Está aqui um filme fácil de ser subestimado. Seja pelo material de divulgação, seja pela história estapafúrdia, seja pelo tema abobalhado ou pela potencial falta de material dramático para rechear um filme de uma hora e meia de duração. Felizmente para a também produtora Sandra Bullock, a aposta deu mais do que certo (rendendo até mesmo uma continuação), e resultou numa das comédias mais leves e bacanas do início do milênio. Não é uma comédia romântica, apesar de haver algum romantismo na história, e não é algo como "um tira da pesada de saias", como eu pensei logo que travei conhecimento da película. O que conta a favor, ainda por cima, é que cada revisão só melhora a percepção que tenho do filme.
Gracie Hart (Sandra Bullock) é uma agente do FBI completamente afeita ao universo feminino. Ela se veste mal, é temida mesmo entre os colegas homens e não leva desaforo para casa. Quando uma das investigações de seu departamento chega à conclusão de que o próximo ataque de um maníaco será dentro do concurso de Miss Estados Unidos, eles dão um jeito de infiltrá-la na competição para acompanhar de perto as pistas. Para transformá-la de baranga a beldade é escalado um treinador de misses (Michael Caine), mas o estratagema mostra-se mais difícil do que imaginava o parceiro habitual da policial (Benjamin Bratt), encarregado de conduzir toda a operação maluca.
Fazendo vista grossa à patacoada que o roteiro inventa para justificar a presença de uma policial dentro do concurso de miss, o filme é um deleite que não decepciona quem está de bobeira na frente da TV e não quer se dar ao trabalho de pensar muito. Tirando a surpresa que é ver William Shatner pagando mico como um apresentador de TV alegrinho e decadente, dá para perceber o quanto Michael Caine se diverte em seu papel de dândi. Benjamin Bratt é quem parece jamais estar à altura de Sandra Bullock, já que o cara não tem presença em cena (talvez jamais tenha tido) e praticamente some depois de algum tempo em cena, cedendo espaço às gracinhas sobre o mundo dos concursos de beleza. A protagonista da história, por sua vez, acaba sendo convertida de cética indiferente a defensora apaixonada da categoria de belas sem cérebro. Previsível, obviamente, já que o título Miss Simpatia precisa se justificar de algum modo, não é mesmo?
Alguns dos melhores momentos desta bobagem divertida: Sandra Bullock, ao estudar vídeos de misses em concursos antigos, dispara em tom de chacota "Oh... if I only had a brain"; a apresentação do talento da policial, que relembra o tema de Lara de Dr. Jivago; sua indefectível risada anasalada; a reação da Miss Texas (Deirdre Quinn) ao saber de sua colocação dentro do concurso; os momentos em que Gracie Hart desce do pedestal de agente e se insinua para o colega com um sexy "you think I'm gorgeous, you want to hug me, you want to kiss me" ou qualquer coisa assim... Isso sem contar a seqüência em que ela, esplendorosa após seu extreme makeover, surge do galpão do aeroporto para o espanto de todos que acreditavam estar embarcando numa missão impossível. A julgar por esta passagem, os homens precisam abrir os olhos de vez em quando...
Extras da primeira edição em DVD lançada pela Warner: duas faixas de comentários em áudio, uma conjunta entre Sandra Bullock e o escritor Marc Lawrence e outra exclusiva do diretor Donald Petrie, trailer de cinema e dois especiais de 9 e 11 minutos que discorrem sobre o making-of da produção e o processo de filmagem do consurso de miss retratado pela história.
Revisto em DVD em 2-NOV-2006, Quinta-feira - Texto postado por Kollision em 7-NOV-2006