Visto no cinema em 16-FEV-2013, Sábado, sala 1 do Multiplex Pantanal
"Os Miseráveis" é, sem sombra de dúvida, uma das maiores obras literárias de todos os tempos. Foi adaptada várias vezes para o cinema, mas esta versão do diretor Tom Hooper se caracteriza por ser uma adaptação de segunda ordem - ela se baseia no musical feito a partir do trabalho original do francês Victor Hugo, e não na prosa original. Por ser um musical, a esmagadora maioria dos diálogos é cantada pelo elenco, que incorpora números episódicos que descrevem a passagem do tempo e as reviravoltas na trajetória de Jean Valjean (Hugh Jackman), um homem que permaneceu preso por 19 anos por ter roubado um pão. Eternamente perseguido pelo obstinado policial Javert (Russell Crowe), Valjean se converte de alma perdida a grande empresário por influência de um padre de bom coração. Descoberto, ele empreende uma fuga na qual aproveita para fazer justiça em nome de Fantine (Anne Hathaway), uma infeliz que morre depois de comer o pão que o diabo amassou por sua influência indireta. Ele decide criar a filha da moça (Isabelle Allen quando criança, Amanda Seyfried quando adulta) como sua própria, porém anos mais tarde as agruras da guerra civil e a paixão que ela nutre por um soldado (Eddie Redmayne) ameaçam separá-los para sempre.
Como musical, Os Miseráveis até que agrada. Os momentos mais marcantes ficam a cargo de Anne Hathaway e Samantha Barks, cujos números realmente emocionam pela qualidade vocal das duas atrizes. Hugh Jackman vem em seguida, enquanto Russell Crowe visivelmente sofre para se manter no mesmo nível dos demais. O alívio cômico proporcionado por Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter logo se torna chato e inconveniente. Como cinema, o filme fica devendo porque Tom Hooper não consegue traduzir a grandiosidade da história de forma convincente. Ele abusa de closes quando não precisa, opta por enquadramentos anormais e incômodos, fotografa panoramas quando eles não são necessários. A história, para quem a conhece, soa muitas vezes truncada e acelerada, e perde em emoção quando joga muitos personagens novos na tela durante a fase da guerra civil. O desfecho até que consegue apagar a má impressão da meia hora final, mais uma vez graças à presença radiante de Hathaway.