Dentre várias histórias sobre casas mal-assombradas, A Casa dos Maus Espíritos ainda hoje se mantém como um dos melhores exemplares do que o gênero tem a oferecer. Dirigido pelo lendário William Castle, o filme veio a ganhar com o tempo um status de considerável importância dentro da categoria de obras de baixo orçamento, trazendo Vincent Price no auge de sua carreira a serviço do estilo que o consagrou.
A introdução do conto sobre um grupo de pessoas escolhidas a dedo para participar de uma estranha festa é uma das mais bacanas do final de uma era mágica do cinema de horror: aquela onde os filmes ainda eram feitos em preto-e-branco e possuíam o privilégio de se dirigir diretamente à platéia sem soarem amadores ou presunçosos demais. Na completa escuridão, gritos ensurdecedores de mulheres em desespero são ouvidos, sendo a seguir substituídos pelas cabeças flutuantes dos dois atores mais marcantes da película, cada um deles conclamando a platéia a acompanhar a macabra história da casa dos maus espíritos. Nela, o milionário Frederick Loren (Vincent Price) recebe cinco convidados numa casa tida como mal-assombrada para uma festa organizada por sua bela e gananciosa esposa Annabelle (Carol Ohmart). A cada um deles é prometida a quantia de dez mil dólares, caso consigam passar toda a noite dentro do tenebroso local. Como não poderia deixar de ser, circunstâncias estranhas e aparições inexplicáveis deixarão a noite bem mais movimentada do que o inicialmente esperado.
Os sustos podem ter perdido a força com o passar do tempo, mas a sensação de antecipação criada pela primeira parte do filme é um deleite. A fotografia em preto-e-branco e a sensacional trilha sonora se aliam para construir um clima dúbio em cima do mistério das pessoas anteriormente assassinadas na casa. Nem o desempenho um pouco exagerado de Elisha Cook Jr. como Pritchard, o proprietário do lugar, consegue macular completamente o resultado. O mais interessante de tudo é o modo como o mistério acerca dos fantasmas da casa é manipulado, com um final que poucos filmes do mesmo estilo foram capazes de conseguir. Existem algumas inconsistências aqui e ali, claro, mas nada que venha a denegrir o roteiro de forma irrecuperável.
Enquanto o alívio cômico geralmente aparece por meio dos avisos macabros do esquizofrênico dono da casa, é na relação algo doentia entre Loren e sua esposa que muito da tensão do filme é criada. Price usa seu porte e sua voz gutural com a classe que sempre lhe foi peculiar, ao passo que Carol Ohmart e Carolyn Craig emprestam suas belezas (e gargantas) a personagens antagônicas. O filme foi também um sucesso de público, muito graças à capacidade inata do diretor William Castle de promover seus produtos de baixo orçamento. Diz-se que foi ao ver A Casa dos Maus Espíritos, por exemplo, que Alfred Hitchcock decidiu realizar Os Pássaros. Considerada hoje um clássico, a obra foi refilmada em 1999 como A Casa da Colina, com resultados não muito empolgantes.
A seção de extras do DVD vem somente com o trailer original do filme e biografias de William Castle e Vincent Price.
Texto postado por Kollision em 31/Agosto/2005