Cinema

Xeque-mate

Xeque-mate
Título original: Lucky Number Slevin
Ano: 2006
País: Estados Unidos
Duração: 109 min.
Gênero: Policial
Diretor: Paul McGuigan (Herois, Victor Frankenstein, Estrelas de Cinema Nunca Morrem)
Trilha Sonora: Joshua Ralph
Elenco: Josh Hartnett, Bruce Willis, Morgan Freeman, Ben Kingsley, Lucy Liu, Stanley Tucci, Michael Rubenfeld, Peter Outerbridge, Kevin Chamberlin, Mykelti Williamson, Dorian Missick, Scott Gibson, Sam Jaeger, Danny Aiello, Jennifer Miller
Avaliação: 6

Vendido como um neo-Pulp Fiction, esta comédia disfarçada de filme policial (ou seria o contrário?) vem embalada em muita panca e tem a sorte de contar com alguns medalhões imbatíveis em seu elenco. Basta dizer que, em lados diferentes de uma guerrinha mafiosa maluca, estão ninguém menos que os oscarizados Morgan Freeman e Sir Ben Kingsley. Mas não são estes digníssimos senhores que necessariamente fazem a ligação do filme com a estética estabelecida por Quentin Tarantino, e sim o coringa Bruce Willis, no papel de um matador com uma mira mais letal que a de Mel Gibson em Máquina Mortífera.

Há uma boa e engraçadíssima dose de humor negro na história de Slevin (John Hartnett), um homem confundido com alguém que ele não é. Principalmente nos diálogos rápidos e carregados de ironia que respondem pela associação do longa com o cinema tarantinesco, e em participações hilárias como a do camaleão coadjuvante Mykelti Williamson, na pele de um dos capangas lerdos de Morgan Freeman. Slevin se instala no apartamento de um amigo ausente e é confundido com ele por um dos chefões, que o coloca num beco sem saída que só piora quando ele dá de cara com o outro chefão. A vizinha maluquinha (Lucy Liu) insiste em ajudá-lo, enquanto um policial (Stanley Tucci) não sai da sua cola. Correndo por fora está o assassino feito por Bruce Willis, cujo propósito na história é uma grande incógnita.

Não é a falta de uma seqüência de ação mais prolongada que não permite que o filme seja qualificado como muito bom. Não é a confusão rocambolesca e complicada em que se torna a jornada de Slevin a verdadeira pedra no sapato de uma idéia relativamente muito boa. O calcanhar de Aquiles de Xeque-mate, e isso é algo no qual é preciso pensar um pouco após se assistir ao filme, é o fato das imagens e de várias das seqüências mostradas romperem as regras auto-impostas pela narrativa e trapacearem a percepção do espectador a fim de garantir um impacto maior no momento em que a grande revelação ocorre. Ou, quando colocado de forma bastante simples: nem tudo o que é mostrado em cenas de flashback é necessariamente verdade. O que é um pecado para uma história de clima noir que se sustenta em pistas relatadas para a montagem de um intrincado quebra-cabeças.

A outra coisa que incomoda é a ausência de uma unidade narrativa, uma vez que o tom do filme muda da água para o vinho a partir de um determinado ponto, de forma tão drástica que todas as piadinhas que foram feitas no início da história chegam a perder a graça. Nem é possível escrever algo a respeito sem revelar fatos cruciais do roteiro, por isso a melhor coisa a fazer é assistir ao filme com a mente preparada para receber uma dose dupla de emoções – primeiro ria com vontade, e a seguir se esbalde com um espetáculo quase grotesco de frieza e vingança.

No entanto, há que se dar algum crédito ao diretor/roteirista pela ousadia. Basta um pouco mais de tato no tratamento da história e ele será capaz de fazer algo realmente bombástico num trabalho futuro.

Visto no cinema em 14-OUT, Sábado, sala Moviecom 2 do Rondon Plaza Shopping - Texto postado por Kollision em 17-OUT-2006