É incontável o número de filmes que sucumbem ante sua própria pretensão. Como este Adrenalina, por exemplo. Pode ser que, no clima certo, no estado de espírito correto – que traduz-se neste caso como percepção alterada por narcóticos ou bebedeira exagerada – a experiência de se assistir a este trabalho de estréia de seu duo de diretores seja divertida sem incorrer numa dúbia e às vezes óbvia ofensa à inteligência do espectador. E as passagens constrangedoras que Amy Smart protagoniza, por exemplo, sejam amenizadas pela noção de que tudo não passou mesmo de uma experiência. Bem malfadada, diga-se de passagem.
O matador Chev Chelios (Jason Statham) acorda com dor de cabeça e tonto, e a primeira coisa que vê pela frente é uma gravação de um desafeto (Jose Pablo Cantillo) que afirma tê-lo envenenado com um coquetel poderosíssimo que o matará dentro de uma hora. Furioso, Chelios sai em disparada à procura do algoz e descobre, por intermédio de seu médico (Dwight Yoakam), que pode retardar o efeito da droga ao se manter em constante movimento e com um elevado nível de adrenalina no corpo. Segue-se então uma perseguição maluca, enquanto Chelios procura por pistas daquele que o ferrou e ao mesmo tempo dá os seus pulos para proteger a namorada cabeça de vento (Amy Smart) da mira de seus inimigos.
Uma impressão que tive durante a sessão, mais tarde confirmada ao ler algumas opiniões na Internet sobre o filme, é que ele representa uma espécie de adaptação para a tela grande das incorreções sociais que são o mote da série de jogos Grand Theft Auto. Fica mais do que óbvio que os diretores pretendem criar uma nova estética de filme de ação com seu ritmo frenético e nervoso, movimentações de câmera engraçadinhas, edição cheia de truques e uma quase completa ausência de pausas entre uma explosão cinética e outra. Os caras bebem de várias fontes, mas principalmente de Quentin Tarantino. A ambientação de vídeo-game com videoclipe pode casar com o nível rasteiro de coesão narrativa, mas não sustenta o filme como um todo, pois este se revela tão vazio quanto acelarado, com um protagonista que trilha uma jornada efêmera e meio sem sentido.
Jason Statham parece estar herdando o manto que pertenceu, durante um bom tempo, a Steven Seagal: o do rei dos filmes de ação de segunda categoria. Apesar de ter flertado com diretores de renome, é somente em coisas como Adrenalina que ele tem encontrado espaço como protagonista. Chev Chelios foi feito sob medida para o ator, e não é exagero dizer que o pouco de credibilidade que o filme possa sustentar deve-se ao seu "sacrifício" diante das câmeras. Já Amy Smart não tem perdão. Junto com Statham, ela protagoniza uma das cenas mais constrangedoras do recente cinema de ação. Diz o Imdb que seus soluços na cena do restaurante são reais. Ironicamente, trata-se do ponto mais baixo do desempenho da moça, que poderia ter passado sem essa em seu currículo.
Se a piada com o motorista de táxi e a Al Qaeda não render pelo menos algumas risadas involuntárias, vocês podem desistir de ver o resto do filme, que ainda traz um clone de Cuba Gooding Jr. no papel do bandido e não muito mais que um material do mesmo naipe durante o restante do tempo de projeção.
Visto no cinema em 18-FEV, Domingo, sala Moviecom 2 do Rondon Plaza Shopping - Texto postado por Kollision em 23-FEV-2007