Filmes românticos que tratam o relacionamento a dois sob uma perspectiva madura de forma competente são itens difíceis de encontrar. Quando uma obra razoável desta natureza surge, a tendência é incensá-la de tal modo que até mesmo um Oscar possa surgir daí. É o caso de Encontros e Desencontros, filme que rendeu à escritora/diretora Sofia Coppola o Oscar de melhor roteiro original, sendo que ela concorreu ainda à estatueta de melhor direção. Se há mérito na história simples de duas pessoas que se conhecem e se envolvem numa cidade estranha? Bem...
Bill Murray é Bob Harris, um ator de meia-idade famoso que vai a Tóquio gravar um anúncio de whisky para uma companhia japonesa. Completamente fora de seu ambiente, Bob divide seu tempo entre o bar do hotel onde está hospedado e gravações que variam do incompreensível ao ridículo. Mais ou menos na mesma situação está Charlotte (Scarlett Johansson), linda jovem que acompanha o marido fotógrafo (Giovanni Ribisi) num trabalho na cidade. Sofrendo com o fuso horário, carente e sentindo-se sozinha enquanto o marido passa o dia todo fora, Charlotte começa a freqüentar o bar do hotel e logo trava contato visual com Bob. Timidamente, uma sincera relação de amizade tem início entre os dois, que descobrem naturalmente que tudo o que vale a pena no lugar em que estão é passar o tempo um com o outro.
Iluminada pela caótica realidade urbana de uma das cidades mais populosas do mundo, a história do casal díspar é contada sem pressa, de forma lenta e quase analítica. Casados, sozinhos e sem sono, Bob e Charlotte se completam. Sem ceder a saídas e situações fáceis, o filme mostra como os protagonistas preenchem o vazio um do outro, apesar da diferença de idade, e criam um vínculo que muitas vezes não é possível conseguir numa vida inteira.
Verdade seja dita, o filme não seria a mesma coisa sem o seu duo central. Indicado ao Oscar de melhor ator, o ex-caça-fantasma Bill Murray tem de fato uma atuação excelente. Scarlett Johansson é linda e deliciosa, exatamente o tipo de garota capaz de enfeitiçar um homem de meia-idade perdido numa selva de pedra. Sem os dois, é bem provável que o filme perdesse metade do seu impacto. A história tem um ritmo que demora um pouco a engrenar, e os melhores momentos estão reservados para o final. Por isso, fica uma sensação vaga de que Encontros e Desencontros é uma idéia legal esticada ao longo de pouco mais de uma hora e meia de projeção. Parece mais longo do que é, mas é definitivamente digno de uma conferida.
Os extras do DVD trazem um making-of um pouco desconexo de cerca de meia hora, uma entrevista de 10 minutos com Sofia Coppola e Bill Murray, 5 cenas excluídas, o videoclipe de City Girl, de Kevin Shields, e a íntegra do hilário programa da TV japonesa no qual Bob Harris aparece como convidado.
Texto postado por Kollision em 5/Setembro/2004