Provavelmente uma das menos conhecidas adaptações da prosa de Stephen King – não no sentido de que o filme não seja famoso, mas de que pouca gente sabe que foi King quem escreveu a história original – e também um dos melhores filmes já feitos sobre o período da pré-adolescência, Conta Comigo é um marco do cinema dos anos 80, e atesta o talento do diretor e ator Rob Reiner, então no auge de seu vigor criativo. A obra é também um caso emblemático de uma boa simbiose entre a qualidade do texto original e de sua transposição para o cinema, apesar das pequenas mudanças feitas, e veio com o tempo a superar todas as expectativas criadas por seus realizadores.
No final dos anos 50, numa cidadezinha do nordeste dos Estados Unidos, quatro garotos de 12 anos decidem partir na aventura de percorrer mais de 30 quilômetros a pé para encontrar o corpo de um menino morto próximo aos trilhos de trem, e assim tornarem-se heróis na pequena comunidade em que vivem. O tímido e desajeitado Gordie (Wil Wheaton), ainda sofrendo com a recente morte do irmão, tem como melhor amigo o mais velho e de má fama na escola Chris (River Phoenix). Teddy (Corey Feldman) é o filho desajustado de um veterano da Segunda Guerra Mundial, e o desajeitado Vernon (Jerry O'Connell), o gordinho da turma, só quer saber de comer balas de cereja. A aventura reafirma os laços de amizade que os unem, principalmente quando eles têm que enfrentar um grupo de valentões liderados por Ace (Kiefer Sutherland).
A história é narrada em flashback por um dos moleques, que já adulto é interpretado por Richard Dreyfuss. Outra participação de renome é a de John Cusack, como o irmão falecido de Gordie. O maior acerto do trabalho de escalação do elenco foi, contudo, colocar na tela os quatro atores mirins ideais para personificar os personagens criados por Stephen King. A combinação de drama, aventura, humor e sutileza do roteiro escrito a quatro mãos por Raynold Gideon e Bruce Evans é arrebatadora, levando os espectadores num túnel do tempo em direção a um período decisivo de suas infâncias, em que a inocência começava a dar lugar a uma realidade que geralmente corroía expectativas. Nas palavras do próprio diretor, o filme consiste num ritual de passagem da infância para a adolescência, que traz uma (re)afirmação de valores que dependem, em sua maior parte, do quanto podemos contar com nossos amigos nos momentos em que mais necessitamos.
A decisão de substituir o título original da obra (The Body, ou "O Corpo") pelo título de sua canção-tema foi pra lá de acertada. Rob Reiner demonstra uma sensibilidade ímpar ao dirigir o elenco de crianças, principalmente River Phoenix, que se sobressai como o valentão protetor e injustiçado, e cujo destino na história possui hoje uma correlação amarga com o fato do ator ter falecido tragicamente alguns anos depois (de overdose ao consumir uma mistura de drogas pesadas). Graças a passagens memoráveis, como a historieta sobre o festival de vômitos ou a cena do pântano cheio de sanguessugas, é praticamente impossível não ser tragado por uma sensação de nostalgia ao assistir ao filme.
Identificar-se com um dos garotos é um dos segredos de porque Conta Comigo é tão bom e fez tanto sucesso na época de seu lançamento.
O DVD vem com uma faixa de comentários de Rob Reiner, um making-of de pouco mais de meia hora com participação de Stephen King, o videoclipe de Ben E. King cantando Stand by Me ao lado de River Phoenix e Wil Wheaton, biografias relâmpago de elenco e equipe e os trailers de Karatê Kid e Voando para Casa.
Revisto em DVD em 8-FEV-2007, Quinta-feira - Texto postado por Kollision em 15-FEV-2007