Uma das maiores demonstrações do quanto a influência do cinema mainstream de Hollywood pode ser prejudicial a qualquer outra vertente da sétima arte no resto do mundo está neste filme, a terceira parte de uma trilogia sobre fantasmas iniciada com The Eye - A Herança, de 2002. Os diretores são os mesmos, assim como boa parte da equipe técnica chinesa, mas a pressa para sair com algo teoricamente novo e faturar mais alguns trocados na onda do sucesso dos filmes anteriores fez todos darem um passo maior que a perna. Agora a trama está coalhada de adolescentes avoados, bem ao estilo dos piores filmes inspirados pelo estilo criado anos atrás por Sexta-Feira 13 (Sean Cunningham, 1980). O pior é que os cineastas erram a mão feio, chegando ao cúmulo de transformar o próprio material que criaram em objeto de piadas flatulentas...
Mais uma vez a história se inicia na Tailândia, palco da reunião de um grupo de amigos chineses que estão visitando um colega local. Ninguém dá a mínima quando um acidente de beira de estrada atrasa um pouco sua volta para casa do parque de diversões. À noite, todos resolvem entrar numa brincadeira de convocação de espíritos, com o auxílio de um livro empoeirado conseguido por um deles num sebo qualquer. Ao iniciar os 10 rituais descritos pelo livro, os espíritos passam a aparecer sem muita cerimônia. As coisas entram por um rumo inesperado quando um dos jovens desaparece na brincadeira, parte do grupo retorna à China e todos começam a ser perseguidos por aparições fantasmagóricas que vão além da simples assombração. Possessão e abdução são algumas das novas ameaças do além-mundo.
Com uma introdução moderninha que tenta passar algum tipo de inovação mas causa na realidade um certo desconforto do que pode estar por vir, a diferença crucial entre Visões 2 e as histórias anteriores é o humor. Bastante engraçadinho, o novo conto concebido pelos irmãos Pang tem pelo menos um pseudo-comediante no elenco, e um clímax maluco que destrói tudo o que possa ter sido construído de útil até então. Talvez o momento menos constrangedor (e mais bizarramente engraçado) desta nova estética seja a perseguição que uma bola de basquete faz à chinesa mais bonitinha da turma (Kate Leung). E o que dizer de um filme de horror onde os protagonistas usam gases retais para afugentar os ameaçadores espíritos? Tem um momento em que eles parecem estar soltando hadou-kens com o bafo, à la Ryu e Ken de Street Fighter! Não é possível mesmo ter uma idéia clara do que estou falando, é preciso ver para crer...
Ao se olhar os três filmes dos irmãos Pang em conjunto, é possível notar um padrão decepcionante de crescente e quase exponencial degradação. Principalmente nos desfechos das histórias, que praticamente refletem o quão bem-sucedido foi cada filme. Neste terceiro exemplar as situações de surpresa podem ser antecipadas sem nenhuma dificuldade, e os sustos são praticamente inexistentes para quem viu os dois primeiros filmes e está familiarizado com o estilo dos diretores. Culpa do roteiro meio desconexo e já batido, que apóia-se demais nas aparições desfocadas dos fantasmas para manter o interesse da platéia.
Os extras do DVD se resumem aos trailers de O Cara, Caçada Sangrenta e Visões.
Texto postado por Kollision em 5/Junho/2006