Revisto em DVD em 21-SET-2007, Sexta-feira
"Há uma incógnita sobre a criação da natureza. Um tentador mistério envolve a imensidão do universo. Problemas insondáveis pairam sobre a existência. A vida e a morte. E nesse turbilhão de vidas há uma certeza: a criação da inteligência e a formação da matéria. Enfim, a existência do homem. Agora, tudo no infinito torna-se mais fácil. Das águas às matas, da Terra ao espaço, tudo o que existir tem um motivo. E o homem encontra sua motivação. Nada nasce, nada vive, nada morre sem razão. Dependendo do desenvolvimento mental de cada um, a resposta procurada poderá demorar um pouco mais, um pouco menos, ou vir no momento certo. Mas a realidade é uma só, para tudo e para todos. Se existe, há uma razão de existir. Assim, existe este filme."
O parágrafo acima é a narração palavra por palavra da pretensiosa, desconexa e inacreditavelmente tosca introdução desta aberração em forma de filme. O famoso personagem Zé do Caixão dá lugar ao tal Finis Hominis, um homem que emerge do mar nu e, perambulando pelas ruas da cidade, atrai a atenção do povo e se transforma num messias moderno. O nível claudicante da produção, que de tão pobre mistura rolos de filme colorido com filme em preto-e-branco, pode ser medido principalmente pelo surrealismo de botequim, pelo reaproveitamento cansativo dos mesmos temas musicais utilizados por Mojica em seus filmes anteriores, pelos diálogos ineptos, pela dessincronização constante da dublagem e pelas interpretações abomináveis (com exceção do expressivo Roque Rodrigues, o marido traído da segunda metade do filme). O tal Finis Hominis pode ser um personagem diferente, mas no fundo não passa de um Josefel Zanatas (Zé do Caixão) travestido de pai de santo. A pérola da falta de recursos é o tema musical usado pelos hippies em sua festinha: uma baboseira que não sai de um refrão onde a cambada canta "eia-eia-eia-eia-eia-eia-ê". Sim, é preciso ver para crer...
Provavelmente o fundo do poço dentro da filmografia do criador do Zé do Caixão, Finis Hominis é simplesmente ruim de doer, indicado somente para os fãs hardcore de Mojica. A arte da capa do DVD, realmente muito boa, vale mais do que todo o filme.
José Mojica Marins fala na faixa de comentários do DVD. O restante dos extras consiste do seu documentário Demônios e Maravilhas (1987, 50 minutos), trechos dos filmes A Quinta Dimensão do Sexo (Mojica, 1984) e Dama de Paus (Mário Vaz Filho, 1989), entrevistas curtas com familiares, pessoas próximas e o roteirista Lucchetti, um clipe com dedicatórias para Mojica, um making-of rápido de uma das trilhas de comentários de seus filmes, o videoclipe da música Provocação de Liz Vamp (cantora e filha de Mojica), entrevista com o diretor, enquete com transeuntes na rua e suas opiniões sobre o personagem, extratos de áudio com contos de rádio narrados por Mojica e uma música de Liz Vamp apresentada por seu pai, uma extensa galeria de textos, críticas e roteiros relacionados aos trabalhos de Mojica, biografias curtas do diretor e de alguns membros do elenco, várias galerias de fotos, pôsteres e quadrinhos e os trailers de Ritual dos Sádicos - O Despertar da Besta, O Exorcismo Negro, Finis Hominis, Delírios de um Anormal, O Profeta da Fome, À Meia-noite Levarei sua Alma e Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver.