Clássico absoluto da Sessão da Tarde, este filme permanece ainda hoje como um dos mais tocantes contos cinematográficos sobre a amizade e o universo escolar adolescente. Apesar de suas limitações como narrativa, a sinceridade deste trabalho de estréia do diretor Tony Bill dá o tom necessário ao eterna dilema pelo qual passam os "losers" e os incompreendidos, classes com as quais muitos adolescentes em algum momento de sua vida já chegaram a se identificar. A história é simples, mas o resultado é extremamente agradável e edificante.
Sob todos os pontos de vista esta é a história de Clifford Peache (Chris Makepeace), um adolescente de 15 anos que acaba de se matricular numa nova escola devido ao emprego do pai (Martin Mull), o atarefado gerente de um hotel. Fora da rotina de hóspede especial no lugar, na qual também se inclui sua espevitada avó (Ruth Gordon), o franzino Chris se vê às voltas com as constantes ameaças e extorsões dos valentões da escola, liderados pelo valentão-mor Moody (Matt Dillon). Acuado e ao mesmo tempo observador, ele decide estabelecer contato com e contratar o grandalhão Ricky Linderman (Adam Baldwin) como seu guarda-costas, mesmo apesar dos boatos estarrecedores sobre o rapaz, dentre os quais figuram o estupro de professoras, a quebra de ossos de colegas e o assassinato de seu próprio irmão.
O ponto forte do filme é a empatia que os personagens transmitem, num universo tantas vezes retratado em pastiches dos mais variados e muitas vezes estereotipado até a última linha do roteiro. Isso não quer dizer que os estereótipos não existam neste longa. A diferença está no fato deles serem aproveitados com sutileza, sem palhaçadas gratuitas e em completa sintonia com o ambiente do protagonista. Chris Makepeace meio que repete o seu papel de Almôndegas (Ivan Reitman, 1979), o do moleque com olhar perdido, talento nato para passar por mosca morta e carisma suficiente para se converter ao final no herói que todo adolescente problemático gostaria de ser. Matt Dillon inicia sua longa carreira de bad boy em grande estilo, enquanto Adam Baldwin imprime dignidade a um personagem tão trágico quanto enigmático. A curiosidade maior é a presença de Joan Cusack também novinha, encarnando uma amiga feinha de dar dó.
Mesmo sendo bastante engraçado em algumas passagens, Cuidado com Meu Guarda-costas é, em sua essência, um drama atemporal sobre a descoberta da amizade e um dos muitos ritos de passagem passíveis de ocorrer na adolescência. O "cheiro" de filme dos anos 70 transparece no estilo dos figurinos, na fotografia ligeiramente desbotada e na trilha sensível de Dave Grusin, o que indefectivelmente garante o charme do filme para as novas gerações de cinéfilos. Uma pena que, depois desta competente estréia na direção, Tony Bill tenha seguido uma carreira exclusiva na TV, ao invés de tentar conceber mais histórias deste tipo, o que muito talvez teria conduzido o diretor pelo mesmo percurso trilhado por excelentes cineastas com olhos voltados para a juventude, como o mestre John Hughes.
O único extra presente na edição em DVD é o trailer original do filme.
Texto postado por Kollision em 29/Março/2006