Cinema

A Feiticeira

A Feiticeira
Título original: Bewitched
Ano: 2005
País: Estados Unidos
Duração: 103 min.
Gênero: Comédia
Diretor: Nora Ephron (Sintonia de Amor, Mensagem para Você, Bilhete Premiado)
Trilha Sonora: George Fenton (Sra. Henderson Apresenta, As Férias Da Minha Vida, Ventos da Liberdade)
Elenco: Nicole Kidman, Will Ferrell, Michael Caine, Shirley MacLaine, Jason Schwartzman, Kristin Chenoweth, Heather Burns, Jim Turner, Stephen Colbert, David Alan Grier, Michael Badalucco, Carole Shelley, Steve Carell, Katie Finneran, James Lipton
Avaliação: 4

O lançamento em DVD do primeiro ano da série Bewitched (A Feiticeira), popularíssima desde que foi criada na década de 60, é algo pelo qual os fãs saudosistas mais ansiaram desde que o potencial digital finalmente veio a público. Ainda hoje figurando entre as realizações televisivas mais engraçadas e apaixonantes já feitas, a série imortalizou o rosto da atriz Elizabeth Montgomery nas mentes de todos como a adorável bruxa Samantha. Soa natural dizer então que, para o projeto de uma refilmagem diretamente para o cinema, o comando de uma diretora tarimbada no gênero e a presença de Nicole Kidman no elenco seriam garantia quase certa de sucesso. Apesar de toda a boa vontade, o longa reforça a idéia de que não só é praticamente impossível melhorar o que já era quase perfeito, como também não bastam nomes famosos e produção caprichada para superar o que foi feito com competência ímpar há cinqüenta anos atrás.

Usando os conceitos originais como muleta, num material que fica entre a homenagem e a reciclagem, a diretora e roteirista Nora Ephron traz a série de volta ao mundo de Hollywood, quando o fracassado ator Jack Wyatt (Will Ferrell) aceita o papel de Darrin no remake de A Feiticeira. Completamente egoísta e egocêntrico, tudo o que Jack quer é encontrar uma moça que lhe faça sombra como a feiticeira Samantha, papel que acaba caindo nas mãos de Isabel Bigelow (Nicole Kidman). O que ele nem imagina é que Isabel é uma feiticeira de verdade, que acaba de se mudar para Los Angeles disposta a viver como uma mortal, mais ou menos como sua personagem. Como não podia deixar de ser, ela não tem sossego devido às reclamações de seu pai (Michael Caine), o feiticeiro mulherengo que insiste que ela retorne ao mundo em que pertence.

Mexer o nariz com a graça de Elizabeth Montgomery não é algo fácil, mas Nicole Kidman usa o seu com propriedade e economia (ela não faz suas 'mágicas' com ele, usa-o apenas enquanto grava suas cenas, com o tradicional efeito sonoro, claro). A performance nasal é mais ou menos o oposto daquela que deu à moça o Oscar de melhor atriz por As Horas (Stephen Daldry, 2002). Com voz sussurrada durante quase todo o tempo, Kidman é praticamente a única coisa pela qual o filme pode valer a pena. Seu companheiro de cena é histérico, antipático e nem por um momento inspira qualquer espécie de ligação mais enfática com a platéia. Will Ferrell, afinal, não é mau comediante, então o que terá acontecido?

A resposta só pode ser atribuída a Nora Ephron, que parece ter perdido definitivamente o toque de sutileza que demonstrara como roteirista de Harry e Sally - Feitos um para o Outro (Rob Reiner, 1989) e diretora do excelente Sintonia de Amor (1993). Percebe-se que há algo errado logo na introdução, um pouco sonolenta e verborrágica. As risadas demoram a vir, e quase sempre estão associadas ao reaproveitamento de cenas e situações dos primeiros episódios da série original. Há um quê de crueldade no modo como o personagem de Will Ferrell é retratado, como um perdido desprovido de personalidade e influenciado por tudo e todos de forma quase patética. Um dos maiores pecados, no entanto, é o desprezo com que é retratada a subtrama entre Michael Caine e Shirley MacLaine, que interpreta a atriz que faz Endora (a mãe de Samantha). Os créditos sobem e a audiência fica a ver navios sobre que rumo tomou a situação entre os dois.

O pior de tudo é pensar que a premissa do filme, em si, é interessante. A execução é que não emplaca, graças a problemas com o ritmo, com a direção do elenco e até mesmo com a fotografia, que poderia ter sido um pouco mais ensolarada. Há alguns poucos momentos engraçados, que quase nada acrescentam ao produto final, uma sombra esquálida de sua fonte de inspiração. Ainda bem que trata-se de um longa-metragem, e não mais um piloto de TV.

Texto postado por Kollision em 25/Outubro/2005