Assim como o homônimo (em inglês) Esposas em Conflito (Bryan Forbes, 1975), Mulheres Perfeitas é baseado numa história do mesmo autor de O Bebê de Rosemary. Sua abordagem é, no entanto, radicalmente diferente das outras versões literária e cinematográfica, enveredando pela comédia de costumes pasteurizada e completamente deficiente de identidade. Nem a presença de grandes nomes no elenco é suficiente para salvar o filme de um pequeno desastre, o que é uma pena em se tratando do diretor Frank Oz.
Quando a alta executiva de uma rede de TV Joanna (Nicole Kidman) sofre um colapso nervoso em decorrência do fracasso de um de seus reality shows, seu marido (Matthew Broderick) acata a sugestão dos médicos e muda-se com ela e com os dois filhos para a pequena cidade de Stepford, em Connecticut. A rotina de cidade pequena é um pouco mais estranha do que Joanna pensava, já que praticamente todas as mulheres do lugar comportam-se como esposas devotas e submissas diante de seus maridos, sempre arrumadinhas e dispostas a fazer de tudo para agradá-los. Eventos cada vez mais estranhos deixam-na com a certeza de que há algo errado na cidade, algo que nem seu marido talvez possa ser capaz de perceber.
Parecia que o filme estava fadado ao fracasso muito antes de vir a público e estrear nos cinemas. Há inúmeras histórias envolvendo diversas versões e cortes para o filme, que foi literalmente limado durante as exibições-teste e chegou a obrigar Nicole Kidman a fazer tomadas adicionais enquanto já trabalhava em outro longa. Sub-tramas inteiras foram extirpadas e alterações cruciais foram feitas à história, que terminou perdidamente retalhada. Frank Oz parece ter simplesmente desaparecido por trás de uma colagem insípida de cenas sem vida, numa obra que se apresenta como comédia e, no meio do caminho, resolve querer mudar de rumo e tentar melhorar algo que já não tinha lá muita graça. Pelo menos o rumo catastrófico que transformava o filme numa espécie de Inspetor Bugiganga foi evitado, como pode ser comprovado na coletânea de cenas excluídas do DVD.
O início até que é promissor, com uma paródia engraçadíssima sobre o mundo irritante dos reality shows. Nicole Kidman passa a impressão de que algo estupendo está para se descortinar diante dos olhos do espectador. Triste mesmo é constatar que basta Matthew Broderick entrar em cena para que a coisa comece a desandar. Não há empatia, não há química e não há muito humor a partir de então. Referências cheias de graça a outros filmes e atores parecem ser a única coisa capaz de esboçar um sorriso, ainda que pálido. O desfile de grandes nomes no elenco (Glenn Close, Christopher Walken!!!) soa como desperdício, num pastiche cujo maior destaque acaba sendo Roger Bart, no papel do gay cujo par é admitido como igual no círculo masculino de Stepford. No final, a adaptação não é nem machista nem feminista, como dubiamente suscitava o suspense feito na década de 70, e sim bastante fraca, desapontadora e inútil.
Os extras consistem de um making-of de 20 minutos, 6 cenas estendidas/excluídas, 4 min. de erros de gravação, dois trailers e quatro featurettes de 4 a 10 min. discorrendo sobre o significado herdado pelo termo "stepford", a elaboração do remake, as mulheres e os homens de Stepford.
Texto postado por Kollision em 17/Novembro/2005