Cabana Macabra (Paul Andrew Williams, 2008)
Com: Andy Serkis, Reece Shearsmith, Jennifer Ellison, Steven O'Donnell, Simon Schatzberger
Alguns filmes são tão esquizofrênicos que sem sombra de dúvida valem a sessão, por mais derivativos ou obscuros que possam ser. Cabana Macabra é um exemplo claro da categoria de filmes que merecem ser mais conhecidos, porém infelizmente acabam soterrados em meio aos inúmeros pastiches similares que não empolgam. Algumas pessoas o consideram uma cópia de O Massacre da Serra Elétrica, o que é uma injustiça. Apesar da influência vívida do clássico de Tobe Hooper em seu segundo ato, Cabana Macabra tem personalidade própria – ainda que desconjuntada – e garante boas surpresas para quem é capaz de se deixar levar por uma história simples mas bem filmada. Tudo começa quando dois irmãos (Andy "Sméagol" Serkis e Reece Shearsmith) chegam a uma estalagem no meio do nada carregando uma garota desacordada e amordaçada (Jennifer Ellison), com a qual eles planejam obter uma vultosa soma em dinheiro. A entrada de mais algumas pessoas na equação, no entanto, termina por conduzi-los a uma situação que jamais poderiam imaginar. Os fãs do gênero podem esperar uma combinação vencedora de humor negro, suspense e gore, que conta ainda com inúmeras e bem sacadas referências. A simbiose e a tensão criada entre as personalidades opostas dos irmãos larápios sustenta a história sem jamais descambar para o exagero ou a chatice.
O Enigma da Pirâmide (Barry Levinson, 1985)
Com: Nicholas Rowe, Alan Cox, Anthony Higgins, Sophie Ward, Susan Fleetwood
Para não enfurecer os puristas fanáticos por Arthur Conan Doyle, O Enigma da Pirâmide deixa bem claro em seu início e seu final que o filme é uma abstração em torno dos personagens do universo de Sherlock Holmes, um olhar sobre como teria sido a adolescência de Holmes e Watson caso eles tivessem se conhecido na escola. Obviamente, Doyle não escreveu tal história, mas é fato que suas criações encontram aqui uma das melhores caracterizações cinematográficas já feitas. Tal como manda o figurino, a narrativa é toda conduzida pelos olhos do aspirante a médico Watson (Alan Cox), que chega à escola e imediatamente conhece o astuto Holmes (Nicholas Rowe), um veterano já famoso entre os colegas e professores por sua inigualável perspicácia e inteligência. Quando uma série de assassinatos estranhos começa a acontecer na cidade, os dois embarcam na primeira grande aventura detetivesca de suas vidas. Além de ser um excelente e agradável passatempo com poucas ressalvas (como Sophie Ward no papel do interesse amoroso de Holmes), O Enigma da Pirâmide esclarece ou estabelece muito bem vários aspectos marcantes dos livros, como a origem do chapéu e do cachimbo ou o isolamento obsessivo do protagonista, decorrente de uma tragédia. A parcela aventuresca da trama remete a outro filme também produzido por Spielberg (Indiana Jones e o Templo da Perdição), enquanto a atmosfera, a cenografia e os personagens antecipam em mais de uma década tanto a prosa quanto as adaptações cinematográficas de Harry Potter. As similaridades são impressionates, e realmente fazem coçar a cabeça sobre o fato deste ótimo filme ser, em muitas instâncias, a inspiração mais contundente para o universo fantasioso criado por J. K. Rowling.
Quando os Mortos Falam (Stephen Kay, 2004)
Com: Anne Heche, Jonathan LaPaglia, Chris Sarandon, Kathleen Quinlan, Eva Longoria
Dos muitos filmes feitos para a TV, esse Quando os Mortos Falam é com certeza um dos melhores que vi recentemente. A escolha pelo formato televisivo é algo estranho para mim, principalmente quando o resultado do projeto é superior à média e não faria feio se fosse exibido numa sala grande. A história gira em torno de uma advogada (Anne Heche) que passa a ter visões estranhas quando começa a usar o anel que é presente do noivo (Jonathan LaPaglia). Tudo aponta para uma tragédia envolvendo a antiga dona do objeto, mas que relação isso pode ter com a pessoa que o está usando no presente? Quando os Mortos Falam não é espetacular mas agrada, principalmente graças ao elenco em forma e à ambientação pitoresca dos cenários de Nova Orleans. Pode haver um pouco de controvérsia sobre o fato dos mortos de fato "falarem", mas tal ideia é plantada de forma errônea pelo título brasileiro dado à obra, e mesmo que a plateia identifique com antecedência de onde vem a solução do mistério (o que foi o meu caso) o filme ainda reserva algumas surpresas antes de chegar ao seu final. A propaganda em torno da imagem de Eva Longoria nos pôsteres e na capa do DVD é enganosa, a moça tem papel periférico e nem chega a aparecer muito.
A Cela (Tarsem Singh, 2000)
Com: Jennifer Lopez, Vince Vaughn, Vincent D'Onofrio, Jake Weber, Dylan Baker
Egresso de comerciais e videoclipes, o indiano Tarsem Singh confessou que aceitou dirigir A Cela exclusivamente devido às possibilidades visuais proporcionadas pelo roteiro. É exatamente por isso que o filme agrada tanto neste quesito, sem chegar a empolgar no todo. Pesa também o fato da história ser quase uma releitura do oscarizado O Silêncio dos Inocentes. A pegadinha é que o serial killer da vez (Vincent D'Onofrio) está em coma enquanto sua vítima espera pela morte num cubículo fechado em algum lugar não determinado. Com o tempo se esgotando, o agente do FBI responsável pelo caso (Vince Vaughn) aceita submeter o cara ao procedimento revolucionário de uma médica (Jennifer Lopez) capaz de entrar na mente das pessoas, o que pode ser útil para descobrir o paradeiro da vítima. Se você for capaz de relevar a presença equivocada de J-Lo no elenco, até que A Cela não faz feio como um thriller derivativo. A curiosidade é ver Vince Vaughn num papel sério, ainda mais pelo fato dele ser a óbvia âncora de credibilidade da história. As abstrações surreais não chegam a desestruturar a narrativa principal, que jamais se fragmenta e pode decepcionar quem espera algo próximo de um esperado estilo lynchiano. Talvez seja essa a fagulha de ousadia que faltou ao filme, mas não dá pra negar que a cenografia ambiciosa de certas cenas impressiona pela beleza e ousadia.
Texto postado por Edward em 3 de Abril de 2011