Robin Hood (Ridley Scott, 2010)
Com: Russell Crowe, Cate Blanchett, Mark Strong, Oscar Isaac, Max von Sydow
Ridley Scott sempre teve cara e tino de teimoso. E isso fica evidente em como ele teve a pachorra de mais uma vez se associar a Russel Crowe e fazer mais uma releitura da lenda de Robin Hood. Ainda contaminado com a versão estrelada por Kevin Costner, eu não tinha a mínima intenção de conferir a versão de Scott e Crowe. A oportunidade, no entanto, surgiu, e é bom saber que ainda somos capazes de ser surpreendidos por gente de talento. Porque Robin Hood é um ótimo filme, e não tem nada a ver com a ideia que eu fazia de que a história contada seria a mesma de sempre.
Em primeiro lugar, o Robin Hood clássico só ganha a tela no desfecho do filme. O que está em praticamente todo o tempo de projeção é a gênese do personagem, que nesta versão é um soldado do exército do rei Ricardo Coração de Leão (Danny Huston) no século XII. Ele retorna à Inglaterra acompanhado de um reduzido grupo de amigos para devolver a coroa do rei morto ao seu sucessor John (Oscar Isaac), mas as circunstâncias o forçam a se refugiar no condado de Nottingham. Lá ele conhece a cortesã Marion (Cate Blanchett) e junto com ela passa a oferecer resistência à insurgência de Godfrey (Mark Strong), emissário que em nome do novo rei espalha o terror na região enquanto secretamente arquiteta uma invasão estrangeira. A aventura é empolgante, muito bem narrada e nos faz perdoar completamente a idade avançada de Russel Crowe e Cate Blanchett nos papéis principais. Afinal, se a história de Robin Hood é uma lenda, idade é o que menos importa neste caso, não?
O Último Entardecer (Wayne Wang, 1997)
Com: Jeremy Irons, Gong Li, Maggie Cheung, Michael Hui, Rubén Blades
Durante o período de desocupação da Inglaterra em Hong Kong (1997/98), um escritor estrangeiro (Jeremy Irons) acompanha as mudanças econômicas e culturais da cidade quando recebe uma notícia não muito animadora sobre seu estado de saúde. É então que ele precisa tomar uma decisão sobre o que fazer com a grande paixão da sua vida, uma chinesa (Gong Li) cujo destino está há tempos associado a um rico empresário local. Tal qual um bom vinho, a impressão que tenho de O Último Entardecer é que ele fica cada vez melhor após cada revisão, seja pelo fato de percebermos melhor as nuances da ótima interpretação de Jeremy Irons, porque o momento histórico no qual o filme se insere está cada vez mais distante ou pelos insinuantes paralelos traçados entre as trajetórias do protagonista, de sua amada e da mocinha desgarrada (Maggie Cheung) que fascina o escritor em suas andanças pelas ruas de Hong Kong. Eu gosto particularmente do inspirado trabalho de câmera do filme, que valoriza bastante a história e passa um certo sentimento de nobreza aos personagens.
A Hora do Pesadelo (Samuel Bayer, 2010)
Com: Jackie Earle Haley, Rooney Mara, Kyle Gallner, Katie Cassidy, Thomas Dekker
Refilmar um trabalho como o clássico A Hora do Pesadelo sempre foi um risco enorme. Sair-se bem de tal empreitada era algo muito difícil, e depois de assistir a esta nova versão fica bem claro que ela chegou para engrossar a fileira de remakes inúteis, que nada acrescentam ao material original. O primeiro erro foi entregar a direção a um diretor de videoclipes de primeira viagem no cinema. O segundo erro foi fazer uma cópia-carbono que no máximo troca os nomes de alguns personagens para não passar muita vergonha. O terceiro foi fincar a sola no passado de Freddy Krueger (Jackie Earle Haley), que não deveria ter tanto de si revelado - isso era o que mantinha o mistério e a tensão no clássico dirigido por Wes Craven em 1984. A história não muda: na rua Elm, um grupo de adolescentes começa a ser assombrado em seus pesadelos pela figura de um flamenguista extremamente queimado com navalhas nos dedos. O problema é que se eles "morrem" nos sonhos eles também morrem na vida real. Jackie Haley não é mau ator, mas seu Freddy não consegue ser tão assustador ou repelente quanto o Freddy de Robert Englund. Na verdade, nem o elenco e nem as cenas de impacto, como a morte de Kris/Tina, conseguem fazer sombra ao que foi concebido há mais de 20 anos atrás com muito menos dinheiro e mais competência. A trilha sonora de Steve Jablosnky, por exemplo, só ganha vida quando emula timidamente as inesquecíveis linhas compostas por Charles Bernstein. Como eu disse, a responsabilidade era grande. Tomara que na nova e inevitável sequência as coisas melhorem.
Jag - En Oskuld (Joseph Sarno, 1968)
Com: Monica Strömmerstedt, Marie Liljedahl, Casten Lassen, Thomas Ungewitter, Else-Marie Brandt
A.K.A. Inga — A adolescente que faz ruir mundos masculinos é um tema que jamais deixará de ser interessante. Inga, um dos primeiros filmes a se aventurar em apresentar uma história do tipo com fortes contornos eróticos, desvia um pouco do que acabo de escrever porque a personagem-título (Marie Liljedahl) acaba por fazer ruir não a vida de um homem, mas sim a vida de sua tia (Monica Strömmerstedt, ótima), que a adota após a morte súbita da irmã. Viúva cuja fonte de renda está sendo tragada por sua devoção a um escritor folgado e sem futuro (Casten Lassen), a tia vê na sobrinha a oportunidade perfeita para garantir a continuidade do seu estilo de vida, arquitetando uma união arranjada entre ela e um bode velho cheio da grana (Thomas Ungewitter). Obviamente, as coisas não são tão fáceis assim, para nenhum dos personagens da história. Joe Sarno é um diretor de estilo visual interessante, capaz de tecer composições de cena brilhantes. Por isso mesmo, é uma pena que suas cenas eróticas sejam um completo desastre. Pode ser que a novidade e as restrições de se mostrar nudez em película, por exemplo, tenham funcionado como um empecilho para um nível mínimo de criatividade. Marie Liljedahl é de fato um espetáculo capaz de virar a cabeça de um homem, e pelo menos isso Sarno consegue transmitir em algumas das cenas em que ela aparece. Consideradas as devidas proporções, o filme funciona, além de servir como um interessante retrato dos costumes da sociedade sueca da época.
Divagações postadas por Edward de 26 a 31 de Maio de 2010