Esta primeira adaptação do livro de Ira Levin, também autor de O Bebê de Rosemary, aposta mais ou menos no mesmo estilo de horror psicológico do sucesso de Roman Polanski. Não dá para revelar muito da história sem entregar sua essência, já que este é mais um daqueles trabalhos onde praticamente 80% do que é mostrado serve tão-somente à construção e à antecipação do famoso final desconcertante e, por que não dizer neste caso, apocalíptico.
Na pacata cidadezinha de Stepford, as casas e os gramados perfeitos refletem a harmonia das famílias que lá vivem e, em especial, a especialidade das mulheres prendadas do local. Quando Joanna (Katharine Ross) muda-se de Nova York para lá com o marido (Peter Masterson) e as filhas, ela é tomada de perplexidade diante da postura caseira e submissa de todas elas. Ela e sua única amiga (Paula Prentiss) tentam descobrir e mudar a causa de tal comportamento, quando começam a suspeitar que todas estão sendo controladas por algum tipo de droga ou força misteriosa. Enquanto isso, os maridos se fecham numa espécie de clube masculino local e se limitam a ignorar qualquer suspeita estranha.
A beleza setentista das heroínas ajuda a manter o interesse pelo desenvolvimento lento do roteiro. Desde o início é deixado bem claro que há algo errado com a cidade, embora os obstáculos colocados diante da protagonista só se mostrem reveladores lá para mais da metade do filme. Pelo fato dele ter sido produzido na década de 70, é compreensível que a ênfase nos relacionamentos sexuais entre marido e mulher tenha sido somente arranhada numa cena sugerida, e não tenha sido mostrada de forma mais aprofundada. O que é uma pena, considerando o modo como isso teria denotado ainda mais o envolvimento e a motivação dos homens dentro do contexto geral do mistério. Afinal, há algo mais de errado em Stepford além da descoberta estarrecedora que a personagem de Katharine Ross faz logo no início da seqüência final de Esposas em Conflito. O mal que aflige as irretocáveis esposas da cidade tem uma origem sim, mas os aspectos mais profundos sobre estas origens não chegam a ser esmiuçados. Minha sensação é de que faltou um pouquinho mais de ousadia, o que com certeza teria valorizado mais a película.
Apesar de terem estruturas parecidas, o filme nem de perto chega a ter a força de O Bebê de Rosemary, realizado seis anos antes. A maior qualidade de Esposas em Conflito é a sua seqüência final, que sai um pouco dos trilhos em matéria de verossimilhança, mas entrega pelo menos dois momentos de grande requinte macabro. Quem diria que seria possível ver isso num filme declaradamente tão feminista?
Além do trailer original, a seção de extras vem com um making-of de cerca de 17 minutos que traz entrevistas recentes do diretor, do produtor e de todo o elenco principal do filme. Nele é possível ter uma idéia de como o choque entre o roteirista, o produtor e o diretor impactou no resultado final da película.
Texto postado por Kollision em 31/Outubro/2005