Muito antes de Steven Spielberg ganhar seu primeiro Oscar pela obra-prima A Lista de Schindler, ele chamou a atenção de todo o mundo com este belíssimo filme. Estabelecendo definitivamente seu talento dentro do meio cinematográfico, devidamente pavimentado por sucessos anteriores como Tubarão e E.T. - O Extra-terrestre, A Cor Púrpura entrega um drama de época delicado mas ao mesmo tempo fascinante, que foi indicado a 11 Oscars e até hoje se mantém como um dos pontos altos na carreira do cineasta.
A Cor Púrpura é a história de Celie (Whoopi Goldberg), uma adolescente negra violentada e engravidada pelo próprio pai, que tem seus dois filhos tirados de si ainda bebês durante o início do século 20. Quando é vendida para o não menos cruel Albert (Danny Glover), ela logo perde o contato com a única pessoa que preza, sua irmã Nettie. Cada vez mais maltratada e reprimida, Celie sobrevive dia após dia agarrando-se à esperança de um dia receber uma carta da irmã, que é expulsa de sua vida pelo truculento Albert. Mesmo com tudo isso, Celie encontra em sua jornada pessoas que a ajudarão a encarar a tristeza de frente, superar os constantes maltratos e, algum dia, sorrir novamente.
Baseado no romance de Alice Walker, vencedora do Prêmio Pulitzer, o filme tem o mérito de desnudar a sociedade negra pós-escravidão sob uma bem-sucedida visão imparcial. Mostra que a crueldade não estava apenas na escravidão antes imposta pela casta branca, mas sim dentro das próprias famílias negras da época, que reprimiam as mulheres de forma ainda mais implacável que seus opressores. O sofrimento da personagem de Whoopi Goldberg não encontra consolo em ninguém de sua família (exceto por sua irmã), mas em pessoas que vêm de fora e não necessariamente se encaixam dentro do padrão aceito pela sociedade, como a cantora de cabaré Shug (Margaret Avery) ou a nora de seu truculento marido (Oprah Winfrey, revelando ser até uma atriz razoável).
Embora partindo de um tema pesado, o filme é impregnado com mensagens de alegria, demonstrações de afeto e superação pessoal, esplendidamente personificadas por Whoopi Goldberg. Danny Glover compõe um vilão assustadoramente familiar, e é uma pena que ele não tenha sido nem ao menos indicado para um Oscar, como suas companheiras de elenco Goldberg e Oprah Winfrey. Trata-se de um assunto delicado, visto que muitos ainda hoje consideram a premiação daquele ano um verdadeiro embuste, pois o filme não levou nenhum dos 11 Oscars ao qual tinha sido indicado.
O DVD duplo traz como extras três trailers do filme, além de três documentários de 23 min. a meia hora com detalhes sobre a produção e entrevistas com praticamente todo o elenco. O que decepciona um pouco é saber, por estes documentários, que várias cenas extras foram filmadas mas não utilizadas, e estas cenas não estão incluídas no DVD... Completam o pacote um documentário de 7 min. sobre as músicas do filme e duas galerias de fotos da produção e do elenco.
Texto postado por Kollision em 25/Setembro/2004