Há quase quatro décadas, o diretor Martin Scorsese terminava seu trabalho final de faculdade, um filme experimental com o título de Bring on the Dancing Girls. Realizado com recursos parcos ou mesmo inexistentes, contou com a participação de Harvey Keitel em início de carreira, respondendo a um anúncio de jornal solicitando atores para participar de projetos de filmes universitários. Anos depois de concluir o curso, Scorsese e os envolvidos no trabalho resolveram filmar cenas adicionais e lançar o filme comercialmente com o título de Quem Bate à Minha Porta?. A obra de faculdade imediatamente atraiu a atenção do meio cinematográfico em geral. Críticos renomados elogiaram o filme de forma bastante eloqüente, e o caminho estava aberto para as futuras obras da mais nova promessa cinematográfica da época. De lá para cá, Scorsese construiu uma carreira quase irretocável, sendo atualmente considerado de forma unânime um dos maiores diretores de cinema em atividade.
A história deste filme gravita em torno de JR (Harvey Keitel), um jovem que vive em Nova York quase todo o tempo em companhia de dois amigos fanfarrões, envolvido em jogos, farras com mulheres, brigas e bebedeiras. Ele conhece uma garota (Zina Bethune), com a qual lentamente se envolve. Disposto a abandonar a vida desregrada com prostitutas e se dedicar a ela de uma forma mais séria, JR tem no entanto que confrontar seus valores para se adequar a uma vida à qual não está nada acostumado.
Embora marcado pelo característico tom ainda cru de um trabalho universitário, o filme é interessante e possui várias das características que viriam a definir o trabalho de Scorsese. O universo machista, a violência urbana, os diálogos incisivos e as conotações religiosas estão presentes, destilados ao longo da trajetória dupla do personagem principal. Dupla porque, num interessante jogo de edição, o diretor impede que a relação dele com a garota e com seus amigos se choquem. A impressão que fica, até certo ponto, é que são duas histórias diferentes sendo contadas ao mesmo tempo, de tanto que JR isola as duas realidades em que vive. É evidente como a história é contada em função dele, e a maior prova disso é que o nome da garota não é mencionado nem ao menos uma vez ao longo de toda a película! O clímax, quando os valores pessoais de JR finalmente se chocam com a realidade de sua relação, é chocante em sua simplicidade, dando ao filme seu definitivo valor dramático.
Na seção de extras há um making-of curto de 12 minutos, narrado pelo diretor assistente Mardik Martin, que traz curiosidades sobre o filme e joga luz sobre algumas das dificuldades enfrentadas pela equipe durante a produção.
Texto postado por Kollision em 4/Outubro/2004