Uma das curiosidades pelas quais o filme As Filhas de Drácula mais é lembrado hoje em dia é o fato dele ser estrelado pelas primeiras gêmeas a serem capa da revista Playboy, isso no ano de 1970. Ser o terceiro filme de uma trilogia baseada no trabalho do escritor irlandês Sheridan Le Fanu quase não conta, já que não há praticamente vínculo algum com as obras anteriores, a não ser o nome da linhagem de vampiros que atormenta uma região inóspita do velho mundo: os Karnstein. O que é ainda mais estranho é que não dá para se ter idéia alguma de situação temporal na história, que provavelmente deve se passar antes dos eventos mostrados em Carmilla - A Vampira de Karnstein e sua seqüência, Luxúria de Vampiros.
Após perderem os pais, as gêmeas Maria (Mary Collinson) e Frieda (Madelaine Collinson) passam a viver sob a tutela de seu tio Gustav Weil (Peter Cushing). Maria é boazinha e obediente, enquanto Frieda tem a personalidade explosiva, lasciva e inquieta, do jeito que o diabo gosta. Weil é um extremista religioso que lidera uma polícia local de caça às bruxas, responsável por queimar na fogueira jovens inocentes acusadas de compactuar com o demônio. Um de seus inimigos é o conde Karnstein (Damien Thomas), um nobre acobertado pelo rei que vive em pecado e desdenha de todas as atividades de Weil. Sua busca pelo caminho das trevas coincide com o interesse de Frieda em conhecer seu castelo, o que dá origem à terrível linhagem vampírica da família Karnstein.
É preciso relevar algumas inconsistências deste filme em relação ao mito dos vampiros da forma como ele é comumente conhecido. A inclusão do nome "Drácula" na tradução do título passa uma idéia errônea sobre a história, que nada tem a ver com o famoso conde da Transilvânia. Aqui, os vampiros podem não ter reflexo no espelho, mas saem sob a luz do sol sem nenhuma preocupação com sua tenra pele imortal. Não sei se isso é característica do texto de Le Fanu. São detalhes que passam despercebidos do espectador médio, mas não dos aficcionados. Felizmente, isso não chega a ferir a narrativa, que desta vez traz a onipresente Mircalla Karnstein apenas numa participação especial. A vampira é personificada por uma tal de Katya Wyeth (Ingrid Pitt declinou o convite para reprisar o papel) e contém uma emblemática cena de dissimulação que se passa durante a surreal seqüência de sexo com o conde Karnstein. Mais precisamente, a simulação de masturbação com uma vela!
Independente dos detalhes vampíricos, este é, indubitavelmente, o melhor dos três esforços da Hammer em adaptar a fonte de Sheridan Le Fanu para o cinema, desde o roteiro mais sólido até as belas moças que lideram o elenco. Ambas as gêmeas Collinson foram dubladas, mas isso pouco importa diante do carisma que elas deixam transparecer em cena, transmitindo de forma razoável a diferença de personalidades que a história exige. Outros motivos que deixam clara a superioridade deste filme em relação aos outros dois é a definição consistente entre o bem e o mal, ainda que esta seja maculada pela visão deturpada de justiça do personagem de Peter Cushing, que confirma aqui seu talento como um dos melhores atores que já trabalharam no gênero. A ameaça representada pelo nome Karnstein toma uma forma mais física através da performance enérgica de Damien Thomas, sustentando o dinamismo que faltava às narrativas anteriores. Apesar da tão esperada nudez das moças do filme não ser tão generosa, ela não decepciona quando é mostrada. Aparentemente, o diretor John Hough decidiu ousar no maior número de tomadas com violência e gore, principalmente na emocionante seqüência do clímax.
Com uma boa trilha sonora e excelente uso dos recursos técnicos existentes na época (fotografia e efeitos), esta é uma obra essencial dentro da filmografia dos estúdios Hammer. Decepcionante é a edição em DVD do filme, mais um daqueles lançamentos apressados que vêem completamente desprovidos de extras.
Texto postado por Kollision em 15/Janeiro/2006