Grande êxito na época de seu lançamento, A Vida É Bela tornou o comediante italiano Roberto Benigni mundialmente famoso. O fascínio da comunidade internacional foi tão grande que Benigni chegou a receber o Oscar de melhor ator por sua performance neste filme, que amealhou ainda as estatuetas de melhor roteiro original e melhor filme estrangeiro (estragando a festa do brasileiro Central do Brasil). Fábula romântica e anti-belicista, insere-se naturalmente dentro na mesma categoria de obras como O Grande Ditador, de Charles Chaplin, ao qual Benigni é às vezes comparado. A verdade é que não é para tanto. Mas há, sim, grandes qualidades no filme do italiano.
Em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial, Guido (Benigni) chega a um vilarejo acompanhado de seu amigo poeta, para trabalhar como garçom no restaurante do tio. Ele logo se apaixona pela professora da escola local (Nicoletta Braschi), e faz de tudo para conquistá-la em meio a momentos de puro pastelão e até mesmo certo exagero. Seis anos depois, já casado com sua amada e com um filhinho pequeno, Guido vê sua família ser arrastada para um dos campos de concentração alemães. Disposto a não deixar que o filho se aperceba dos horrores dos momentos finais da guerra, ele faz de tudo para maquiar a realidade do garoto, transformando-a numa espécie de gincana de férias.
A proposição de fábula insinuada na segunda metade do filme exige uma certa pré-disposição da platéia em relevar alguns absurdos claros. Isso fica mais fácil pelo fato de haver aqui uma distinção extremamente clara entre o primeiro e o segundo atos da história, que poderiam muito bem ter sido contados em filmes diferentes. A ameaça alemã está à espreita em toda a primeira e romântica parte, mas jamais dá a perceber que passará disso, uma ameaça apenas. Quando a linha do tempo acelera a situação muda bruscamente, ainda que mantendo o tom humorístico. É então que a sensibilidade do roteiro apresenta seus melhores momentos, entre eles a seqüência em que o garoto cisma que quer ir embora e a ocasião em que Guido reencontra seu amigo alemão, um médico fanático por adivinhações. O castelo de cartas erguido pelo palhaço que faz acreditar que a guerra é uma diversão parece indestrutível, mesmo quando o desespero começa a tomar conta dos alemães e as vidas de todos no campo de concentração ficam à mercê do acaso.
Há mérito na interpretação de Benigni? Com certeza. O suficiente para um Oscar de melhor ator? Não exatamente. Como o dedo dele está em todo o filme, e pelo fato da obra ser extremamente tocante, o Oscar de filme estrangeiro foi merecido. O garotinho que faz Giosué, seu filho, também está muito bem, e a trilha de Nicola Piovani é um espetáculo à parte.
O DVD apresenta como extras as biografias de Benigni e da esposa Nicoletta Braschi, notas de produção, o trailer do filme e muitos, muitos trailers de outros títulos lançados pela Imagem Filmes, muitos deles herdados do selo Grupo Paris Filmes.
Texto postado por Kollision em 1/Dezembro/2004