Revisto em DVD em 31-MAR-2007, Sábado
Com a revisão, vem uma constatação mais clara acerca das arapucas existentes dentro da adaptação do livro para o cinema. Como a introdução do filme, por exemplo, de longe seu ponto mais fraco. A história demora para encontrar seu ritmo, o que deixa o filme com uma duração excessiva. Não gosto da idéia de um epílogo longo demais após o clímax (este é bem-arquitetado, por sinal), mas pelo menos ele não é tão inútil quanto a rasgação de seda que Chris Columbus aprontou nos dois primeiros longas da série.
A saga continua em Harry Potter e a Ordem da Fênix.
O primeiro disco do DVD duplo da Warner vem com o filme, enquanto o segundo mistura joguinhos de lógica duvidosa com um punhado de especiais que variam de 10 a 15 minutos, com exceção de uma entrevista com os astros mirins de meia hora conduzida pelo diretor e roteirista Richard Curtis (Simplesmente Amor). O material especial é composto de cenas excluídas, detalhamento do processo de filmagem de cada uma das três tarefas enfrentadas por Harry Potter no torneio mágico, o baile de Hogwarts, um dia no set de filmagens com os outros três campeões, reflexões sobre o quarto filme, a criação do vilão Voldemort e o trailer do filme.
Texto postado por Kollision em 3/Dezembro/2005:
Com a maturidade vem a constância. O quarto capítulo da saga de Harry Potter é um exemplo vivo dessa afirmação, que traz para o filme de Mike Newell a mesma ambientação estabelecida com inegável competência por Alfonso Cuarón em Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban. O trabalho nem sempre grato de condensar a extensa prosa de J. K. Rowling ainda força a duração do longa para além dos limites aceitáveis, mas tudo é perdoado pelo resultado extremamente decente, que mantém uma distância segura da infantilidade anabolizada dos dois primeiros filmes.
A escola de magia de Hogwarts tem a honra de sediar o torneio Tribruxo, uma espécie de Copa do Mundo das três maiores escolas de bruxaria de todo o planeta, representadas na competição por três campeões escolhidos pelo tal cálice de fogo, todos com idade superior a 17 anos. A surpresa é grande quando, por um motivo inexplicável, o nome de Harry Potter (Daniel Radcliffe) também é cuspido pelo cálice. As regras são claras: a determinação do artefato mágico é sagrada, e Harry tem que aceitar os desafios mortais aos quais os campeões são submetidos. Sem poder contar com a ajuda constante de Hermione (Emma Watson) ou Ron (Rupert Grint), e ainda por cima vivenciando o primeiro namorico da adolescência, Harry é empurrado para uma teia de traição que o faz se defrontar com o próprio lorde Voldemort (Ralph Fiennes), renascido devido a um terrível plano levado a cabo dentro do próprio torneio.
Fiquei cansado de ouvir um punhado de gente dizendo que muita coisa do livro tinha sido cortada e blá-blá-blá. Não tem jeito, este é o preço a se pagar em qualquer adaptação cinematográfica. A vantagem do veterano diretor Mike Newell é que ele pegou um elenco principal de moleques mais maduro e consciente de seus próprios papéis dentro da superprodução. Daniel Radcliffe ainda não eliminou o cacoete de menear a cabeça suspirando sempre que precisa demonstrar nervosismo ou preocupação, mas as tribulações cômicas que ele e Rupert Grint passam para convidar garotas para o baile do torneio conseguem compensar vícios persistentes como este. Ao contrário do que divulgaram as notas sobre o filme e o pessoal que já leu o livro, não achei a tensão entre Ron e Hermione tão evidente assim. Para falar a verdade, a impressão que tive é que Rony não estava muito a fim, e que a gatinha está mais a fim é do Harry mesmo.
Muita discussão rolou sobre a divisão desta seqüência em dois filmes. A decisão pela obra única reflete-se na sensação de urgência que parece permear todo o longa, que é dotado de uma história que não faz concessões a subtramas e limita-se a somente resvalar em praticamente todos os novos personagens secundários, com exceção do Voldemort de Ralph Fiennes e de Brendan Gleeson como Alastair "Mad-eye" Moody, em duas das melhores caracterizações de toda a série. E finalmente o "grande" Albus Dumbledore (Michael Gambon) ganha um pouco mais de espaço em cena, justificando sua fama dentro do mundo dos bruxos. Quanto aos personagens adolescentes periféricos, eles entram e saem de cena sem nem mesmo marcar uma mínima presença que mereça ficar na memória. As várias referências aos capítulos anteriores fazem com que seja não imprescindível, mas melhor para o entendimento do todo, que o espectador tenha pelo menos assistido à terceira parte da saga. Aliás, O Cálice de Fogo é um exemplo de ponte narrativa de relevância dentro do projeto de toda a série, mais ou menos como o foi Star Wars Episódio V - O Império Contra-ataca.
Pelo fato do roteiro um pouco corrido, O Cálice de Fogo acaba sendo ligeiramente inferior a O Prisioneiro de Askaban, apesar da abordagem cada vez mais sombria permanecer como parte fundamental de toda a história. A competência técnica permanece também na trilha sonora, a primeira sem o toque garantido de John Williams, que desistiu de compor aqui para trabalhar em outro filme. Se o nível de realização continuar como está, as esperanças para o próximo capítulo só podem ser as melhores.