Tenho que desabafar e exteriorizar este meu sentimento de indignação, pois estou consternado com a morte iminente de um dos gêneros mais nobres de todos os tempos dentro do universo dos jogos eletrônicos: os jogos de navinha ou jogos de tiro, conhecidos em inglês como shooters (designação hoje genericamente empregada para essas porcarias à la Counter Strike, que são na realidade FPS shooters – de First PerSon shooters). O termo mais correto no caso da navinha, digamos, seria side scrolling shooters, cuja alcunha entre os entendidos pode ser ainda shmups (contração de shoot'em ups).
Minha admiração pelos jogos de navinha vem de tempos imemoriais, de tardes inteiras passadas na companhia de clássicos como Planet Patrol e River Raid – ou "Ríver Ráide" para a gurizada que cresceu na década de 80. O vício continuou com os consoles de 8 bits, depois os de 16, um breve período nos de 32, e então um longo hiato até que eu aterrisasse no PS2.
As décadas de 80 e 90 renderam bons tempos que não voltam mais, pois hoje todo mundo que cresceu na mesma época que eu tem responsabilidades e contas para pagar. Meu período crítico foi próximo do final do 2º grau, quando eu varava as noites na frente da TV com meu irmão, e até mesmo gravava alguns dos jogos do início ao fim em fitas VHS na velocidade de 6 horas (se não me engano havia uma sigla como SLP para esse modo de gravação, ou algo assim). Onde estão estas fitas? Em algum lugar no céu das fitas VHS, isso é tudo que posso dizer.
Minha última aquisição foi o tal do Playstation 3 da Sony, e tenho que admitir que estou de certa forma frustrado. Não porque os jogos sejam medíocres, mas porque não há um jogo de navinha sequer disponível para o console! A única boa notícia que pude encontrar a respeito pode ser vista aqui: Gradius to fly again on PS3. Enquanto isso, a ênfase absurda em jogos de primeira pessoa à la Doom e em RPGs com gráfico tridimensional permanece... Parece que nada mais é divertido de se jogar como antigamente! Os bons e velhos gráficos em 2D vão caindo em desuso completo, e com eles os tão marginalizados jogos de navinha.
Lancei-me, portanto, a uma pesquisa googleana sobre mais esta paixão que me dá tanta satisfação. Se quiserem percorrer os mesmos passos que fiz, vão aí alguns dos melhores links descobertos na pesquisa (em inglês):
E para matar a saudade de alguns dos títulos mais interessantes que já tive a chance de jogar (seja pela jogabilidade, pelo desafio, pela música ou pelos gráficos), vamos relembrar um pouquinho dos bons e velhos tempos, dos jogos mais antigos para os mais novos. Com exceção dos jogos de Atari, todos foram devidamente "zerados", alguns deles sem perder vida, sem CONTINUE e no modo VERY HARD.
Se você viveu essa era de ouro dos vídeo-games, como eu, façamos agora uma pequena viagem no tempo! Senão, tenha uma palhinha do que você não viveu e JAMAIS terá a chance de vivenciar em toda sua plenitude.
––––– Atari –––––
O jogo de tiro definitivo do Atari. Viciante ao extremo, era muito comum juntar três ou quatro cabeças e promover campeonatos que duravam uma tarde inteira. Até hoje eu ainda não me esqueci do som do avião reabastecendo o combustível ao passar sobre o ícone de FUEL. Aquela história de que no final do jogo o avião bate numa parede é, com toda a certeza, uma lenda atariana muito bem difundida.
Só agora me dei conta de que o fluxo deste jogo é da direita para a esquerda, coisa raríssima dentro do gênero. Planet Patrol se parece muito com um River Raid transposto para a horizontal e, apesar de não ter a mesma fama ou qualidade, é super divertido de se jogar. Na fase noturna, os tiros da sua nave são as únicas coisas que proporcionam alguma luz para ver os inimigos.
Os cenários são bastante simples, mas o design e a movimentação das criaturas que se multiplicam é muito bacana. O jogo é derivativo do velho e estático Space Invaders, mas é bem mais divertido.
Pizzas, hambúrgueres, doces e sei-lá-o-que-mais se movimentam e descem sobre você, que deve acertar todos para prosseguir de fase. Megamania tem um charme estranho e não parece muito atraente à primeira vista, mas experimente jogar um pouco para ver se você não vai ser fisgado.
Um dos jogos mais completos do Atari pois, além dos gráficos bacanas, do design arrojado da nave lunar e da ação intensa, o danado tem música! E não é qualquer música, é uma muito massa (reaproveitada no Paperboy do Master System, se não me engano). O mais inovador, contudo, é que trata-se de um jogo de tiro horizontal e vertical ao mesmo tempo. Clássico!
––––– Sega Master System –––––
Apesar deste não ser um jogo de navinha propriamente dito, é como se fosse. Há seis fases onde o helicóptero deve resgatar prisioneiros no campo de batalha, detonando os inimigos terrestres e aéreos. O grande desafio do jogo é a terceira fase. Muita gente desiste de continuar por causa dela. E eu não vou ensinar a "manha" de como passar fácil, fácil...
––––– Nintendo 8 bits (NES) –––––
A movimentação do helicóptero de Gyrodine é fluida e compensa a falta de criatividade dos gráficos, neste que é um jogo de tiro decente do Nintendinho. Infelizmente, é um dos que joguei muito pouco. Acho que não cheguei a terminá-lo.
Tiger Heli, como pode-se observar nas fotos mais abaixo, é o precursor de Twin Cobra. O jogo vinha com o console Top Game da CCE, e muita gente subestimou o coitado porque todos queriam o tal do Super Mario Bros. Façamos justiça, pois era um dos títulos de tiro mais bacanas do Nintendinho.
––––– Super Nintendo (SNES) –––––
São três fases de scroll horizontal e três de scroll vertical. Gráficos fenomenais para um SNES, tenho que admitir. A dificuldade nas últimas fases é simplesmente cavalar. Os chefes impressionam (como o senhor do fogo na foto), e a trilha sonora não fica muito atrás em matéria de qualidade.
––––– Sega Mega Drive –––––
Tenho que admitir que os jogos de scroll vertical não são os meus preferidos. Truxton deve ser um dos primeiros jogos lançados no Mega Drive e, apesar da simplicidade dos gráficos, ganha muitos pontos no quesitos diversão e desafio.
Gynoug (conhecido também como Wings of Wor) com certeza caiu vítima de uma má campanha de marketing. Facilmente subestimável, é preciso ir além do visual de Homem-Pássaro, da primeira fase e da música brega que a acompanha para perceber esta pérola escondida no Mega Drive. Gráficos muito bem feitos, inimigos assustadores e um alucinante fogo inimigo cujos tiros tinham velocidades diferentes na mesma tela, coisa pouco vista na época de seu lançamento.
Um jogo de aparência cool, mas dificílimo. Provavelmente um dos mais difíceis de serem zerados sem CONTINUE no Mega Drive. O restart mode em ON faz você voltar a um checkpoint determinado toda vez que você morre, e nas fases finais é quase impossível passar das ante-salas dos chefes! Uma pena que os gráficos não contenham um mínimo de tridimensionalidade.
A versão para Mega Drive é uma boa transposição do famoso arcade, e só fica devendo mesmo no departamento de som. O tiro vermelho em potência máxima varre toda a tela, e para um jogo de restart mode ON até que a jornada não é muito difícil.
Mais uma vítima de campanhas de divulgação porcas, este foi o melhor jogo de tiro da última safra de games lançados nos últimos dias do Mega Drive. Você pode ficar com o robozinho ou colocá-lo dentro do carro para se movimentar mais rápido, atirando tanto para a esquerda quanto para a direita. O jogo tem gráficos excelentes e uma jogabilidade bastante variada, e merece ser redescoberto por quem passou batido.
O fundo de ficção científica deste jogo é bacana, com uma nave orgânica que muda constantemente de forma e armas à medida em que é atingida por tiros. Os efeitos sonoros chamam a atenção pela variedade e compensam a falta de inspiração dos gráficos, mas a dificuldade é algo que espanta quem não tem muita paciência em dominar o jogo.
Twin Cobra é mais um jogo que precisa de paciência para ser apreciado. O helicóptero é grande e parece que não vai conseguir se desviar dos tiros, que não são pequenos. Foi este título que me fez iniciar a onda de gravação de jogos, pois um colega duvidava que eu terminasse o dito cujo sem CONTINUE. Mexe com quem tá quieto, mexe...
Até hoje não descobri o segredo por trás da super-arma, que turbina os tiros da nave e quintuplica o seu tamanho. Como vocês podem observar na foto, já estou na segunda rodada do jogo, com 33 vidas, e nada de super-arma... Bem, Zero Wing ficou famoso por causa de um erro estúpido de tradução do japonês para o inglês, mas o que importa é que o jogo é, fácil, fácil, um dos melhores do Mega Drive. As três últimas fases são dificílimas, mesmo no nível EASY. A música é simplesmente ESPETACULAR. Ah, se todos os jogos de nave tivessem música assim...
Pegaram o Sol-Feace do Sega CD e emendaram o "F" para que ele virasse Sol-Deace. Ninguém notou qualquer diferença no jogo em si quando ele foi lançado (juntamente com outras versões menos turbinadas de lançamentos do Sega CD, como Earnest Evans e Heavy Nova). Mas ele esbanja charme apesar da linearidade, com um tiro cujo som parece chiclete. A música é um ponto forte, como em quase todos os jogos da Wolfteam.
Jogar After Burner II com o som no talo e uma tela grande é o que há em matéria de adrenalina. A música do jogo é fenomenal, daquelas que te fazem se sentir dentro de um dos caças de Top Gun - Ases Indomáveis.
Definitivamente um dos melhores a agraciar o acervo do Mega Drive, lembro-me de quase ter feito calos nos dedos de tanto jogar. Completei todos os finais possíveis, sendo que em alguns deles sem perder nenhuma vida. E se a dificuldade já não é a mesma, uma viagem no modo VERY HARD é o que há. Além dos ótimos gráficos, o que chama a atenção é o design dos inimigos, que são todos criaturas do mar, e a boa trilha sonora.
Thunder Force III é uma tremenda evolução em relação ao segundo jogo da franquia, pois expurga as fases com vista de topo da nave. O estilo bacana jamais conseguiu ser igualado por qualquer outro jogo do console, e o único porém deste título são as fases que vêm depois das escolhas iniciais, que pecam por uma certa repetição.
Clássico absoluto do Mega Drive, um jogo superlativo em todos os departamentos: gráficos, som, jogabilidade, rapidez, desafio. Partes da trilha sonora são rock'n'roll puro (como na fase do vulcão), e alguns chefes fazem a tela tremer pelo tamanho colossal. É uma pena que a Technosoft jamais se atreveu a conceber uma versão do jogo para os consoles mais modernos enquanto estava de portas abertas. É de partir o coração ver o trailer do que teria sido um tal de Thunder Force VI para o Dreamcast...
––––– Sony Playstation 2 –––––
A dificuldade é o que há de melhor neste aqui, mais indicado aos fãs hardcore da série R-Type. Os gráficos são animais, mas há muita câmera lenta, e a música é uma grande mancada. De tão parada, parece que ela foi composta para um enterro inter-estelar ao invés de fases com muita ação e destruição.
Jogabilidade incrível, armas animais, dificuldade crescente e música empolgante. Não conheço as versões anteriores de Gradius para os outros consoles, mas este é provavelmente o melhor jogo de nave do Playstation 2. A fase dos meteoros é de uma tensão absurda – e aquele chefe que te força a se esconder atrás dos pedregulhos quando vem a saraivada de tiros? Um dos momentos MAIS bem concebidos de todos os tempos nos jogos de nave!
Devo ter me esquecido de algum jogo aí. Fica pra próxima retrospectiva, ou talvez para um projeto mais ambicioso relacionado a games.
Texto postado por Kollision em 24 de Agosto de 2007