Cinema

A Fantástica Fábrica de Chocolate [2005]

A Fantástica Fábrica de Chocolate [2005]
Título original: Charlie and the Chocolate Factory
Ano: 2005
País: Estados Unidos, Inglaterra
Duração: 115 min.
Gênero: Comédia
Diretor: Tim Burton (A Noiva Cadáver, Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet)
Trilha Sonora: Danny Elfman (Nacho Libre, A Menina e o Porquinho [2006], A Família do Futuro)
Elenco: Johnny Depp, Freddie Highmore, David Kelly, Deep Roy, Christopher Lee, Annasophia Robb, Julia Winter, Jordan Fry, Philip Wiegratz, Helena Bonham Carter, Noah Taylor, Missi Pyle, James Fox, Adam Godley, Franziska Troegner, Blair Dunlop, Liz Smith, Eileen Essell, David Morris, Nitin Chandra Ganatra, Shelley Conn
Avaliação: 10

A Fantástica Fábrica de Chocolate é prova de que Tim Burton se estabeleceu como um bom diretor de refilmagens. Sua empreitada anterior, o clássico da ficção científica Planeta dos Macacos, já demonstrara a sua capacidade de reinvenção. Para a história de Willy Wonka, o recluso dono da gigantesca fábrica do título, mais uma vez ele conclamou seu ator preferido, Johnny Depp, e reimaginou um filme que também é hoje clássico, mas divide opiniões. Eu jamais cheguei sequer perto de ver a versão de 1971, então nada posso dizer em relação a ela.

A história mistura elementos infantis num conto que, por vezes, não tem nada de apropriado a infantes pequenos. Willy Wonka (Depp) é o dono da gigantesca fábrica que distribui os mais deliciosos chocolates do mundo. É com grande alegria que a criançada em geral recebe a notícia de uma promoção dos chocolates Wonka: quem encontrar um dos cinco bilhetes dourados numa das embalagens ganhará um passeio pela fábrica com direito a um acompanhante adulto, podendo ainda ganhar um prêmio especial que será dado a apenas um dos cinco sortudos. Charlie (Freddie Highmore) é um dos escolhidos, um menino pobre cuja família mal tem o que comer e só pode comprar uma barra de chocolate por ano. Aproveitando a sorte, Charlie leva seu avô (David Kelly) consigo e embarca na bizarra companhia de Wonka, uma figura andrógina e enigmática com visível aversão a crianças e ao convívio social em geral.

O que li a respeito do livro original e de suas adaptações é que Tim Burton tentou fazer seu filme mais fiel à obra que o inspirou que a versão cinematográfica de 1971, tomando algumas liberdades inofensivas (e até engrandecedoras) como a adição da figura do pai de Willy Wonka (Christopher Lee). Logicamente, a gama hoje existente de opções quanto aos efeitos especiais é um trunfo do qual Burton usufrui, sem no entanto recorrer demais a eles. O cenário da cachoeira de chocolate, por exemplo, foi todo construído em escala real, sem uso algum de computação gráfica. O requinte visual, como em praticamente todos os filmes do diretor, atinge níveis de estilização estonteantes, como demonstra a casa onde vive a família de Charlie, na realidade um casebre oblíquo que parece ter sido açoitado por incontáveis ventanias e está prestes a desmoronar a qualquer momento. As cores abundantes dos figurinos, dos doces e principalmente dos cenários nunca cansam, talvez pelo fato de seu tom acompanhar de perto cada pequeno capítulo da odisséia das crianças dentro da fábrica.

Willy Wonka nada faz quando cada um dos moleques que estão visitando a fábrica encontra um destino particular, todos eles motivados pelo comportamento de cada um. Há o comilão, a esnobe, o espertinho, a mimada e Charlie. Que é, por sua vez, o grande herói da história, que irá inclusive ensinar algumas coisas ao esquisito Wonka. É impossível não notar que Johnny Depp (ótimo como sempre) faz de seu personagem uma mistura de Michael Jackson anos 2000 com alguma outra coisa, até no jeito de falar. Sua índole e suas intenções jamais são completamente demonstradas no decorrer da história. Mas o herói das filmagens foi com certeza o baixinho Deep Roy, a face e o corpo dos Oompa-Loompas, a força de trabalho secreta de Willy Wonka e sua fábrica magnífica. Há momentos em que centenas de Ooompa-Loompas povoam a cena, todos eles personificados individualmente por Roy e combinados digitalmente. As vozes das canções que os Oompa-Loompas entoam em homenagem à molecada são nada menos que as vozes do compositor Danny Elfman, que volta a emprestar a garganta para gravações após o grande hiato decretado pelo fim de sua banda, o Oingo Boingo.

Como resultado, o filme acaba sendo um trabalho impressionante e revigorante, tanto para crianças quanto para adultos. Burton conseguiu criar algo ao mesmo tempo belo, cativante, cheio de suspense e, acima de tudo, divertido. Afinal, não é todo dia que se vê tanta gente saindo da sala de cinema assoviando a musiquinha grudenta (mas legal) que começa a subir nos créditos finais de um filme.

Texto postado por Kollision em 27/Julho/2005