Um diretor consagrado. Um elenco de peso. Uma premissa interessante. É lógica a afirmação de que a combinação desses fatores deveria resultar num filme bom, para dizer o mínimo. Mas não é o que ocorre com A Cidade dos Amaldiçoados, que fica bastante aquém do que poderia ser e atesta a perda de sensibilidade do diretor John Carpenter com o gênero fantástico, ao qual ele já contribuiu de forma bem mais competente no passado. Vale lembrar que esta é uma refilmagem de um filme homônimo dirigido por Wolf Rilla em 1960, e pretendia atualizar o tema subliminar da guerra fria e da invasão alienígena para os dias atuais. Enquanto o original tendia mais para a ficção científica, o foco nesta nova produção é mesmo o horror. Mas o resultado é, apesar de todos os esforços, decepcionante.
Certo dia, numa cidadezinha do interior dos Estados Unidos, todos os seus habitantes sofrem um desmaio súbito e inexplicável, permanecendo fora do ar por exatamente seis horas. Quando voltam a si, os médicos descobrem que várias mulheres ficaram grávidas exatamente durante este período (inclusive uma jovem virgem). Essa estranha gravidez coletiva é acompanhada de perto por pesquisadores do governo e, quando as crianças nascem e se desenvolvem, coisas muito estranhas começam a acontecer à sua volta.
Desde a história pasteurizada e incrivelmente quadrada até a falta de lógica em muitas de suas passagens (principalmente durante o crescimento da criançada), o filme não acerta em quase nada. Fica devendo sustos, fica devendo tensão e, o mais importante, fica devendo uma explicação razoável para o fenômeno que ocorre no início do filme. O elenco capitaneado pelo ex-Superman Christopher Reeve (em seu último filme antes do acidente que o deixou numa cadeira de rodas) e que tem ainda as belas Kirstie Alley (Olha Quem Está Falando) e Linda Koslowski (Crocodilo Dundee) não derrapa mas também não acrescenta nada, talvez pela falta de opções do roteiro.
Uma única cena é realmente interessante e assusta: a primeira demonstração de maldade da filhinha de Christopher Reeve, ao usar seu poder e fazer a própria mãe mergulhar o antebraço numa panela de água fervente. O olhar maquiavélico da garotinha é digno de nota, o que não se pode dizer das suas versões mais crescidinhas, que dominam a segunda metade do filme. Aí está outro ponto que contribui para a perda do impacto: os efeitos especiais dos olhos das crianças são exagerados demais. Um pouco mais de discrição e clima teria sido bem mais eficiente que luzes de efeito quase estroboscópico.
A seção de extras do DVD contém o obrigatório trailer, notas de produção e biografias do diretor e dos principais atores.
Texto postado por Kollision em 8/Agosto/2004