Cinema

Pi

Pi
Título original: Π
Ano: 1998
País: Estados Unidos
Duração: 84 min.
Gênero: Suspense
Diretor: Darren Aronofsky (Réquiem para um Sonho, Fonte da Vida, O Lutador)
Trilha Sonora: Clint Mansell (O Buraco, Sem Pistas, Suspeito Zero)
Elenco: Sean Gullette, Mark Margolis, Ben Shenkman, Pamela Hart, Samia Shoaib, Stephen Pearlman, Kristyn Mae-Anne Lao, Ajay Naidu, Espher Lao Nieves, Joanne Gordon, Lauren Fox, Stanley Herman, Clint Mansell
Distribuidora do DVD: Europa Filmes
Avaliação: 8

Num filme que representa uma trajetória de glória absoluta da produção independente, num exemplo claro de que basta uma boa idéia e uma boa dose de talento para levar o projeto de um longa-metragem adiante, o diretor Darren Aronofsky cravou seu nome na galeria dos mais promissores cineastas do cinema moderno com ferro e fogo. Esforço de criatividade imenso de Aronofsky, de seu chapa produtor e do ator Sean Gullette, Pi é um delírio com fundo matemático e objetivo grandioso, cujo protagonista transita entre a genialidade e a loucura em espasmos luminosos retratados por uma fotografia de saturado contraste em preto-e-branco.

A área dentro de um círculo é igual a πr2, onde r representa o raio. O comprimento da linha de uma circunferência é igual a 2πr. A aparente simplicidade por trás destas expressões quase mágicas mascara a importância do número π (3,1415926...), que possui uma quantidade infinita de algarismos após a vírgula sem qualquer padrão identificável. O desafio de calculá-los em sua totalidade é mais ou menos o dilema que atormenta a alma do matemático Max (Sean Gullette), que passa os dias trancado em seu apartamento e debruçado sobre o computador que ele mesmo montou, no intuito de encontrar um padrão dentro do caótico universo da bolsa de valores. Ele só discute suas pesquisas com um ex-professor (Mark Margolis), mas é vigiado de perto por uma corporação misteriosa e por um grupo de judeus com interesses pra lá de suspeitos. Quanto mais Max se aproxima da solução que procura, mais ele é perseguido e mais graves se tornam suas crises epiléticas.

Além de ser uma festa nerd para os chegados em matemática, Pi conta com um design de produção interessantíssimo para uma mísera receita de 60.000 dólares, que é a quantidade declarada de dinheiro investida em sua produção. O placa do processador do computador de Max, por exemplo, é suspensa como se estivesse presa em teias de aranha, é resfriada com um feixe de tubos de mais de 3" e representa basicamente o coração de tudo o que o protagonista faz, confundindo-se com o centro orgânico dele próprio. O cara não tem vida social, praticamente abdica da convivência com outros seres humanos e ignora tudo que não esteja relacionado com sua obsessão, que se torna extremamente destrutiva devido à natureza de sua doença e à paranóia associada.

Na realidade, o filme é mais acessível do que parece. A escolha estilística por uma fotografia que chega a abusar de super-exposição e que às vezes parece prestes a derreter graças à luminosidade excessiva justifica-se pelo desejo de mostrar a deterioração mental do protagonista, que, tal qual as espirais que em determinado momento ele passa a enxergar em todos os lugares, entra numa viagem sem volta rumo ao infinito da genialidade e à obliteração da razão. A idéia ganha uma ousadia ainda maior quando o roteiro atribui uma natureza grandiosa ao número que ele tanto procura. A loucura, então, passa a ser compartilhada. Ou não, depende do ponto de vista de quem está assistindo ao filme.

Quem já assistiu a O Homem Elefante (David Lynch, 1980) costuma alegar que a obra citada e Pi possuem muitas coisas em comum. Infelizmente, ainda não pude pôr os olhos no tão incensado trabalho de Lynch. Sob o ponto de vista da loucura, no entanto, posso relacionar o filme de Aronofsky a Repulsa ao Sexo (Roman Polanski, 1965), que também lidava de forma bastante peculiar com a degeneração mental do ser humano.

O DVD tem como extras uma coletânea de 8 minutos de cenas de bastidores comentadas por Darren Aronofsky e Sean Gullette, notas de produção, curiosidades sobre o número Π, biografias do diretor, do produtor, de Sean Gullette e de Mark Margolis e o trailer de cinema.

Visto em DVD em 27-NOV-2006, Segunda-feira - Texto postado por Kollision em 1-DEZ-2006