Revisto em DVD em 11-JUL-2015, Sábado
Apesar de sua estrutura narrativa não convencional, construída através dos vários diários escritos pelos inúmeros personagens envolvidos na história, o romance Drácula do britânico Bram Stoker rapidamente ganhou o mundo e as telas de cinema. E é exatamente devido à sua multifacetada narrativa – e também ao escopo deveras grandioso do livro – que as várias adaptações cinematográficas sempre se viram obrigadas a alterar de alguma forma a sua fonte. É por isso que o principal desafio assumido por Francis Ford Coppola nessa adaptação moderna, que ousa incluir o nome de Stoker no título do filme, foi o de se manter fiel à criação do escritor.
Com um elenco principal de estrelas, o Drácula de Coppola é um filme de horror atípico para sua época, bonito de se ver graças ao design de produção de cacife hollywoodiano laureado com três Oscars (maquiagem, figurinos e edição de som). Dirigido com austeridade, o filme acompanha os eventos principais do livro mas ousa atribuir um passado ao famigerado conde vampiro enquanto adiciona uma carga considerável de romance à sua fatídica história. Ou seja, não se trata exatamente de uma adaptação fiel à prosa de Stoker, que em nenhum momento teceu relações amorosas entre Drácula e suas vítimas ou sequer lhe deu um passado tão explícito quanto o que é mostrado no filme, muito embora várias fontes indiquem que o escritor de fato se inspirou no sanguinário monarca romeno Vlad Tepes para criar seu famoso personagem.
No final do século 19, o corretor de imóveis Jonathan Harker (Keanu Reeves) é enviado à Transilvânia para avaliar os interesses de um excêntrico conde (Gary Oldman) que deseja adquirir propriedades em Londres. Infelizmente, ele lentamente percebe que não está diante de um cliente comum, na verdade um ser maléfico que vive através dos séculos e se tornará o flagelo de todos ao seu redor em sua terra natal, a começar pela noiva (Winona Ryder). Para confrontar o mal e tentar pôr um fim ao reinado de terror do conde, a única esperança de todos é o excêntrico médico Abraham Van Helsing (Anthony Hopkins), convocado às pressas para tentar salvar uma das vítimas do monstro.
Verdade seja dita: condensar o livro todo num filme de duas horas é praticamente impossível. Algumas das escolhas feitas pelo roteiro funcionam bem, como o fato do lunático Renfield (Tom Waits) ser um predecessor de Jonathan Harker e a ideia de que Drácula é constantemente protegido por escravos ciganos. Por outro lado, o filme falha miseravelmente em caracterizar a união que dá origem ao grupo que decide combater o vampiro, o que evolui para um desfecho insosso durante a perseguição que ocorre no continente europeu. A câmera de Coppola se enamora do elenco principal apenas, e raramente dá alguma atenção aos coadjuvantes que deveriam passar à frente na reta final do filme.
Goldman está ótimo no papel principal. Hopkins soa exagerado, mas a culpa é de Coppola, que também pisa na bola ao dirigir Winona Ryder na sequência final. Há poucos efeitos visuais/especiais, a maioria deles já datados, mas a cena do conde se desfazendo numa ninhada de ratos continua fantástica. E atenção às várias referências narrativas e visuais a clássicos do gênero, como o Drácula de Bela Lugosi, Nosferatu e O Exorcista.
O primeiro DVD lançado pela Columbia é totalmente desprovido de extras, mas vem com as versões fullscreen e widescreen do filme (disco de duas faces).