Cinema

O Gabinete do Dr. Caligari

O Gabinete do Dr. Caligari
Título original: Das Kabinett des Doktor Caligari
Ano: 1919
País: Alemanha
Duração: 51 min.
Gênero: Terror
Diretor: Robert Wiene
Trilha Sonora: — [Timothy Brock, 1996] (A Última Gargalhada)
Elenco: Werner Krauss, Conrad Veidt, Friedrich Feher, Lil Dagover, Hans Heinrich von Twardowski, Rudolf Lettinger
Distribuidora do DVD: Continental
Avaliação: 10

Este pode muito bem ser o filme de horror mais importante de todos os tempos. Não pela sua capacidade de assustar, mas por sua importância não só dentro do gênero, mas também na linguagem cinematográfica como um todo. Sendo um divisor de águas dos filmes fantásticos, a obra-prima de Robert Wiene consolidou as idéias então vigentes no estraçalhado cinema alemão pós-Primeira Guerra e estabeleceu as convenções do movimento mais tarde conhecido como "expressionismo", cujos maiores expoentes foram sem sombra de dúvida os cineastas alemães da década de 20. Seu legado e sua influência, claro, correram o mundo e ajudaram a moldar o estilo de cineastas importantíssimos em todos os tempos e eras, do mestre Alfred Hitchcock ao versátil Tim Burton.

A conspiração criativa por trás deste clássico envolveu artistas e pintores proeminentes da época, trabalhando sobre idéias originais de Fritz Lang e com base no roteiro escrito por Hans Janowitz, concebendo o cenário de pesadelo pelo qual o filme é bastante famoso. Caligari se tornou rapidamente conhecido pela ousadia visual capturada pela câmera do renomado Karl Freund, talento que mais tarde emigraria para Hollywood. Os sets angulosos, pintados em termos de luz e sombra, as ruas oblíquas, a desproporção proposital e as elevações íngremes e assimétricas não só garantiram a estética que o filme precisava, como também sintetizaram uma sensação latente de desorientação associada à auto-estima do povo alemão, estraçalhada pela primeira grande derrota que eles sofreram no século XX.

Na história, a cidadezinha de Hostenwall é palco das atrações de um recém-chegado circo itinerante. Esta é a oportunidade ideal para que o dr. Caligari (Werner Krauss) apresente ao público seu domínio sobre o enigmático sonâmbulo Cesare (Conrad Veidt), uma aberração que possui o dom de prever o futuro das pessoas. O jovem Francis (Friedrich Feher) fica bastante impressionado com o fenômeno, ainda mais quando estranhos assassinatos começam a ocorrer e seu melhor amigo também se torna uma vítima. Caracterizado como uma figura de pesadelo, o esguio e cadavérico Cesare não contém o deslumbre quando se depara com a amada de Francis (Lil Dagover). Seriam Caligari e seu fantoche os responsáveis pelas mortes? Isso é o que a narração de Francis irá revelar... Ou talvez não.

Até mesmo na estrutura narrativa o filme representa, ainda hoje, uma formidável fonte de inspiração e modelo a ser seguido. A genialidade inerente à tragédia de Francis não reside em sua reconstrução dos fatos, mas no modo como estes se desdobram num final surpreendente, que lança um olhar dúbio sobre toda a obra e a transformam num fascinante quebra-cabeças. Além da cenografia aberrantemente linda, o diretor lança mão de conceitos então inovadores como as seqüências em flashback, e até insere efeitos especiais na cena em que Caligari é subjugado pela loucura e se entrega ao seu lado maligno. Coisa fina, e do tempo em que o cinema ainda nem falava.

Os extras do DVD, que traz com uma cópia do filme com cartões em inglês ao invés do idioma original, consistem numa espécie de trailer/colagem de algumas cenas de Genuine (outra obra extremamente rara de Robert Wiene), galeria de pôsteres, dois artigos em texto sobre o filme e biografias curtas do diretor, de Werner Krauss e de Conrad Veidt. O DVD faz parte do pacote "Expressionismo Alemão", que contém ainda O Golem, Nosferatu, A Última Gargalhada e Fausto.

Texto postado por Kollision em 5/Março/2006