Originalmente intitulado somente A Face do Demônio, este filme tem como maior atrativo o fato de ser a despedida da estrela Joan Fontaine das telas de cinema, depois de uma glamorosa carreira que inclui até um Oscar de melhor atriz por Suspeita (Alfred Hitchcock, 1941). Um fato ainda mais curioso é que foi ela quem comprou os direitos do livro no qual o filme se baseia, levando-os em seguida à produtora Hammer, famosa por produzir filmes de terror a toque de caixa. Infelizmente para ela, o resultado da obra do diretor Cyril Frankel não passa do sofrível.
Depois de passar por uma experiência traumatizante envolvendo bruxaria no meio da selva africana, a professora Gwen Mayfield (Joan Fontaine) encontra um novo trabalho num vilarejo da Inglaterra, após convite do mais proeminente habitante do local (Alec McCowen). Gwen inicia seu trabalho com garra, mas não demora a perceber alguns sinais estranhos relacionados ao mesmo mal que a acometeu no passado, desta vez com crianças envolvidas. Aliando-se à irmã de seu empregador (Kay Walsh), ela inicia uma investigação que pode levá-la novamente à mesma loucura da qual havia escapado com tanta dificuldade.
Típico pastiche Hammer, o filme é conduzido com completa falta de personalidade por seu diretor, que ainda por cima não consegue (ou enfia os pés pelas mãos mesmo) concatenar com um mínimo de habilidade algumas das passagens mais confusas do roteiro. Quando a protagonista sofre um revés diante das forças ocultas lá pelo meio do filme, por exemplo, demora para que fique claro se o que está se vendo é um flashback ou a seqüência direta dos eventos que a conduziram até ali. O defensor do filme (se houver algum solto por aí, vai saber...) pode alegar que houve uma tentativa de confundir o espectador em prol do mistério da narrativa, o que infelizmente não se justifica porque o estratagema utilizado simplesmente não funciona. Isso sem mencionar a enrolação à que a platéia é submetida ao longo que todo o filme, que só consegue mesmo despertar algum interesse em seu clímax algo bizarro. O final da história é imbecil, mas a catarse de bruxaria mambembe vale a sessão para aqueles que não deixam passar em branco uma estranheza de baixo orçamento.
Joan Fontaine, isso é fato, traz um quê de dignidade que não permite que A Face do Demônio seja jogado na lata de lixo de minhas apreciações cinematográficas. A senhora Fontaine esbanja charme no alto de seus 50 anos, com uma performance que chega a ser tocante em determinados momentos. O elenco coadjuvante é de dar medo de tão inexpressivo, e nem mesmo as crianças, que geralmente costumam ser veículos convenientes quando utilizadas em histórias do tipo, conseguem ajudar na construção de qualquer clima. Sabe-se lá o que teria sido do filme se ele não tivesse ido parar em alguma divisão poeirenta da produtora inglesa Hammer, então no início de sua decadência criativa.
A seção de extras do filme traz como extras dignos de menção somente biografias curtas de Joan Fontaine e Kay Walsh.
Texto postado por Kollision em 10/Maio/2006