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Filmes Vistos em Julho - Parte 2

Mang Nu - 72 Xiao Shi (Wing-Chiu Chan, 1993) 5/10

Com: Veronica Yip, Anthony Wong Chau-Sang, Anthony Chan, Fruit Chan, Alfred Cheung

A.K.A. 3 Days of a Blind Girl – Depois de passar por uma cirurgia ocular que a deixará cega por 3 dias, a esposa (Veronica Yip) de um rico médico fica sozinha em casa depois que ele viaja a negócios. Quando a empregada desaparece, ela recebe a visita de um estranho (Anthony Wong) que se mostra amigável mas rapidamente se revela um perigoso psicopata.

Quem entende do negócio sabe que Anthony Wong no papel de um psicopata já é garantia de sessão válida, apesar de todo o material de divulgação desta obra passar a sensação de estarmos diante de mais um (s)exploitation barato. Ledo engano, meus caros. O filme tenta se levar a sério, não tem nenhuma cena de nudez barata/vulgar e foi rotulado pela censura de Hong Kong como CAT II. Funcionaria muito bem como um thriller de Super Cine se não fosse pelo humor inapropriado típico dos chineses, que só cai bem mesmo em pastiches que não se levam a sério e definitivamente não se encaixa aqui. As características dignas de nota são Veronica Yip, realmente uma atriz belíssima, e trechos da narrativa que só poderiam ter sido feitos por lá mesmo (como o método usado pela protagonista para esconder a bateria do telefone).

Blink - Num Piscar de Olhos (Michael Apted, 1994) 8/10

Com: Madeleine Stowe, Aidan Quinn, James Remar, Peter Friedman, Bruce A. Young

Se existe algo de extraordinariamente sedutor na história de uma cega que passa por uma cirurgia para voltar a enxergar depois de 20 anos e imediatamente se vê envolvida numa trama onde pode ser a próxima vítima de um serial killer, no caso deste subestimado filme trata-se de ninguém menos que a belíssima Madeleine Stowe, uma das minhas atrizes favoritas de todos os tempos. O papel parece ter sido feito sob medida para ela: longe de estereótipos, com espaço para uma interpretação forte e marcante. O único com quem ela pode contar e que parece acreditar em sua história é um policial (Aidan Quinn) que, obviamente, arria as quatro rodas por sua testemunha. Convenhamos, o que você faria no lugar do cara? O lado investigativo da história demora um pouco para decolar, mas o entrosamento do elenco é acertado e colabora para que o filme seja memorável tanto como um thriller quanto como um romance. Uma menção honrosa vai também para a excelente trilha sonora de Brad Fiedel, maior responsável por conferir à narrativa um leve clima noir inicialmente evocado pelas locações de Chicago, cidade onde se passa a história.

O Ovo da Serpente (Ingmar Bergman, 1977) 8/10

Com: David Carradine, Liv Ullmann, Heinz Bennent, Gert Fröbe, Edith Heerdegen

Ver Ingmar Bergman enveredando pelo mainstream é o que mais me surpreendeu em O Ovo da Serpente. A assinatura do mestre está lá, principalmente na direção de atores, e se mescla a valores de produção ousados e muito pouco vistos em seus filmes, cortesia do nome forte de Dino de Laurentiis. David Carradine faz o papel de um trapezista americano na Berlim de Novembro de 1923, um período negro na história da Alemanha. Ele fica completamente sem rumo depois do suicídio do irmão, tendo como única conhecida na cidade a cunhada (Liv Ullmann), dançarina de cabaré que ainda não sentiu os efeitos da degradação social que assola o país.

Através dos problemas dos personagens, Bergman passa um panorama sutil e abrangente do desespero econômico que antecedeu o putsch da cervejaria, como ficou conhecido o golpe militar fracassado de um então desconhecido Adolf Hitler. As sementes do nazismo são entrelaçadas com a triste decadência da sociedade alemã, e é até refrescante perceber como o filme se mantém fiel ao estilo de Bergman sem abrir mão de alguns componentes típicos de filmes de grandes estúdios, como a presença de um vilão ou a inclusão de uma grande revelação no desfecho da história. Nunca tive muito contato com o trabalho de David Carradine, mas aqui dá para se ter uma ideia de que ele foi um bom ator, apesar do aspecto nada redentor de seu personagem em meio à característica carga emocional bergmaniana. O Ovo da Serpente se encerra fazendo jus ao tema que retrata e esfregando na cara do espectador que, apesar deste ser um trabalho mais comercial seu, Bergman não se entregou completamente à máquina de Hollywood. Um belo filme, e ainda por cima uma amarga aula de história.

Tocaia (John Badham, 1987) 8/10

Com: Richard Dreyfuss, Emilio Estevez, Madeleine Stowe, Aidan Quinn, Forest Whitaker

As comédias dos anos 80 tiveram muitos sub-gêneros bastante característicos, e um dos mais bacanas foi com certeza a comédia policial. Tocaia foi um dos grandes filmes dessa safra e, apesar de beber descaradamente de sucessos anteriores, especialmente Máquina Mortífera, se destaca do resto por uma mistura acertada como poucas de romance, risadas e ação. Richard Dreyfuss e Emilio Estevez são dois policiais de Seattle que recebem a missão de vigiar a ex-namorada (Madeleine Stowe) de um perigoso assassino que acaba de escapar de uma prisão de segurança máxima (Aidan Quinn). Seria somente mais um trabalho de rotina, se não fosse pelo fato de Dreyfuss se apaixonar perdidamente pela moça e, assim, colocar toda a operação em risco. Tudo no filme funciona muito bem (até Emilio Estevez, que sempre achei medíocre), e a direção de John Badham não deve nada ao trabalho de monstros do entretenimento como Richard Donner. Dreyfuss confirma seu tino para a comédia, e a química com Madeleine Stowe (maravilhosa!) é um achado que merece ser conferido. Sem dúvida alguma, tudo isso faz deste um dos filmes mais divertidos da década de 80.

Uma Nova Tocaia (John Badham, 1993) 6/10

Com: Richard Dreyfuss, Emilio Estevez, Rosie O'Donnell, Dennis Farina, Madeleine Stowe

Dando sequência ao ótimo primeiro filme, John Badham reúne a mesma equipe para mais um pouco das patacoadas dos detetives Chris e Bill, papéis de Richard Dreyfuss e Emilio Estevez. Desta vez, eles precisam encarar outra tocaia junto com uma advogada mandona (Rosie O'Donnell) e seu cachorro Archie para tentar encontrar uma testemunha acuada pela violência de um bandido de Las Vegas. Infelizmente, a história é obrigada a deixar um pouco de lado a maravilhosa Maria (Madeleine Stowe, em participação não creditada), que não aguenta mais a resistência do velho Chris em contrair matrimônio. Como em Tocaia, há momentos engraçados e tensos, e posso dizer também que Rosie O'Donnell se encaixou bem dentro do grupo. Uma Nova Tocaia, no entanto, não consegue a coesão comédica do primeiro filme por não trazer aquele lado romântico que havia funcionado tão bem, ou talvez seja a falta de um antagonista à altura (Miguel Ferrer, o pistoleiro, não tem a presença de um Aidan Quinn, e tem horas que dá vontade de matar a tal da testemunha desaparecida, papel de Cathy Moriarty). Por fim, é mais pelo carisma dos personagens que o filme acaba agradando, o que não deixa de ser ruim.

Halloween - O Início (Rob Zombie, 2007) SEM AVALIAÇÃO

Com: Malcolm McDowell, Scout Taylor-Compton, Brad Dourif, Sheri Moon Zombie, Tyler Mane

Nunca pedi isso em nenhum dos textos que escrevi até hoje neste site, mas hoje abro uma exceção. Se você esperou para assistir a Halloween - O Início no cinema, não faça isto. Eu imploro.

Meu pedido não tem nada a ver com a qualidade do filme, e sim com o fato da Playarte ter mutilado nada menos que 26 minutos do corte original. Sim, são 26 minutos que estão ausentes da película, com o objetivo imbecil de reduzir a censura de 18 para 14 anos. Fora estão cenas como os assassinatos de Michael Myers quando criança e muita coisa que deveria ser mostrada lá pela metade do filme. Basicamente, foram limadas as cenas mais fortes e todas as cenas com nudez.

Tomara que esta merda saia de cartaz no próximo fim de semana, que seja um fracasso hediondo e que os responsáveis por essa decisão asinina sejam assassinados com os mais psicodélicos requintes de crueldade por Michael Myers, o próprio.

Gran Torino (Clint Eastwood, 2008) 8/10

Com: Clint Eastwood, Bee Vang, Ahney Her, Christopher Carley, John Carroll Lynch

Impressionante. Já beirando os 80, Clint Eastwood mais uma vez escreveu, dirigiu e estrelou um longa-metragem de peso, que remete aos personagens truculentos que ele fizera no passado remoto - especialmente Dirty Harry. Afinal, o personagem central da história não é Dirty Harry mas bem que poderia ser. No papel de um veterano de guerra e ex-funcionário da Ford apaixonado por um modelo Gran Torino da década de 70, Eastwood encarna o tipo intragável, rabugento e inconformado com a "invasão estrangeira" que a seu ver representa a vizinhança, formada em sua maioria por imigrantes hmongs (chineses, vietnamitas, birmaneses e tailandeses). Sua opinião começa a mudar quando ele se envolve com os irmãos adolescentes Thao (Bee Vang) e Sue (Ahney Her) ao ajudá-los a se livrarem de uma gangue e se tornar o herói do bairro. A hipérbole narrativa que mostra a evolução de uma amizade improvável é completamente previsível, mas realizada com o toque de classe sempre bem-vindo de Eastwood e também com um inesperado senso de humor. No final das contas a história se fecha numa espécie de catarse reversa para tudo o que ele já representou em tantos anos vivendo personagens violentos. A atuação do elenco de apoio é com certeza o ponto mais fraco do filme, mas achei Ahney Her simplesmente uma graça, e adoraria se ela pudesse continuar sua carreira de atriz.

Divagações postadas por Edward de 22 a 30 de Julho de 2009