Prova contundente da competência indiscutível do revigorado cinema brasileiro, O Homem Que Copiava foi eleito por muitos cinéfilos como o melhor longa nacional de 2003. E não é para menos. Trata-se do segundo longa do elogiado diretor Jorge Furtado (o primeiro foi Houve uma Vez Dois Verões), que construiu carreira com premiados curtas-metragens e produções para a TV.
André (Lázaro Ramos) tem 19 anos e trabalha como um operador de fotocopiadora numa papelaria de subúrbio em Porto Alegre, pela quantia irrisória de dois salários mínimos. Ingênuo e introspectivo, tem como colega de trabalho a voluptuosa Marinês (Luana Piovani), alvo constante dos galanteios do pé-rapado Cardoso (Pedro Cardoso). André vive sonhando com Sílvia (Leandra Leal), a garota que mora no apartamento em frente ao seu e sempre chega tarde da noite em casa. Ele narra a sua própria história, que assume tons aventurescos quando o rapaz tenta obter dinheiro para impressionar a garota de seus sonhos, envolvendo todos os seus amigos num rolo que passa a tomar proporções cada vez maiores.
Com elenco acertadíssimo, em que todos os protagonistas estão muito bem em cena, O Homem Que Copiava tem como trunfo principal uma qualidade que muitos filmes tentam conseguir em vão: a imprevisibilidade. O roteiro desenvolvido pelo próprio diretor jamais entrega o que virá a seguir, tornando cada etapa da saga de André tão interessante quanto a anterior. A realidade de seu protagonista é mesclada a delírios hilários que, quando deixam de ser delírios, quebram a expectativa da platéia com sutil delicadeza. E, à medida que alguns conflitos um pouco mais sérios surgem após a metade da história, torna-se claro que, se Jorge Furtado não julga nenhum de seus personagens, ele também não os deixa completamente impunes. O final tem ainda o mérito de dar mais uma idéia sobre como uma história pode ser diferente, quando vista por outro ângulo ou sob um ponto de vista distinto.
Outro aspecto interessante do filme são os recursos adicionais utilizados para narrar a história. Os desenhos animados a partir do hobby de André, um cartunista de mão cheia, adicionam dinamismo na dose certa, incorporando até mesmo uma hilária figura com animação à la South Park. Todas as qualidades da obra de Furtado meio que compensam alguns pontos irregulares, como a falta de um elenco que fale com o sotaque do sul (o máximo que se ouve é um "tú" aqui e ali) ou a evidente inverossimilhança dos milagres proporcionados pela nova máquina copiadora de André. Porém, nada que diminua consideravelmente o excelente resultado do filme, uma interessantíssima crônica urbana que prende a atenção do espectador do início ao fim.
Há um making-of básico de cerca de 15 min. na seção de extras (que inclui entrevistas e erros de gravação), além de trailer e galeria de fotos.
Texto postado por Kollision em 9/Dezembro/2004