Em meio ao monte de pastiches adolescentes que coalham a filmografia norte-americana de tempos em tempos, numa espécie de sub-gênero odiado pela crítica mas abertamente amado pela própria faixa etária que retrata, e muitas vezes secretamente adorado pelos pseudo-intelectuais que jogam o gênero no lixo, As Patricinhas de Beverly Hills tem, à primeira vista, muito pouco a acrescentar. Porém, debaixo da sempre presente camada de superficialidade e das inevitáveis bobagens estereotipadas, o que se vê é uma história agradável (ainda que bobinha), cujo maior destaque é a presença radiante de Alicia Silverstone, alçada à fama instantânea com o filme e futuramente relegada ao ostracismo típico das estrelas de vida efêmera.
Cher Horowitz (Silverstone) é uma adolescente de 16 anos que mora em Beverly Hills e freqüenta um cólegio local. Hostilizada pelo irmão de criação (Paul Rudd) de um casamento anterior do pai (Dan Hedaya), a rotina de Cher se divide entre as compras em companhia da melhor amiga (Stacey Dash), as atividades escolares e mais compras. O período crítico de sua adolescência se inicia com a chegada de uma nova colega (Brittany Murphy) e de um galã de outra escola (Justin Walker), o que desencadeia uma mudança comportamental e afetiva em sua forma pueril de ver o mundo. É daí que deriva o título original do filme (Clueless), que significa "perdido", "sem pistas", e se refere à noção que a mocinha acredita que tem do mundo ao seu redor.
O filminho de Amy Heckerling começa tímido, perdido, e passa a impressão de que não vai chegar a lugar nenhum. Como quem não quer nada, o carisma de uma então quase desconhecida Alicia Silverstone, cujos trabalhos anteriores de maior vulto haviam sido alguns videoclipes famosos da banda Aerosmith, toma conta da história, da tela e da atenção da platéia. Sua Cher pode ser bobinha, mas a personagem é retratada de forma inteligente, espirituosa e acaba convertendo-se numa ótima heroína adolescente. O jeitinho de lolita da moça é valorizado através do olhar de Paul Rudd que, no papel de seu irmão mais velho e careta, se descobre admirado pela inteligência, sagacidade e honestidade da irmãzinha cabeça-de-vento.
Alguns outros pontos que mantêm As Patricinhas dentro da parcela positiva de filmes adolescentes são a trilha sonora bacana e as citações generosas a outros filmes e aspectos da cultura pop da década de 90. Curiosidade é a presença de uma Brittany Murphy gordinha, quase irreconhecível, basicamente a única atriz do elenco adolescente que conseguiu se manter em atividade constante e desenvolver um trabalho mais consistente com o passar dos anos. Irônico que, com sua inegável beleza de padrão universitário, Alicia Silverstone tenha feito escolhas terríveis na carreira, como a Batgirl de Batman & Robin (Joel Schumacher, 1997), e tenha sumido do mapa completamente.
Os extras do DVD simples da Paramount se resumem a dois trailers.
Texto postado por Kollision em 15/Março/2006