Cinema

O Estranho Mundo de Zé do Caixão

O Estranho Mundo de Zé do Caixão
Título original: O Estranho Mundo de Zé do Caixão
Ano: 1968
País: Brasil
Duração: 82 min.
Gênero: Terror
Diretor: José Mojica Marins (Ritual dos Sádicos - O Despertar da Besta, O Exorcismo Negro)
Trilha Sonora: Herminio Giménez, José Mojica Marins
Elenco: Messias de Melo, Vany Miller, Verônica Krimann, Paula Ramos, Esmeralda Ruchel, Luís Sérgio Person, Mário Lima, Rosalvo Caçador, Tony Cardi, George Michel Serkeis, Íris Bruzzi, José Mojica Marins, Oswaldo de Souza, Nidi Reis, Nivaldo de Lima
Distribuidora do DVD: Cinemagia
Avaliação: 6

Com a fama devidamente consolidada pelos dois primeiros filmes de Zé do Caixão, o criador José Mojica Marins partiu para um formato diferente enquanto esperava para rodar a terceira parte da trilogia do personagem de horror mais famoso do cinema nacional. Enquanto a desejada continuação de Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, feito no ano anterior, ficaria relegada ao limbo, muitas pessoas passaram a adotar O Estranho Mundo de Zé do Caixão como o terceiro capítulo da saga. Pode até ser, mas o importante a se considerar, no entanto, é que aqui o personagem faz a vez de mestre de cerimônias de três contos, ambientados no peculiar universo do funerário das profundezas.

No primeiro deles, intitulado O Fabricante de Bonecas, quatro larápios (entre eles o diretor Luis Sérgio Person) invadem a casa de um fabricante de brinquedos (Messias de Melo) para assaltá-lo e molestar suas belas filhas. Eles acabam descobrindo de onde vem a beleza das bonecas feitas pelo velhinho. Tara, o segundo conto, é completamente mudo, e mostra a obsessão de um pobre vendedor de balões (George Michel Serkeis) por uma jovem da cidade (Íris Bruzzi), obsessão esta que rompe até mesmo a barreira da morte. O episódio derradeiro, Ideologia, traz uma variação do personagem de Zé do Caixão. Após uma entrevista na TV, o eminente professor Oãxiac Odez (Zé do Caixão escrito ao contrário) convida um de seus entrevistadores (Oswaldo de Souza) e a esposa (Nidi Reis) para comparecerem à sua casa e conhecer as provas de sua ideologia radical a respeito da hegemonia do instinto sobre a razão. O que se segue é um festival sádico envolvendo tortura, desmembramentos e canibalismo.

O filme marca o início da colaboração entre Mojica e o roteirista Rubens Francisco Lucchetti, que escreveu os contos para o cinema a partir de idéias do diretor. Os três episódios são bastante distintos entre si, e trazem uma trinca abusada de temas recorrentes do horror marginal: o estupro, a necrofilia e o canibalismo. A censura foi impiedosa na época, mas ainda bem que o filme foi completamente preservado para as platéias de décadas posteriores. Apesar de não trazer o frescor e o aspecto demoníaco dos longas estrelados por Zé do Caixão, a ousadia dos contos compensa a ausência do bicho-papão de capa preta. Principalmente o segundo episódio, um achado que resume a essência do cinema de Mojica, uma singular alegoria desprovida de diálogos e com grande atuação do egípcio George Serkeis, co-produtor do filme ao lado do diretor.

Embora contenha algumas das cenas mais perturbadoras já filmadas pelo cineasta, o segmento Ideologia é deveras deficiente quando comparado aos demais. Oãxiac Odez não é Zé do Caixão, e sua aparência chega a lembrar bastante um dos personagens humorísticos de Chico Anysio. Enquanto nos dois primeiros contos a nudez é presença constante, a falta dela no terceiro episódio, teoricamente o mais ousado de todos, é uma decepção para quem espera um encerramento bombástico além do grotesco banquete promovido pelo anfitrião da casa dos horrores. Também é tarefa árdua suportar as declamações baratas de Mojica na seqüência de abertura do filme, que versam sobre o nada num discurso completamente sem sentido. Apesar disso, o ponto mais baixo da produção é mesmo a pobreza da edição de som, que em certos trechos fica extremamente abafado e praticamente obriga o espectador a acionar as legendas para poder acompanhar os diálogos direito. Culpa da matriz original utilizada no DVD, que mais parece saída de um VHS empoeirado de fundo de estante.

O DVD, por outro lado, é recheado de material extra, começando por duas faixas de comentários em áudio, uma de José Mojica Marins e outra de seu colaborador Rubens Francisco Lucchetti. A distribuidora deu um jeito de incluir no pacote o segmento Pesadelo Macabro (31 min.), dirigido por Mojica e parte do longa Trilogia de Terror, lançado também em 1968 &ndash na história, homem tem pesadelos onde é enterrado vivo, e procura a solução para o seu martírio em terreiros de macumba. Neste episódio também há uma faixa de comentários imperdível do cineasta. O resto do material consiste de 8 entrevistas curtas com personalidades relacionadas ou não ao filme (Marina Person, George Serkeis e Rubens Ewald Filho, entre outros), entrevista com Mojica, os making-ofs do programa de rádio estrelado por Zé do Caixão e da animação em stop-motion da abertura do DVD, enquete com transeuntes na rua e sua opinião sobre o personagem, 4 vinhetas/contos de rádio narrados por Mojica, fotos dos roteiros de dois projetos da dupla Mojica/Lucchetti, artigo em texto sobre a parceria dos dois, várias galerias de fotos, pôsteres, quadrinhos e fotonovelas baseadas no filme, biografias curtas de Mojica, Lucchetti, George Serkeis, Íris Bruzzi e Luís Person e o trailer do filme, além dos trailers de A Estranha Hospedaria dos Prazeres, Perversão e A Hora do Medo.

Revisto em DVD em 29-OUT-2006, Domingo - Texto postado por Kollision em 2-NOV-2006