Revisto em DVD em 5-DEZ-2008, Sexta-feira
Eu sabia que esse negócio de ir pra casa de mamãe e comer arroz com pequi todo dia só podia dar nisso... Eis que, ao chegar em casa e dar uma olhada de perfil no espelho, noto que a barriguinha parece ainda mais proeminente do que de costume, implacavelmente evidenciando que o excesso de delícias pequizeiras teve uma conseqüência que precisava ser tratada de forma urgente.
Duas constatações vieram-me à mente então. A primeira delas é que mais uma vez eu teria que tomar uma dose cavalar daquele remédio que todo mundo sabe que precisa tomar mas quase nunca consegue. Sim, meus caros, refiro-me ao temido Vergonhol. E uma volta urgente à prática de exercícios físicos, acompanhada de uma nova tentativa de estabelecer uma rotina de alimentação mais saudável.
A segunda constatação tem a ver com o porquê de eu estar escrevendo isso num texto que deveria discorrer sobre um filme. Ora bolas, se você já assistiu a Beleza Americana, sabe exatamente do que estou falando. E sabe também que minha motivação não tem nada a ver com a do personagem de Kevin Spacey, muito embora certos aspectos relacionados não deixem de ser comuns. O ponto crucial é que, graças ao reflexo da minha barriguinha no espelho, tive uma vontade danada de rever o filme.
Beleza Americana, ganhador de 5 Oscars, incluindo melhor filme, roteiro e ator, tem sido vítima de uma campanha de difamação que tenta taxá-lo como um dos filmes mais superestimados da história do cinema, o que é absolutamente injusto. Trata-se de um trabalho fantástico, fenomenal em suas sutilezas e extremamente agradável de se ver. A história é narrada por um homem de meia idade (Kevin Spacey) que redescobre a vontade de viver mas, em última instância, paga um preço caro por isso. Logo no começo do filme ficamos sabendo que ele vai morrer, coisa que vira e mexe o protagonista faz questão de nos lembrar. Ao mesmo tempo engraçado e trágico, o filme desnuda as aparências da família de classe média americana enquanto trabalha valores morais/sociais por meio de seus fragmentados personagens, cada um deles imerso num conflito particular nem sempre explícito aos olhos da platéia. A direção é primorosa e amparada por um elenco fantástico. A maior realização do filme, no entanto, é fazer com que o desfecho trágico e anunciado não se eleve acima das mensagens positivas de sua história. Acreditem, trata-se de uma obra que te faz se sentir genuinamente bem assim que os créditos começam a subir – algo raro de se ver em ganhadores de Oscar, pelo menos os da última década.
O DVD vem com uma faixa de comentários em áudio de Sam Mendes e do roteirista Alan Ball, além de um making-of de cerca de 20 minutos, 60 minutos (!) de apresentação de storyboards e dois trailers. Estranhamente, somente alguns extras estão legendados, e somente em inglês.