Desejar ver mais de personagens bem construídos e que têm a simpatia tanto de público quanto de crítica é natural de qualquer cinéfilo. O ótimo Máfia no Divã que o diga. Praticamente toda a equipe do primeiro filme volta para este segundo, visivelmente com a disposição de fazer algo ainda mais engraçado que antes. Infelizmente, a continuação caiu na categoria clichê de 'o original é melhor, obrigado'.
O filme começa acompanhando a vida cada vez mais difícil do mafioso Paul Vitti (Robert De Niro) na cadeia. Após escapar de algumas tentativas de assassinato, Vitti recorre à única pessoa que pode tirá-lo de lá, o psiquiatra Ben Sobel (Billy Crystal), que se depara com o ex-cliente delirando e cantando músicas de Amor Sublime Amor. Ben recebe da polícia a incumbência de realizar o tratamento de Vitti, que deve ficar sob sua custódia até o dia da inspeção da condicional, para o desespero de sua esposa Laura (Lisa Kudrow). Não demora para o psiquiatra perceber que se encontra num beco sem saída, já que não consegue fazer com que Paul Vitti pare num emprego fixo e aparentemente não pode fazer nada para impedir que o seu passado na máfia volte para assombrá-lo.
Aquela simbiose tão acertada entre De Niro e Crystal continua lá, intacta. O 'processo' que aproxima os dois e rendeu ótimos momentos no primeiro filme continua o mesmo, mas não consegue obter os mesmos resultados. Algumas piadas se repetem, o ótimo Joe Viterelli retorna como o mais engraçado dos consiglieris e há uma dose um pouco maior de violência. O problema maior é que a história perde o rumo lá pela metade, e a idéia de colocar Vitti como consultor técnico de um seriado sobre mafiosos força demais a barra do bom senso. Há um sentimento de desorientação que se instala quando o roteiro tenta não deixar claro se Vitti voltou ou não a ser um criminoso, e o preço que se paga por isso é a redução drástica do nível das tiradas cômicas. A subtrama que envolve a súbita auto-medicação do psiquiatra Ben Sobel em decorrência de seu trauma com a morte do pai acaba, no final das contas, não chegando a lugar algum. E a figura de Patti LoPresti (Cathy Moriarty) nunca fica muito bem esclarecida na história.
Apesar de tudo isso, não se pode dizer que A Máfia Volta ao Divã é ruim. É assistível, tem a classe característica da consagrada dupla de protagonistas. Porém, este segundo esforço do diretor Harold Ramis fica sempre à sombra do primeiro, exceto talvez pela cena em que Anthony LaPaglia tenta imitar o jeito e o sotaque de De Niro para incorporá-lo ao seu show televisivo.
Há um making-of rápido de 10 minutos na seção de extras do DVD, acompanhado do trailer do filme.
Texto postado por Kollision em 29/Julho/2005