Cinema

Sangue de Pantera

Sangue de Pantera
Título original: Cat People
Ano: 1942
País: Estados Unidos
Duração: 73 min.
Gênero: Terror
Diretor: Jacques Tourneur (O Homem Leopardo, O Gavião e a Flecha, A Noite do Demônio)
Trilha Sonora: Roy Webb (Silêncio nas Trevas, Interlúdio, Marty)
Elenco: Simone Simon, Kent Smith, Jane Randolph, Tom Conway, Jack Holt, Alec Craig, Theresa Harris, Charles Jordan, John Piffle, Elizabeth Russell, Eddie Dew
Distribuidora do DVD: Magnus Opus
Avaliação: 7

Sangue de Pantera, na época de seu lançamento, converteu-se rapidamente num sucesso que evitou a falência da RKO Pictures, que coincidentemente lançara há pouco tempo Cidadão Kane (Orson Welles, 1941), tido hoje como um dos melhores (senão o melhor) filmes de todos os tempos. Enquanto Cidadão Kane sofria um fracasso retumbante tanto de público quanto de crítica, o filme de Jacques Tourneur lentamente ganhou terreno nas bilheterias e até mesmo na opinião dos críticos. Afinal, trata-se de uma espécie diferente de filme de horror, em nada parecido com os sucessos do gênero que vinham da Universal Pictures (O Lobisomem, por exemplo, foi produzido na mesma época). Em seu trabalho, Tourneur apostava naquilo que a platéia não podia ver, e na sempre confiável estratégia de manter seu monstro durante o maior tempo possível nas sombras, ou incógnito.

O início do romance entre a bela desenhista de moda imigrante Irena Dubrovna (Simone Simon) e o arquiteto Oliver Reed (Kent Smith) é fruto de seu encontro no zoológico da cidade, que ocorre enquanto Irena elabora alguns desenhos diante da jaula de uma pantera. Sua história logo chega ao casamento mas algo estranho paira no ar, graças às suspeitas que a sérvia de nascimento Irena traz das histórias folclóricas de seu passado, onde ela acredita ser descendente de um povo que adorava o diabo, escapou do castigo divino e carrega a maldição de se converterem em ferozes felinos como resposta a fortes situações emocionais. Os medos da moça evoluem para um comportamento cada vez mais errático, principalmente devido ao seu crescente ciúme em relação à melhor amiga de Oliver (Jane Randolph) e às suas sessões com o psiquiatra indicado por ela (Tom Conway).

No papel da personagem principal, a francesa Simone Simon traz um semblante inocente, quase adolescente, ainda que imbuído do fascínio capaz de atrair a atenção de um homem à procura de uma paixão. Tanto que é possível até relevar o fato dele chegar a contrair matrimônio com ela e então ter que conviver com a frigidez aparentemente infundada da esposa. Certinho e um pouco idiota, Kent Smith chega a lembrar um pouco o físico e o aspecto do futuro Superman Christopher Reeve.

Com a fotografia em preto-e-branco e o uso de luz e sombra sendo empregados com bastante eficiência a favor do mistério que cerca a personagem de Irena Dubrovna, há algumas passagens do filme que se destacam do todo e ficam facilmente na memória. Uma delas é a perseguição que sofre a boazinha Jane Randolph, que minutos atrás fôra flagrada em momento quase íntimo com o marido de Irena (na mente da imigrante, pelo menos). Outra cena que se destaca é o cerco que a mulher-pantera faz à inimiga numa piscina, onde o perigo advém da passagem e da projeção de sombras dúbias no ambiente cheio de reflexos. Isso sem falar no sinistro encontro de Irena num café com uma provável descendente do povo-gato (a tradução do título da película, "cat people"), que foi espertamente usada como gancho para a história da continuação do filme, intitulada A Maldição do Sangue da Pantera e co-dirigida por Robert Wise em 1944.

A concepção da mitologia sobre o passado de Irena é correta e razoavelmente bem estabelecida. No entanto, apesar de conseguir construir uma boa atmosfera de suspense e manter por boa parte do filme uma grande dúvida acerca da verdade sobre a real natureza da personagem principal, a impressão que fica é que o diretor Jacques Tourneur poderia ter ousado um pouco mais. Neste ponto, ousadia é o que não falta na refilmagem feita por Paul Schrader em 1982, que acaba sendo exatamente o oposto deste filme em matéria de exposição explícita de sangue e violência.

Os extras do DVD se resumem a dois artigos em texto sobre o filme, e só.

Texto postado por Kollision em 8/Abril/2006