REC 2 - Possuídos (Jaume Balagueró e Paco Plaza, 2009)
Com: Jonathan Mellor, Manuela Velasco, Óscar Zafra, Ariel Casas, Alejandro Casaseca
Sequência direta do inesperado sucesso Rec, este filme retoma a história praticamente onde ela termina no primeiro longa. O prédio foi completamente isolado, e agora uma equipe de militares é designada para entrar e cumprir uma missão coordenada por um agente do controle de pragas (Jonathan Mellor). O lugar continua infestado de zumbis sedentos de sangue, e quando a merda volta a acontecer o agente se revela na verdade um padre – que tem um objetivo bastante específico para estar ali. Para piorar, três adolescentes dão um jeito de furar o cerco da polícia e entrar no prédio. Considerando a premissa simples e potencialmente rasa para dois filmes, os diretores Balagueró e Plaza conseguem extrair água de pedra e enriquecem com relativo sucesso a mitologia original. As duas linhas narrativas (dos militares e dos adolescentes) convergem de forma um pouco forçada, rendem alguns momentos de tensão e culminam numa surpresa nem tão inesperada assim. Pelo menos o resultado é decente, não denigre o primeiro filme e – pasmem – deixa as portas abertas para uma outra continuação.
Inferno (Francesco Bertolini, Adolfo Padovan e Giuseppe de Liguoro, 1911)
Com: Salvatore Papa, Arturo Pirovano, Giuseppe de Liguoro, Pier Delle Vigne, Augusto Milla
Hoje mais um documento histórico do que propriamente um trabalho cinematográfico em si, Inferno tem a honra de ser o primeiro longa-metragem italiano e uma das adaptações mais fiéis para A Divina Comédia, clássico da literatura escrito por Dante Alighieri no início do século 14. A fidelidade transparece nos excepcionais valores de produção da época, que tentam reproduzir ao pé da letra as famosas gravuras de Gustave Doré para a história de Dante, que atravessa as várias camadas do inferno ciceroneado pelo poeta Virgílio. O estilo é primitivo e herdado do teatro, com cartelas de subtítulos seguidas por enquadramentos fixos onde a ação da cena se desenrola. A ousadia nos efeitos especiais e na composição de várias passagens com nudez total dos atores é o que amplifica ainda mais a aura surreal das cenas, que por si só já são de uma inegável natureza onírica. Trata-se de uma experiência histórica obrigatória para quem quer conhecer as raízes do cinema. Pena que a trilha sonora do Tangerine Dream beire o desastre, com vários trechos cantados que acabam destruindo a atmosfera de muitas cenas.
Vidas do Além (Nonzee Nimibutr, 1999)
Com: Intira Jaroenpura, Winai Kraibutr, Manit Meekaewjaroen, Pramote Suksatit, Pracha Thawongfia
Baseado em uma antiga lenda tailandesa, Vidas do Além retrata a história de um casal de camponeses no final do século 19. Mak (Winai Kraibutr) deixa a esposa Nak (Intira Jaroenpura) grávida para ir lutar na guerra. Após sobreviver quase que por milagre, ele retorna à aldeia e a reencontra já com o bebê, retomando sua vida como pai de família. Só que algo está muito errado, como vários de seus amigos tentam lhe dizer nas semanas seguintes. De boas intenções o filme está cheio, mas infelizmente ele sofre com um ritmo cambaleante e com uma exposição narrativa amadora por parte do roteiro. A cultura religiosa local tem papel muito forte na história, e o modo como o aspecto sobrenatural é caracterizado acaba indo contra a intenção de retratar uma lenda que deveria servir de exemplo para amantes de todas as épocas. Vidas do Além é um filme estranho (todos os personagens são desdentados ou têm dentes podres, provavelmente uma característica cultural da época), por vezes decididamente irritante (quanto tempo um mesmo personagem pode dizer "Má... Má... Má... Má... " sem encher completamente o saco?) e talvez tailandês demais para plateias estrangeiras (difícil entender a relação entre a sociedade plebeia e os monges budistas).
Gatinhas e Gatões (John Hughes, 1984)
Com: Molly Ringwald, Michael Schoeffling, Anthony Michael Hall, Haviland Morris, Justin Henry
Como sempre, se você quer saber como a juventude norte-americana se comportava na década de 80, nada melhor do que conferir um dos clássicos do escritor John Hughes, que estreou na direção de longas-metragens com este Gatinhas e Gatões. O título nacional é tosco e nada tem a ver com o original, mas isso pouco importa. Samantha (Molly Ringwald) está completando 16 anos e está se sentindo pior do que nunca porque (1) ninguém se lembra do seu aniversário, (2) o garoto do qual está a fim (Michael Schoeffling) não lhe dá bola, (3) sua família está à beira da loucura com o casamento da irmã marcado para o dia seguinte e (4) um nerd completamente sem noção (Anthony Michael Hall, no papel da sua vida) não larga do seu pé. É o clássico conto do patinho feio numa das mais populares roupagens cinematográficas adolescentes. Tal qual a referência hoje irreal sobre floppy disks, o filme pode parecer antiquado para os padrões atuais. Mas é ótimo constatar que ele continua sendo um deleite quando visto sob a perspectiva temporal correta, dos estereótipos exagerados às participações históricas de gente como John Cusack, que tem aqui um papel pequeno como um dos nerds da turma.
Cães de Aluguel (Quentin Tarantino, 1992)
Com: Harvey Keitel, Tim Roth, Michael Madsen, Chris Penn, Steve Buscemi
Uma das principais constatações acerca de Cães de Aluguel é o fato de Quentin Tarantino, como um diretor estreante, conseguir tirar água de pedra de valores de produção praticamente inexistentes. O filme é a história de um assalto malfadado a uma joalheria, cometido por um grupo de larápios que usam designações de cores ao invés de seus próprios nomes. Os principais componentes do grupo são Mr. White (Harvey Keitel), Mr. Orange (Tim Roth), Mr. Blonde (Michael Madsen) e Mr. Pink (Steve Buscemi), mas há vários outros malucos envolvidos na tramoia. O assalto propriamente dito nunca é mostrado, apenas o antes e o depois, que se resumem a um encontro num restaurante e ao desfecho num armazém abandonado. Tarantino estabelece aqui um estilo particular que se tornaria inconfundível, marcado por diálogos afiados, edição entrecortada, inúmeras referências à cultura pop e um olhar extremamente peculiar sobre a violência. Isso foi o suficiente para iniciar um verdadeiro culto à sua pessoa, ainda que Cães de Aluguel se mostre um pouco envelhecido nos dias de hoje devido ao minimalismo cênico e à verborragia que beira o exagero. O que mais me marcou e ainda hoje costumo mencionar é que este é o único filme que já vi onde um dos personagens sangra do início ao fim da história depois de levar um tiro!
Almas Condenadas (Harry Basil, 2006)
Com: Leah Pipes, Kristin Cavallari, Josh Henderson, Andrew Lawrence, Lou Diamond Phillips
Olhem só, um filme bucha de canhão com cara de Super Cine que está na verdade acima da média! "ATÉ OS MORTOS OS ABANDONARAM" é a frase chamativa da vez, adornando a figura sempre certeira de uma garotinha sinistra. Ela é a aparição que insiste em atormentar a adolescente Melanie (Leah Pipes), que acaba de chegar a uma cidadezinha para morar com os pais e a irmã mais velha e recomeçar a vida após sair de um tratamento de reabilitação em drogas. Girando em torno de um terrível acidente ocorrido quarenta anos atrás, onde várias crianças morreram numa pancada só, Almas Condenadas tem a audácia de misturar o esperado horror sobrenatural com um thriller whodunnit clássico, incentivando a plateia a descobrir quem está matando nos dias atuais. O roteiro vai bem até derrapar um pouco em sua reta final, mas pelo menos cumpre o que promete sem ser estúpido. O fato de Leah Pipes ser uma ótima protagonista (além de muito bonita) também ajuda a garantir a eficiência inesperada do filme.
Garota Infernal (Karyn Kusama, 2009)
Com: Amanda Seyfried, Megan Fox, Johnny Simmons, Adam Brody, J.K. Simmons
Por algum motivo estranho (que vai contra praticamente tudo e todos, da crítica especializada ao meu círculo de amigos) eu fiquei fã desse filme assim que o vi no cinema, por isso anexei-o à coleção de Blu-Ray na primeira oportunidade. Motivos para isso eu tenho vários, mas o maior deles é sem dúvida o elenco muito bem escalado. E se engana quem acha que o chamariz aqui é Megan Fox. Ela não está mal no papel da súcuba devoradora de adolescentes, mas a verdadeira razão de ser de Garota Infernal é Amanda Seyfried, que carrega o filme nas costas com uma simpatia e charme tremendos. Do primeiro momento em que ela sorri até o tórrido ensaio lésbico que ela protagoniza com Megan Fox – um dos mais sensuais de todos os filmes de grande circulação já feitos em Hollywood – Seyfried trata de se infiltrar na memória da plateia de forma indelével. Outras características que me fazem gostar do filme são as piadas certeiras feitas com a casta das gostosas-burras, com o universo pop em geral e com a obsessão pelo sucesso a qualquer preço, apesar de muitas delas infelizmente passarem despercebidas do grande público. É verdade que a roupagem de puro horror cede espaço à historieta adolescente, mas isso em nada denigre o roteiro leve e descompromissado. Dado o meu apreço por esse filme, tenho que confessar que este é mais um caso em que eu adoraria ver uma continuação.
Karatê Kid II - A Hora da Verdade Continua (John G. Avildsen, 1986)
Com: Ralph Macchio, Pat Morita, Danny Kamekona, Yuji Okumoto, Tamlyn Tomita
Depois de ganhar o torneio de karatê e mostrar que consegue finalmente escapar de levar uma surra dos valentões, Daniel-san (Ralph Macchio) leva um pé-na-bunda da namorada e decide acompanhar seu mestre Miyagi (Pat Morita) numa viagem ao Japão. Enquanto Miyagi precisa resolver as diferenças com um antigo desafeto (Danny Kamekona), o rapaz mais uma vez arranja encrenca com os valentões locais, em especial o sobrinho malvado do desafeto de Miyagi (Yuji Okumoto). Como continuação de um filme de estrondoso sucesso, Katatê Kid II pelo menos teve a boa intenção de se manter fiel à atmosfera do primeiro filme, dando mais ênfase aos relacionamentos entre os personagens que às lutas em si. De resto, a história é praticamente a mesma, só que com roupagem e ambientação diferentes. As adições ficam por conta do passado trágico de Miyagi, do novo interesse amoroso de Daniel, feito pela graciosa Tamlyn Tomita, e da canção-tema épica de Peter Cetera. Mesmo que não consiga igualar a eficiência dramática da primeira parte, Karatê Kid II complementa o filme de 1984 de tal forma que é praticamente obrigatório assistir aos dois trabalhos um após o outro. A terceira parte, realizada três anos mais tarde, é bem fraca e infelizmente não tem o mesmo charme.
Karatê Kid (Harald Zwart, 2010)
Com: Jaden Smith, Jackie Chan, Taraji P. Henson, Zhenwei Wang, Wenwen Han
Não vejo nada de errado em refazer filmes icônicos e atualizá-los para novas gerações, como é o caso do clássico Karatê Kid, dirigido por John Avildsen em 1984. A nova versão, produzida por Will Smith e estrelando seu pupilo Jaden no papel-título, é uma refilmagem pura até quase o último centímetro de celulóide, como comprovam as situações principais e mesmo muitos dos diálogos, que são reproduzidos quase sem alteração alguma. Dre (Jaden Smith) muda-se para Pequim acompanhando a mãe (Taraji P. Henson), e de cara começa a sofrer com os maus-tratos da galerinha local, que abusa do moleque sem parar na base de golpes de kung fu. Em seu auxílio surge o Sr. Han (Jackie Chan), zelador do prédio onde o guri mora e profundo conhecedor de artes marciais. Então o moleque se engraça com uma chinesinha, aprende a ser disciplinado, rapidamente se transforma num quase ninja e por fim enfrenta os malvados no tatame. Comparando a nova versão com a antiga, fica evidente que a sua maior vantagem está em aproveitar como deve a evolução cinematográfica relacionada à coreografia das lutas e à óbvia destreza real de Chan e do moleque. Tirando isso, tudo fica na sombra da aventura original, das atuações sem o mesma química à pegadinha envolvendo o treinamento inicial do guri, que soa absurdamente ridícula no novo filme. Pelo menos a essência permanece a mesma, muito embora o título Karatê Kid seja uma completa incógnita pelo fato da história estar centrada numa arte marcial completamente diferente.
Par Perfeito (Robert Luketic, 2010)
Com: Ashton Kutcher, Katherine Heigl, Tom Selleck, Catherine O'Hara, Katheryn Winnick
Par Perfeito é prova cabal de que não adianta ter boa vontade e elenco adequados se o roteiro não tem pé nem cabeça. E nem adianta tentar consertar com humor rasteiro e ação ao estilo Jason Bourne, isso só deixa o filme sem identidade e ainda mais esquecível. Katherine Heigl é a moça carente e reprimida que durante férias na França se apaixona por Ashton Kutcher, rapaz atlético e atencioso que é na verdade um assassino profissional. De uma hora pra outra o cara resolve deixar a vida de aventuras para trás e se casar com a moça, mas eis que o passado volta para assombrá-lo alguns anos depois. Um monte de gente, incluindo amigos de longa data, subitamente aparece querendo arrancar seu couro. Depois do início desastrado, que não consegue caracterizar de forma decente nenhum dos personagens, o filme até ensaia uma melhora assim que as cenas de ação começam a acontecer. Infelizmente, a partir daí a história se recusa a seguir qualquer linha de coerência, abandonando ganchos narrativos importantes sem qualquer explicação (o ex-agente renegado que deveria ser a última missão de Kutcher ou o enigma envolvendo seu chefe, por exemplo). No final, a plateia fica sem entender nada da resolução completamente retardada arranjada para o conflito, e o mais patético de tudo é constatar que a melhor coisa do filme é Catherine O'Hara, no papel da mãe alcóolatra e feliz de Katherine Heigl. Com sua indiferença mordaz, ela é a única capaz de arrancar risadas de verdade nessa enorme barca furada.
Divagações postadas por Edward de 15 a 20 de Setembro de 2010