Este mês de outubro foi marcado principalmente por duas maratonas interessantes e absolutamente distintas.
Com a morte de Christopher Reeve, o mais marcante intérprete do Super-Homem nos cinemas, eu tive que fazer uma recapitulação dos filmes do homem de aço, e assisti aos três primeiros consecutivamente, todos na mesma semana. É uma pena que a parte IV ainda não tenha sido lançada em DVD, pois eu gostaria de ver de fato se esta é a pior de todas, já que Superman III (Lester, 1983) envelheceu terrivelmente e é, de longe, o pior dos três primeiros filmes estrelados por Reeve. Em contrapartida, Superman II (Lester, 1980) mantém-se firme na briga pelo posto de melhor adaptação de HQs de todos os tempos, junto com obras como O Corvo, Homem-Aranha 2 e X-Men 2.
A segunda maratona, bem menos pipoca e mais cerebral, foram os quatro filmes do pacote de DVDs de Martin Scorsese. Três deles do início de sua carreira, atestando a competência ímpar do diretor, e a quase obra-prima Depois de Horas (1985). Caminhos Perigosos (1973) é a evolução natural de Quem Bate à Minha Porta? (1968). Filmes interessantes e embrionários dentro da filmografia do homem. Já Ellen Burstyn dá um show em Alice Não Mora Mais Aqui (1974), numa obra menor que, mesmo assim, é bem melhor que muita merda melodramática produzida na época.
A ação meio que pasteurizada de A Supremacia Bourne (Greengrass, 2004) garantiu o valor do ingresso no cinema. A segunda parte da saga de Quentin Tarantino, Kill Bill Vol. 2 (2004) chegou para fechar com chave de ouro a história da Noiva de Uma Thurman, confirmando a presença de Tarantino no rol de diretores mais talentosos e originais surgidos nos anos 90. Já são se pode dizer o mesmo do suspense Mar Aberto (Kentis, 2003), obra controversa que tem suscitado discussões similares às que surgiram após o lançamento de A Bruxa de Blair (Myrick/Sanchez, 1999). Justiça seja feita: o único aspecto em que A Bruxa de Blair é inferior ao filme de 2003 é a produção mais caprichada deste último. Assistam Mar Aberto e tirem suas conclusões. Para mim, não passa de mediano com algumas seqüências legais e só (como a do final). E, para aqueles que freqüentam cinemas apenas para levar as gatinhas e ver alguma coisa "maneira", passem longe.
Interessante é a relação entre as comédias vistas este mês. Pastiche adolescente até o tutano, 10 Coisas Que Eu Odeio em Você (Junger, 1999) nunca deixará de ser simpático e agradável de se ver. Já Regras da Atração (Avary, 2002) subverte o sub-gênero de forma controversa, e também é outro filme que causa opiniões tão distintas quanto a máxima "ame ou odeie" permite. Talvez distanciando-se um pouco da comédia propriamente dita, assume um tom dramático tão disfarçado quanto as intenções de seus personagens. E sim, Com A Bola Toda (Thurber, 2004) é palhaçada descerebrada do começo ao fim, perfeita para arejar a cabeça e garantir uma hora e meia de puro besteirol. Correndo por fora dentro do gênero aparece o excelente longa argentino O Filho da Noiva (Campanella, 2001), que merece mesmo todos os elogios que amealhou quando do seu lançamento fora da terra de Diego Maradona. Drama e graça se misturam numa história envolvente como poucas.
Os demais filmes, por suas datas de lançamento, assumem tons de clássicos. Suspiria (Argento, 1977) é uma ode ao estilo visual de um diretor aplicado ao cinema de horror. Precisa ser conhecido por todos os fãs do gênero, urgentemente. Epidemia de Zumbis (Gilling, 1966) não escapa do lugar-comum, mas tem a seu favor alguns bons momentos e o tom nostálgico da então definhante produtora inglesa Hammer.
Um dos melhores filmes que já assisti em toda a minha vida, A Felicidade Não Se Compra (Capra, 46) deveria entrar fácil, fácil em qualquer lista das 10 melhores obras cinematográficas de todos os tempos. Incrível como demorei tanto tempo para pôr os olhos nesta preciosidade.
O Garoto (1921) é o cartão de visita do terceiro volume da coleção Chaplin, lançada pela Warner. Obra-prima indiscutível, lança o personagem de Carlitos no mundo dos longa-metragens aliando drama e pastelão de forma sublime. A seguir Chaplin se arriscaria fazendo um drama sério, Casamento ou Luxo - Uma Mulher em Paris (1923), que naufragou nas bilheterias mas até a sua morte se mantinha como um de seus filmes preferidos. Interessante de se ver, mas sem o diferencial que marcou muitas de suas outras obras. Jackie Coogan, o moleque que rouba a cena de Carlitos em O Garoto, aparece no filme My Boy (Austin/Heermann, 1921), realizado logo após o longa de Chaplin e testamento indelével do talento de Coogan quando criança. Este filme pode ser visto na seção de extras do DVD de O Garoto. Infelizmente, ainda não foi possível ver Um Rei em Nova York, penúltimo longa realizado por Chaplin. Tempo é um luxo que está escasso ultimamente.
E de novo é John Williams quem tem a trilha sonora mais detonante de todos os filmes assistidos. É claro que estou me referindo a Superman - O Filme (Donner, 1978). Existe uma edição dupla turbinada desta trilha, que infelizmente só pode ser encontrada fora do país ao custo de U$22,00 (na Amazon.com, por exemplo). Taí uma extravagância que estou quase disposto a cometer. As composições de Charles Chaplin para seus próprios filmes merecem destaque à parte. A música do terror Suspiria também assumiu aspecto de "clássica", graças ao trabalho conjunto de Dario Argento e da banda The Goblins. Tudo bem que Letters to Cleo marca uma ótima presença na coletânea de 10 Coisas Que Eu Odeio em Você, mas é um pecado deixar de fora a canção Can't Take My Eyes Off of You, cantada por Heath Ledger numa das passagens mais bacanas do filme.
Texto postado por Kollision em 2/Novembro/2004