Cinema

À Espera de um Milagre

À Espera de um Milagre
Título original: The Green Mile
Ano: 1999
País: Estados Unidos
Duração: 189 min.
Gênero: Drama
Diretor: Frank Darabont (Cine Majestic, O Nevoeiro)
Trilha Sonora: Thomas Newman (Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento, A Corrente do Bem, Entre Quatro Paredes)
Elenco: Tom Hanks, David Morse, Bonnie Hunt, Michael Clarke Duncan, Doug Hutchison, Barry Pepper, Jeffrey DeMunn, Dabbs Greer, James Cromwell, Michael Jeter, Graham Greene, Sam Rockwell, Patricia Clarkson, Harry Dean Stanton, William Sadler, Gary Sinise, Brent Briscoe
Distribuidora do DVD: Warner
Avaliação: 9

A primeira fase da carreira de Frank Darabont no cinema sempre esteve associada à do escritor Stephen King. Ironicamente, os filmes de Darabont adaptados de King partem de obras que estão fora da curva principal de temas abordados pelo escritor, que se tornou notório ao longo dos anos por conceber livros e contos de horror, a sua grande maioria com enorme êxito comercial. Publicado originalmente sob a forma de seis livretos seqüenciais, À Espera de um Milagre não tem nada de tenebroso, assim como o absurdamente bem-sucedido Um Sonho de Liberdade, feito cinco anos antes. Há, sim, um toque de sobrenatural aqui e ali, que em nenhum momento chega a suplantar o drama em si, uma tocante parábola que coloca frente a frente a maldade e a bondade humanas em suas formas mais puras, adaptada com considerável fidelidade para o cinema pelo próprio Frank Darabont.

O conto é narrado pelo ex-guarda de uma prisão que abrigava condenados à cadeira elétrica na Louisiana da década de 30, o velho e enigmático Paul Edgecomb (Dabbs Greer). Personificado por Tom Hanks em sua versão mais jovem, Paul usa suas caminhadas pela floresta como motivo para contar a uma amiga como um condenado à morte pelo assassinato de duas meninas mudou sua vida para sempre. O condenado é John Coffey (Michael Clarke Duncan), um negro imenso com coração de menino, que esconde um segredo que será compartilhado não só com Paul, mas também com seus companheiros de ala Brutal (David Morse), Dean (Barry Pepper) e Harry (Jeffrey DeMunn). A chegada de um novo e arrogante companheiro (Doug Hutchison) e de um delinqüente incorrigível (Sam Rockwell) é o estopim para uma série de eventos que porão à prova tanto os empregos quanto a fé da equipe liderada por Paul, encarregada de realizar a execução dos condenados à morte pela cadeira elétrica.

A longa duração do filme pode, de início, parecer intimidadora. Quando se pensa num drama sobre uma prisão e execuções na cadeira elétrica que bate na casa das três horas de duração, a primeira impressão associada é tédio. Felizmente, e isso é algo que costuma pegar de surpresa quem jamais ouviu falar de Stephen King ou do filme, a sensação que este excelente trabalho menos transmite é tédio. Não leva muito tempo para que a platéia se veja completamente absorvida pela história e por cada um dos personagens, que vivem um drama fascinante com toques fantásticos. A capacidade do homem em fazer o mal é o contraponto à simplicidade primitiva de um pária convertido a mártir que, sob qualquer ponto de vista, é colocado lado a lado com a figura do redentor máximo da humanidade, dotado da capacidade de realizar milagres e de prover a salvação a quem quer que esteja disposto a enxergar além da superfície e acreditar. Há quem se incomode com esse tipo de associação, infelizmente...

Produção impecavelmente realizada, um dos pontos que mais se destacam como fundamentais para o seu sucesso é o seu elenco primoroso. Indicado a 4 Oscars, incluindo o de melhor ator coadjuvante para o grandalhão Michael Clarke Duncan, o filme não se sustenta somente na presença cênica do astro Tom Hanks. Além do personagem de Duncan, outras presenças marcantes são a do pentelho covarde feito por Doug Hutchison, do condenado francês apegado a um rato de circo personificado por Michael Jeter e do homicida Wild Bill, papel de um Sam Rockwell em pleno anonimato pré-fama. É preciso ainda lembrar que raramente o restante do elenco de um filme foi completado com gente de tanto talento quanto em À Espera de um Milagre.

Grande expoente de uma safra de peso (leia-se épicos dramáticos de pelo menos três horas de duração) do cinema ianque de qualidade, este trabalho do superlativo Darabont integra a categoria de obras inspiradoras de apelo universal, que superam suas mínimas dissonâncias de cunho técnico-estético para cativar completamente o espectador sem que ele precise fazer força. Fantástico.

Acompanha o filme no DVD um making-of de 10 minutos e o trailer de cinema.

Texto postado por Kollision em 16/Julho/2006