A contraparte menos famosa de um dos maiores clássicos do cinema de horror foi completamente recuperada há apenas pouco tempo, como se pode perceber a partir de um trecho bastante machucado (porém aceitável após a restauração) da película, que de acordo com informação do IMDb estava perdido em algum lugar de Cuba. Do ponto de vista da produção, as curiosidades maiores são que a obra foi realizada ao mesmo tempo e exatamente com os mesmos cenários do Drácula de Tod Browning, e que a versão de Browning era filmada durante o dia, enquanto o diretor George Melford entrava com seu elenco de atores latinos para fazer seu takes somente à noite. Ambas as versões são bastante parecidas, mas carregam diferenças sutis que ao longo dos anos as tornaram motivos de comparação ferrenha por parte dos fãs do gênero.
A clássica adaptação do lendário romance de Bram Stoker começa com o corretor Renfield (Pablo Álvarez Rubio) indo visitar o conde Drácula (Carlos Villarías) em seu castelo na Transilvânia. Iludido pelo vampiro, tanto ele quanto o conde se deslocam para a Inglaterra. Drácula se instala numa abadia abandonada e passa a atormentar a vida de seu vizinho dr. Seward (José Soriano Viosca), dono de um sanatório de loucos e pai da bela Eva (Lupita Tovar). Não é o noivo da moça Juan Harker (Barry Norton) quem lhe faz frente, e sim um cientista que toma conhecimento de sua existência ao examinar uma de suas vítimas. Trata-se da nêmesis do monstro, o também lendário professor Van Helsing (Eduardo Arozamena).
Esquecendo por um momento que esta produção era uma obra destinada a permanecer para sempre em segundo plano, assim como muitas outras feitas na época para o mercado latino dentro da Universal, é preciso reconhecer o esforço de toda a equipe e elenco, que de meras sombras de seus companheiros americanos ascenderam a uma posição em que muitos críticos "profissionais" qualificam este filme como superior ao de Tod Browning. OK, em alguns pontos sim, mas vá lá... Em primeiro lugar, por exemplo, Bela Lugosi é insuperável como o primeiro Drácula do cinema. Muito embora Carlos Villarías retenha alguns traços que remetem ao Max Schreck do clássico Nosferatu (F. W. Murnau, 1922), há algo que beira o cômico em sua postura e sua interpretação em várias passagens. Provavelmente de forma involuntária, o que atesta ainda mais a superioridade do Drácula de Bela Lugosi e seu inigualável sotaque húngaro.
A direção, por outro lado, mostra-se ligeiramente mais inspirada na versão espanhola do filme. Até no tratamento da narrativa ela é mais cuidadosa. O único problema é mesmo a rigidez excessiva do elenco quando ele está todo reunido (o que acomete também a versão de Browning) e o desempenho de alguns atores, como Eduardo Arozamena, cujo Van Helsing não passa de uma sombra esquálida do cientista personificado por Edward Van Sloan. Pablo Álvarez Rubio dá o sangue como Renfield, e ganha muito mais tempo em cena que Dwight Frye, enquanto Lupita Tovar coloca sua Eva/Mina Harker num patamar mais alto de envolvimento vampírico quando comparada a Helen Chandler.
Exceto por alguns poucos trechos do filme, pelo tratamento dado ao combate final contra o vampiro (decididamente superior ao filme de Browning) e pelas performances do elenco, o que se vê é praticamente uma cópia-carbono do Drácula mais famoso. Obviamente, assistir aos dois um depois do outro é altamente não recomendado.
O filme vem num DVD em edição conjunta com A Filha de Drácula (Lambert Hillyer, 1936), e traz como único extra relacionado uma introdução atual de 4 minutos, feita especialmente para o lançamento por Lupita Tovar.
Visto em DVD em 7-NOV-2006, Terça-feira - Texto postado por Kollision em 14-NOV-2006