Mesmo sem querer, Rambo - Programado para Matar foi um filme sério (sim, sério) que se tornou um dos responsáveis pelo nascimento do sub-gênero 'brucutus de armas em punho' no cinema de ação, do qual os principais expoentes são Sylvester Stallone, o astro deste, e o brutamontes Arnold Schwarzenegger. Uma grande ironia, que nasceu da liberdade tomada pelo diretor Ted Kotcheff: no livro no qual o filme se baseia (sim, Rambo não foi um personagem unidimensional criado exclusivamente para faturar milhões nas bilheterias), o herói morre no final. Sei que não serei penalizado por ninguém por revelar isso aqui, como atestam as continuações de sucesso deste filme produzido em 1982.
John Rambo (Stallone) é um veterano da guerra do Vietnã que vai à região montanhosa e fria do oeste dos Estados Unidos à procura do último de seus colegas de batalhão, só para descobrir que o cara falecera no ano anterior. Visivelmente abalado, ele é tomado por andarilho e vagabundo por um xerife caipira (Brian Dennehy), que torna sua vida simplesmente um inferno. O xerife, porém, não faz a mínima idéia do vespeiro com o qual está mexendo, já que a violência e o abuso de autoridade de sua delegacia provinciana acabam por trazer de volta as piores memórias dos tempos de guerra do soldado. Quando a perseguição por Rambo tem início e as coisas saem do controle, seu antigo comandante Samuel Trautman (Richard Crenna) é chamado para tentar acalmar os ânimos e salvar os pobres policiais do ex-combatente fora de controle.
O que faz deste primeiro Rambo um bom filme é a mistura bem acabada de ação, explosões e conteúdo dramático. Com aquela sensação bacana de bola de neve e um ótimo desenvolvimento de personagens, a história retrata a colisão entre dois mundos criados um a partir do outro, com um personagem que sintetiza a revolta de toda uma nação contra uma das guerras mais absurdas do século XX. Pode soar clichê hoje, mas algum dia após o fim do conflito isso precisaria ser mostrado. O famoso olhar de peixe morto de Sylvester Stallone caiu como uma luva à personalidade contemplativa de Rambo, um homem perigoso, mas absolutamente perplexo, perdido e assustado com o que a América se tornou após seu retorno para casa. Gente ignorada pela sociedade, vista com descaso por seus pares e sem qualquer perspectiva na vida não é exclusividade dos EUA, e com toda a certeza há muitos John Rambos em cada canto do mundo.
Para se ter uma idéia da seriedade do projeto que se tornou o primeiro Rambo, basta saber que gente como Mike Nichols, Kirk Douglas e Dustin Hoffman estiveram em algum ponto do processo associados à produção do longa. A impressionante trilha sonora de ação e suspense de Jerry Goldsmith é um marco em sua carreira. Tudo isso ajuda a ter uma idéia do quanto esta é uma das obras mais injustamente subestimadas da década de 80, que também carrega a infeliz e irreal imagem de ser muito violenta. É claro que há violência, mas a violência que mais fere neste caso com certeza não é a física.
A saga de John Rambo continua em Rambo II - A Missão.
A ausência total de extras no DVD simples lançado pela Universal é uma verdadeira lástima.
Texto postado por Kollision em 5/Julho/2005