Suor Emanuelle (Giuseppe Vari, 1977)
Com: Laura Gemser, Mónica Zanchi, Gabriele Tinti, Vinja Locatelli, Pia Velsi
A.K.A. Sister Emanuelle — Para os desavisados (como eu antes de assistir a esse filme): Emmanuelle com dois Ms refere-se à versão francesa da personagem, popularizada por Sylvia Kristel a partir de 1974. Emanuelle, com um só M, é a sua contraparte italiana, geralmente referida como Black Emanuelle, protagonizada por Laura Gemser e produzida a partir do ano seguinte. Ambas as séries são uma espécie de cartão de visita dos filmes softcore da década de 70.
Suor Emanuelle é tido como uma entrada bastarda na seqüência de filmes da Emanuelle negra, seja por sua ambientação ou pelo tema principal, um desvio único em direção ao nunsploitation puro. Na história, Emanuelle se converteu em freira para se purificar dos pecados da carne, vivendo reclusa num mosteiro que funciona como colégio interno para adolescentes. A chegada de uma nova, bela e devassa aluna (Mónica Zanchi) desencadeia uma série de eventos que colocarão à prova a sua determinação religiosa. Como de costume, não há nada explícito em cena, com uma certa monotonia se instalando depois de algum tempo de filme. O final, no entanto, reserva uma pequena e agradável surpresa.
A Última Gargalhada (F. W. Murnau, 1924)
Com: Emil Jannings, Maly Delschaft, Max Hiller, Emilie Kurz, Hans Unterkircher
Murnau foi um dos principais cineastas do cinema mudo, e se alguém ainda tem alguma dúvida disso, basta conferir este filme. Sem qualquer cartela de legendas para diálogos, o máximo que ele usa são uma ou duas legendas que utilizam exposição prática para fazer fluir a narrativa – incluindo aquela que precede o epílogo, imposição do estúdio que o diretor foi obrigado a incorporar ao trabalho finalizado. O filme relata o drama de um orgulhoso porteiro de hotel (Emil Jannings) que é rebaixado para atendente/limpador de banheiros e vê esfacelar seu status social junto à família e à vizinhança onde mora. Marcado por cenas altamente elaboradas (como a abertura no saguão do hotel), delírios oníricos quase cômicos e um tom exponencialmente opressivo, este é um dos mais laureados e interessantes dramas realizados pelo movimento expressionista alemão. Saibam todos que, apesar de não ser uma prática usual no Brasil, lá fora o tal do toilet attendant é coisa comum, tal como uma versão gringa e legalizada dos insuportáveis flanelinhas.
O Cadáver Desaparecido (Wallace Fox, 1942)
Com: Bela Lugosi, Luana Walters, Tristram Coffin, Elizabeth Russell, Angelo Rossitto
Já durante o período em que o declínio de sua carreira era mais do que evidente, o ícone do horror Bela Lugosi protagonizou mais uma espécie de cientista louco em O Cadáver Desaparecido, uma farsa sem-vergonha que, na maior parte do tempo, não faz sentido algum. No papel de um médico e especialista em orquídeas selvagens, ele se lança numa campanha para sorver os fluidos de jovens noivas (apenas aquelas que puderem ser mortas e capturadas no dia do casamento!) e assim aplicar o soro obtido em sua esposa moribunda. Os planos de Lugosi e seus ajudantes serão confrontados por uma repórter enxerida (a bela Luana Walters) e por um jovem médico que freqüenta a casa do maluco (Tristram Coffin). À medida em que se aproxima do desfecho, a história sem pé nem cabeça sofre da usual deterioração narrativa dos pastiches da época, com diálogos prolixos e relativamente pouco ou nenhum diferencial para quem não se interessa pela figura icônica de Lugosi. Aproveitando-se do ator, percebe-se também várias tentativas do roteiro em mimetizar passagens e situações do clássico Drácula (Tod Browning, 1931). Enfim, indicado somente para os fãs hardcore do antigo astro.
Kung Fu Panda (Mark Osborne e John Stevenson, 2008)
Vozes: Jack Black, Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Ian McShane, Jackie Chan
A fórmula infalível do herói oculto sob a pele de um zé-ninguém se encontra com a também certeira estratégia de substituir os personagens por animais. Quanto mais fofinhos melhor, é claro. E que animal é universalmente mais "fofinho" – e lerdo, gordo e preguiçoso – que um urso panda? O contraste temático é o combustível primordial que move mais esta fábula de animação, ambientada na China antiga e carregada de mensagens associadas. Po (voz de Jack Black) é o tal urso, que trabalha com o pai (um ganso!) num restaurante de macarrão mas sonha dia e noite com os heróis do kung fu. Quando o ancião-mor da região o aponta como o novo mestre guerreiro, aquele que irá libertar o povo da fúria de um vilão que está prestes a surgir, as coisas ficam de pernas pro ar no mausoléu do mestre Shifú (voz de Dustin Hoffman), pois o velhinho se vê com a responsabilidade impossível de treinar seu gordo e comilão aprendiz. Para um tema tão batido, a execução é pelo menos correta. A ênfase na ação é talvez o motivo de porque não há tantas gargalhadas à vista, apesar de algumas passagens serem realmente hilariantes – a minha favorita é a do "nervo facial".
Divagações postadas por Kollision de 30 a 31 de Agosto de 2008