William Petter Blatty, o autor do livro que originou o clássico O Exorcista (William Friedkin, 1973), tentou de todos os jeitos produzir um filme baseado na continuação direta de sua história, intitulada Legion, ao longo da década de 80. Sem perspectiva de conseguir um diretor que pudesse assumir a empreitada, ele arregaçou as mangas e assumiu o manto da direção, curvando-se ao desejo do estúdio de transformar seu filme no terceiro capítulo da série clássica. Desconsiderando completamente a enorme baboseira que foi O Exorcista II - O Herege (John Boorman, 1977), ele retoma o personagem do policial interpretado no original por Lee J. Cobb, adequando o tema do exorcismo a um roteiro feito com estrutura de thriller policial.
O policial Bill Kinderman (George C. Scott), encarregado de investigar a morte do padre Damien Karras no caso do exorcismo de Regan McNeil no primeiro filme, se vê às voltas com estranhos assassinatos que copiam o modus operandi de um psicopata morto na cadeira elétrica há muitos anos. Ele percebe que algo além de uma mera investigação talvez seja necessário quando seu amigo de longa data, o padre Dyer (Ed Flanders), também se torna uma vítima no hospital onde se encontra internado. Recorrendo à ajuda do padre Morning (Nicol Williamson), que também conheceu Karras, Kinderman precisa pôr seu ceticismo de lado para entender qual é a relação entre as bravatas de um lunático internado (Brad Dourif) com os brutais casos de assassinato que tem em mãos.
Com somente um outro filme obscuro no currículo, produzido dez anos antes deste, Blatty não consegue o efeito tão desejado ao dirigir sua cria tão preciosa. Falta um traquejo mais ousado na concepção do horror, e um senso de ritmo mais apurado para manter o interesse num roteiro que peca por excessos verborrágicos e grandes bolsões de vácuo narrativo. Sua intenção de não chocar o espectador com nojeira explícita é louvável, mas não há uma contrapartida eficiente por parte da construção do suspense, que demora demais para conseguir algum resultado. O que acontece é que o filme fica durante mais da metade do tempo patinando em falso, testando a paciência do espectador com referências a um vilão que não é introduzido de forma correta na história, mas ganha uma representação de peso no corpo e na voz de Brad Dourif, um ator que visivelmente dá o sangue por seu papel no longa. Um verdadeiro desperdício, para falar a verdade.
A deturpação do material original fica por conta de um exorcismo porcaria inserido no final do filme, que não fazia parte do conceito do romance e só faz denegrir a unidade temática da história. Da mesma forma como há momentos inspirados (a mulher que se arrasta pelo teto como um inseto, o sonho com os anjos ou a cena com a atendente no corredor do hospital), há escolhas que simplesmente resultam em bagunça, como a confusão que é formada com a aparição de Jason Miller, intérprete do padre Damien Karras no primeiro filme. Com isso, a intenção de horror trilha um caminho perigosamente tosco e pretensioso, principalmente quando o sobrenatural entra em cena.
Infelizmente, o DVD da Warner tem como único extra o teaser trailer do filme.
Visto em DVD em 21-FEV-2007, Quarta-feira - Texto postado por Kollision em 27-FEV-2007