Veterano consagrado e tido por muitos como um dos maiores atores de todos os tempos, foi só neste filme que Al Pacino veio a angariar o merecido Oscar de melhor ator. Famoso por papéis como o Michael Corleone de O Poderoso Chefão (Francis Ford Coppola, 1972) e Tony Montana de Scarface (Brian de Palma, 1983), Pacino encarna em Perfume de Mulher uma mistura de seus personagens mais austeros com os requintes de sutileza necessários à velha história sobre um mestre e um aprendiz, contada aqui de forma incomum e original.
Pacino é o coronel aposentado Frank Slade, um homem ranzinza acometido de uma cegueira tardia, herança dos tempos em que passou a serviço das forças armadas. É procurando um emprego de fim-de-semana que o jovem estudante secundarista Charlie Simms (Chris O'Donnel) decide enfrentar a tarefa de cuidar de Frank para a sua família, que parte em viagem no dia de ação de graças. Mal sabe ele que Frank tem outros planos, que incluem viajar a Nova York e se esbaldar com tudo do bom e do melhor, numa espécie de amarga despedida de uma vida à qual ele não quer mais se apegar. Forçado a acompanhar o irascível e rude coronel, Charlie tem ainda que se preocupar com uma enrascada em que se meteu na escola com o amigo riquinho feito por Philip Seymour Hoffman. Charlie acaba descobrindo facetas interessantes da personalidade de Frank, o que pode ou não alterar o rumo de suas vidas durante seu período juntos.
A história é contada sob o ponto de vista do estudante, interpretado com agradável naturalidade por um Chris O'Donnell em seu primeiro papel de destaque num longa-metragem. Charlie começa o filme com uma atitude meio perdida e sem rumo, mas seu processo de amadurecimento dá uma acelerada assim que o ego do coronel mal-educado de Pacino cede espaço a uma personalidade menos intragável. Exímio conhecedor de mulheres e das fragrâncias por elas usadas, Frank começa a demonstrar muitas outras qualidades escondidas sob sua carapaça arrogante. Ele vai de momentos de genuína ternura paternal em relação ao rapaz a terríveis ataques de auto-preservação e agressividade, às vezes com a sutileza de um trombone.
A trama secundária envolvendo um conflito escolar do rapaz pode soar meio descartável, mas justifica-se pela necessidade de mostrar a inevitável troca de favores entre gerações. Embora ela seja a principal responsável pela duração um pouco excessiva do filme, é só assim que a platéia irá saber se o instável coronel aprendeu ou não algo de seu jovem companheiro, numa jornada marcada por momentos de constrangedora sinceridade e passagens de encanto inegável, como o tango com a bela moça do restaurante (Gabrielle Anwar). Não é à toa que a analogia entre a dança e a vida real torna-se peça fundamental na redenção de ambos os personagens. Perfume de Mulher é assim, imbuído de uma mensagem enaltecedora, lembrando que sempre há algo a aprender mesmo junto àquelas pessoas mais improváveis ou inacessíveis.
Os únicos extras do DVD são algumas notas sobre a produção e biografias curtas de Al Pacino, Chris O'Donnell e do diretor Martin Brest.
Texto postado por Kollision em 22/Junho/2005