Revisto em DVD em 26-NOV-2010, Sexta-feira
Na primeira vez em que vi Teorema, alegadamente um dos melhores trabalhos (de acordo com a crítica especializada) do italiano revoltado Pier Paolo Pasolini, tive vontade de jogar o DVD fora de tanto que odiei o filme. Depois de muito tempo e de muita quilometragem com filmes dos mais variados tipos, eis que decidi revê-lo como olhos mais experientes. Na história, uma família burguesa italiana recebe como hóspede um rapaz (Terence Stamp). Carismático e bem apessoado, não demora muito e ele logo está mandando ver em todo mundo da casa: na empregada, na filha, no filho, na esposa e até mesmo no chefe da família, um rico e austero empresário (Massimo Girotti). Por "mandando ver", refiro-me exatamente àquilo que você, leitor, está pensando. Mas não vá muito longe, toda a ação permanece implícita e sutileza é o mote de todo o roteiro. Independente de sua presumida eficiência narrativa, surreal ou crítica, Teorema é uma demonstração ímpar de sarcasmo extremo, cujo senso crítico deve ser intimamente estudado em conjunção com o panorama político da Itália na década de 60. Só assim para admitir a ideia aqui proposta para a desestruturação familiar, cujos personagens carecem de qualquer individualidade e só a adquirem de acordo com o ponto de vista deturpado do diretor - as mulheres são como putas no cio e os homens homossexuais reprimidos, todos vivendo dentro de uma redoma desesperadamente vazia. Inicialmente sem qualquer arremedo subjetivo, o filme vagueia por meandros delicados e ao final descamba para um emaranhado surreal digno dos trabalhos mais crípticos de Buñuel. As interpretações possíveis são inúmeras, desde que o espectador consiga aguentar a insuportável aridez do todo. Porém, se há uma coisa que Teorema faz bem é despertar uma curiosidade genuína sobre os demais filmes de Pasolini. Pelo menos isso...
O disco tem como extras uma extensa galeria de pôsteres e fotos de vários filmes de Paolini, além de biografias do diretor e do elenco principal e de uma amostra do roteiro.