Mais conhecida por reviver os mitos de Drácula e Frankenstein e suas variantes nas décadas de 50 e 60, a produtora inglesa Hammer marcou época com suas produções de terror de baixo orçamento, algumas das quais alcançaram relativo sucesso na época e tornaram-se hoje quase clássicos. Quase sempre com boas ambientações, essas produções tinham como marca registrada o refinamento inglês típico e o bom (re)aproveitamento dos cenários em histórias que iam do medíocre ao relativamente satisfatório. Uma vertente um pouco menos conhecida da produtora aparece em Epidemia de Zumbis, filme que antecedeu em dois anos o clássico A Noite dos Mortos-Vivos de George Romero, representando um dos últimos exemplares feitos antes da redefinição do sub-gênero causada pelo clássico do diretor americano.
No vilarejo de Cornwall, estranhas mortes começam a ocorrer. O jovem médico da cidade (Brook Williams), preocupado por não conseguir identificar a causa das mortes, recorre ao seu velho professor Sir James Forbes (André Morell), que logo chega à cidade acompanhado da bela filha (Diane Clare). A investigação dos dois toma rumos inesperados quando eles descobrem que o corpo de um dos mortos desapareceu de sua cova e que Clive Hamilton (John Carson), o figurão da cidade, pode estar intimamente envolvido com os estranhos acontecimentos. Ele na verdade chefia uma seita que pratica o vodu, controlando as pessoas do vilarejo e invocando zumbis para fins pessoais.
O roteiro segue uma linha narrativa de coerência superior à média do gênero para a époça, com bom uso do elenco e dos cenários. No entanto, recomenda-se à platéia desconsiderar o título enganoso do filme, que pode fazer com que as pessoas esperem zumbis pipocando aos borbotões de tumbas lamacentas. Isso não significa, porém, que eles não dêem as caras, com toda a maquiagem putrefata a que têm direito. Quando isso ocorre, há pelo menos uma ótima seqüência de aglomeração de mortos-vivos sobre uma vítima incauta. A correlação do uso do vodu em pessoas vivas soa um pouco esquisita, mas há uma tentativa de justificá-la com um mistério que, quando revelado, infelizmente faz com que o filme degringole para a babaquice e leve o fã mais ardoroso de "filmes de zumbi" a inevitavelmente se revirar na poltrona de desgosto. O desfecho tenta corrigir as patacoadas dos vinte minutos finais, e até certo ponto consegue. Mas não tira a impressão de que faltou algo mais para o filme funcionar um pouco melhor.
Sendo um típico filme da Hammer, os fãs de carteirinha do material da produtora não terão do que reclamar. É quase impossível não se lembrar de Van Helsing (o nêmesis de Drácula) ao se deparar com o obstinado Sir John Forbes, e a trilha sonora de James Bernard, colaborador habitual dos diretores Terence Fisher e Jimmy Sangster na série Drácula, dá o tom característico necessário à produção.
A seção de extras é pobrezinha. Traz somente um texto com sinopse do filme e biografias de John Gilling e André Morell.
Texto postado por Kollision em 5/Outubro/2004