O Monstro, escrito, dirigido e interpretado pelo italiano Roberto Benigni, é uma comédia ao melhor estilo pastelão, ao mesmo tempo carregada de humor negro. O filme foi produzido três anos antes do maior sucesso do cineasta (a comédia dramática A Vida É Bela, de 1997) e, assim como todo o resto da filmografia de Benigni, passou a encontrar maior público quando esta última obra ganhou projeção mundial ao vencer o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Loris (Benigni) é um desocupado que vive de bicos proporcionados por um amigo. Num destes trabalhos, sua libido de pateta acaba fazendo com que ele seja confundido com o tal 'monstro' do título, um estuprador e serial killer que vem espalhando o terror na cidade. O obcecado psiquiatra da polícia (Michel Blanc) elabora então um intrincado plano para pegar o monstro com a boca na botija, utilizando para isso a policial Jessica (Nicoletta Braschi). Disfarçada, Jessica se infiltra no apartamento de Loris, disposta a fazê-lo perder o controle de seus ímpetos homicidas e entregá-lo nas mãos de seus superiores.
A proposta do roteiro escrito pelo próprio Roberto Benigni é clara: fazer rir sem compromisso, sustentando-se na patetice de um personagem que sobrevive dia após dia sem ter perspectiva alguma na vida. Se pensarmos bem, essa é a máxima que permeia quase todos os filmes de Charles Chaplin. Até certo ponto, o esforço de Benigni é bem-sucedido. O que leva o filme para baixo são os visíveis exageros de seu personagem, como as gesticulações que às vezes vão do inútil ao doentio, ultrapassando o limite do bom senso e até mesmo retardando o ritmo do filme. O lado bom é que as piadas de conteúdo sexual são inocentes, leves e não ofendem. Além de algumas boas situações criadas, há pelo menos três ou quatro passagens realmente hilariantes, como a apresentação da missão às agentes femininas de plantão, o final da subida da policial ao apartamento de Loris ou a esposa do psiquiatra presa na janela enquanto o pobre 'monstro' tenta salvá-la.
A trilha sonora do longa é adequada, e a animação legal de abertura estabelece um clima agradável logo de cara. Porém, a ênfase que o cineasta italiano imprime ao lado comédico de sua história não é refletida nos aspectos técnicos do filme. A escolha e o uso das técnicas de fotografia não esconde o baixo orçamento da produção, que carece ainda de locações mais elaboradas. A verdade é que, se não fossem os bons desempenhos do elenco, tudo descambaria para um filme B completamente descartável. Há que se dar mérito a Roberto Benigni pela concepção de um conto bobo, mas capaz de proporcionar genuínas risadas ao longo de pouco mais de uma hora e meia.
O filme que vem no DVD da Versátil tem alguns minutos a menos que a duração oficial, e curiosamente possui todos os créditos em francês (o título, por exemplo, aparece como Le Monstre). Existe uma versão francesa do filme, com edição/direção creditada, além de Benigni, a um tal de Michel Filippi. Aparentemente, é esta a cópia disponível em terras tupiniquins, que pelo menos parece não comprometer em nada a obra original do italiano. Os extras do DVD se resumem às biografias de Benigni e sua esposa Nicoletta Braschi, além do trailer de cinema.
Texto postado por Kollision em 6/Junho/2005