Produzido três anos após o primeiro filme, Anatomia 2 muda a ambientação e usa a mesma premissa do anterior para continuar desnudando os podres de alguns obscuros praticantes de medicina. Volta o diretor Stefan Ruzowitzky, convencido a duras penas pelos realizadores a comandar o roteiro escrito pelo próprio. E com o repeteco vem mais do mesmo, embalado num pacote moderninho e competentezinho.
Jo Hauser (Barnaby Metschurat) é um recém-formado em medicina que deixa o irmão deficiente e a pequena cidade de Duisburg para iniciar uma carreira de interno num grande hospital de Berlim. Lá, a corrida rotina diária não impede que ele se envolva com as atividades do renomado dr. LaRousse (Herbert Knaup) e sua equipe de médicos-prodígio, responsáveis por pesquisas de ponta e quase ganhadores do prêmio Nobel. Convidado a entrar para o grupo, Jo logo cai numa malha de atividades ilegais envolvendo a seita dos anti-hipocráticos, os praticantes de medicina com métodos nada ortodoxos usados em nome do desenvolvimento da ciência. Só quando ele é visitado pela então policial Paula Henning (Franka Potente, a heroína do primeiro filme) é que Jo percebe que algo pode estar terrivelmente errado dentro do hospital onde trabalha.
Realizada com a mesma competência da primeira parte, esta continuação consegue o feito de não repetir demais as idéias e situações mostradas anteriormente. Sai a universidade, entra o ambiente 'Plantão Médico'. Sai uma heroína e entra um herói, feito com desenvoltura razoável pelo novato Barnaby Metschurat. Com a mudança de protagonista, muda um pouco o tom da narrativa, que em determinado momento assume contornos de filme de ação. O suspense está no mesmo nível do primeiro, apesar da anatomia em si (partes de corpos, tripas e sangue) ser menos explícita e os praticantes da tal seita proibida serem na verdade peões à mercê de um mal maior. Este mal aparece na figura do sinistro médico feito por Herbert Knaup (o pai de Franka Potente em Corra Lola Corra), um líder de fala mansa e lábia irresistível, capaz de levar seus súditos aos extremos em nome de seu ideal deturpado. Será qualquer paralelo com outro líder-monstro que cativou muitos uma mera coincidência?
Ruzowitzky mostra-se mais ousado em seu trabalho de câmera neste filme, com uma edição ágil e geralmente eficiente em momentos de tensão. O marcante tema musical recorrente de Marius Ruhland ('Na na na... Na na na, na na...') poderia ter sido usado mais vezes, mas aparece somente numa passagem. A maior parte do elenco jovem está bem em cena, com destaque para a bela imigrante que ajuda Jo em seu desespero (Rosie Alvarez). A presença de Franka Potente em papel periférico não é nem de longe significativa, mas cria uma bem-vinda ponte com a primeira história, o que ajuda a estabelecer o clima macabro que envolve o clube secreto no qual o novo protagonista se infiltra.
Na seção de extras do DVD há um making-of de 15 minutos, 3 ensaios de cena, 3 min. de cenas excluídas (que mostram uma tentativa um pouco fora da realidade de dar ao protagonista alguns superpoderes devido a uma alteração muscular, sabiamente evitada na sala de edição), galeria de fotos e vários trailers, incluindo o do próprio filme, do primeiro Anatomia, Identidade, No Cair da Noite, Homens de Respeito e Meninas Não Choram.
Texto postado por Kollision em 15/Agosto/2005