Rebecca de Mornay quase não esteve presente no elenco deste suspense sufocante, e a culpa por tal ausência seria de ninguém menos que Steven Spielberg, caso ela tivesse conseguido a vaga da fada Sininho em Hook - A Volta do Capitão Gancho (1991) que, como todos sabem, acabou nas mãos de Julia Roberts. Uma mudança de ares drástica, que deu à ídolo adolescente dos anos 80 um dos melhores papéis de sua carreira, e um dos mais ameaçadores a serem personificados por uma mulher.
Quando a dona de casa grávida Claire (Annabella Sciorra) sofre abuso sexual de seu novo ginecologista e abre uma queixa formal contra ele, o médico entra em franco declínio e, em poucos dias, comete suicídio. Claire e seu marido (Matt McCoy) continuam suas vidas felizes com o nascimento do segundo filho, mas chegam à conclusão que desta vez precisam contratar uma babá para ajudá-los com as tarefas de casa. A presteza e a dedicação com crianças mostrada pela candidata Peyton Flanders (Rebecca de Mornay) acaba convencendo-os a contratá-la, sem que eles saibam que a moça é, na realidade, a viúva do falecido médico molestador, e que ela também perdera um bebê em conseqüência de suas recentes tribulações emocionais. E logo fica claro que as intenções da nova babá não são exatamente o que seus sorrisos acolhedores tanto sugerem.
Excelente exercício da maldade em forma de filme, A Mão que Balança o Berço é um esforço extremamente recompensador do diretor Curtis Hanson. É interessante notar que, ao contrário de outros vilões essencialmente maus já vistos em tantos filmes, a personagem de Rebecca De Mornay recebe bastante motivação para empreender sua vingança contra a pessoa que ela julga ser a culpada pela desgraça em sua vida, e o roteiro não faz questão alguma de esconder isso. Muito pelo contrário. O que não é motivo algum para subestimar a história, como pode-se pensar de início. A idéia original é descascada em exasperantes camadas de vilania, à medida que a babá interfere e provoca desgraça sobre desgraça na vida da sempre receptiva patroa. As regras bem estabelecidas pelo suspense ao estilo de Hitchcock são seguidas à risca, colocando a platéia em xeque e prendendo seu interesse durante todo o tempo de projeção.
O mérito do elenco não é só de Rebecca, que só com o olhar é capaz de comunicar um ódio que chega a causar desconforto. Annabella Sciorra também é muito bonita, e traz bastante credibilidade à mãe compreensiva que inadvertidamente coloca uma cobra dentro de casa. O ex-caça-fantasma Ernie Hudson mostra que é bom ator, na pele do autista que trabalha para a família, apesar de uma participação forçada e meio inexplicável durante o clímax da história. Como curiosidade, Julianne Moore também marca presença como coadjuvante, num de seus primeiros papéis no cinema.
Infelizmente, não existe seção de extras no DVD da Buena Vista.
Texto postado por Kollision em 4/Outubro/2005