E houve uma época em que não bastava muito para se levar os fãs dos filmes de ação aos cinemas. Foi uma época até inocente, em que efeitos digitais ainda não existiam e onde os atores tinham que fazer suas próprias acrobacias, dublês ou não. Foi a época inaugurada pelo neo-clássico Rambo - Programado para Matar (Ted Kotcheff, 1982), que teve seu período áureo no meio dos anos 80 e durou até o início da década seguinte. Um dos maiores expoentes dentro desta indústria foi o grupo Cannon de Menahem Golan e Yoram Globus, estúdio independente notório por produzir pastiches como este com baixíssimo orçamento. Seu maior astro foi o carateca e dublê de ator Chuck Norris, sendo que até Sylvester Stallone e Jean-Claude van Damme chegaram a ser contratados pela produtora.
Michael Dudikoff foi um dos vários novatos que a Cannon tentou lançar como astro de filmes de ação em seu período de ouro. Como se pode perceber deste Guerreiro Americano, não é nada difícil entender porque o cara desapareceu na obscuridade. Para se ter uma idéia, ele não conhecia absolutamente nada de artes marciais antes de cair no meio da produção de pára-quedas, basta reparar bem em seus movimentos "perfeitos" e nos truques baratos de câmera usados nas cenas de ação que tentam ser mais elaboradas. Por uma efêmera sorte que provavelmente deu alguma vã esperança a Dudikoff, este filme fez relativo sucesso e gerou nada menos que quatro inacreditáveis seqüências, das quais ele aparece em duas.
O arremedo de história gira em torno de um destacamento militar sediado nas Filipinas, no qual se alista o amnésico e enigmático Joe (Dudikoff). Por algum motivo maluco, um magnata da região (Don Stewart) arma um plano para roubar carregamentos de armas dos militares, contando para isso com uma trupe de ninjas do mal liderados pelo único mestre ninjitsu da ilha (Tadashi Yamashita). Primeiro Joe dá uma de herói para salvar a filha do coronel (Judie Aronson), para depois fazer um único amigo no soldado Jackson (Steve James) e então iniciar sua cruzada quase solitária contra os ninjas malvados. Só quando ele encontra um jardineiro misterioso (John Fujioka) é que Joe descobre de onde vêm suas habilidades de ninja.
Assistir ao astro principal desempenhar seu papel é, hoje em dia, um pretexto para se dar boas risadas. É só depois de muito tempo em cena que ele consegue declamar sua primeira sentença, das poucas que ele chega a falar ao longo de todo o filme. Se as capacidades dramáticas de Dudikoff são extremamente limitadas, pode-se dizer o contrário do nível de canastrice de todo o resto do elenco, com exceção de Steve James, figurinha fácil neste tipo de filme que consegue atribuir genuína simpatia ao seu personagem. Na época de seu lançamento, o longa ficou conhecido por emular uma cena famosa de Os Caçadores da Arca Perdida (Steven Spielberg, 1981), aquela em que o herói fica preso e se deixa levar debaixo de um veículo. Mas não dá para se enganar, o nível da ação é tosco mesmo quando comparado com o que era corriqueiro nos anos 80, e é só com um espírito bastante debochado que é possível curtir o filme em sua plenitude brega.
O único extra da edição em DVD da MGM é o trailer de cinema, em que o longa aparece com o título original de American Warrior.
Revisto em DVD em 15-OUT-2006, Domingo - Texto postado por Kollision em 18-OUT-2006