendentemente encantador – que aparece lá pela metade do filme. Nem a apatia de James Franco consegue macular as passagens em que Jennifer Decker está em cena. É nestes momentos também que é possível perceber como a trilha sonora é excelente, trazendo um belíssimo tema romântico composto por Trevor Rabin. Cinemão descartável sim, mas ótimo mesmo assim.
Visto no cinema em 5-NOV, Domingo, sala 2 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Kollision em 9-NOV-2006