Cinema

Aeon Flux

Aeon Flux
Título original: Aeon Flux
Ano: 2005
País: Estados Unidos
Duração: 93 min.
Gênero: Ficção Científica
Diretor: Karyn Kusama (Boa de Briga, Garota Infernal)
Trilha Sonora: Graeme Revell (Cidade do Silêncio, Candidato Aloprado, Os Reis da Rua)
Elenco: Charlize Theron, Marton Csokas, Jonny Lee Miller, Sophie Okonedo, Frances McDormand, Pete Postlethwaite, Amelia Warner, Caroline Chikezie, Nikolai Kinski, Paterson Joseph, Yangzom Brauen
Avaliação: 5

Responda rápido: o que as atrizes Charlize Theron e Halle Berry têm em comum? Qualquer cinéfilo que esteve ligado nos acontecimentos dos últimos anos sabe que trata-se do fato de serem ambas ganhadoras de Oscars na categoria de melhor atriz que, bem, protagonizaram heroínas pululantes de adaptações de outros meios de entretenimento pouco depois de receberem o prêmio. Berry passou vergonha (e levou para casa o Framboesa de Ouro) na pele da Mulher-Gato (Pitof, 2004), um aproveitamento assaz pobre da personagem da DC Comics. Charlize Theron quase cai na mesma categoria da colega, numa ficção baseada na série animada homônima veiculada pela MTV em 1995. O resultado não chega a ser tão ruim, mas poderia ter sido bem melhor.

Daqui a 400 anos no futuro, uma praga terá dizimado 99% da humanidade. Os poucos sobreviventes continuam a viver numa cidadela de arranha-céus e concreto, teoricamente protegida da contaminação do mundo exterior por muros intransponíveis, e governada com mão-de-ferro por Trevor Goodchild (Marton Csokas). Goodchild é descendente de uma linhagem nobre, já que foi um antepassado seu quem descobriu a cura para a peste e pôde salvar o que resta dos seres humanos na Terra. Aeon Flux (Charlize Theron) é uma das rebeldes que integra a resistência contra a opressão do governo, os Monicanos, uma agente infalível que recebe a missão pela qual esperou a vida toda assim que sua irmã (Amelia Warner) desaparece misteriosamente: eliminar Trevor Goodchild de uma vez por todas. Só que as coisas não saem bem como ela esperava, graças à interferência de Oren Goodchild (Jonny Lee Miller), na verdade um conspirador oculto que deseja surrupiar o governo do irmão.

O grande barato do desenho escapista criado por Peter Chung inicialmente para a vanguardista série Liquid Televison era, além da animação bastante original, a caracterização misteriosa, dúbia e indecifrável da própria (anti-)heroína Aeon. É incrível como a máquina hollywoodiana é capaz de corromper um material tão legal, diluindo a índole de uma assassina na maior parte das vezes imoral a ponto de quase desfigurá-la. O roteiro só deixa isso transparecer durante o trecho de um diálogo inflamado já no final do filme. Dar um passado à moça também vai contra a criação original de Chung, que jamais fornecia pistas sobre a história pregressa de Aeon e sua motivação para a revolta contra Trevor Goodchild, outro personagem que foi ainda mais amaciado na transposição para a tela grande. Muito da cultura futurista presente no desenho, que retrata uma sociedade controlada até os níveis mais básicos da existência, também foi suprimida.

A exposição verborrágica do início do filme é de espantar a platéia mesmo. Apresentar toda uma nova realidade desta forma só atesta o amadorismo da produção, que só consegue engatar alguma coisa que preste lá pela metade da história. Caso o espectador consiga passar pela seqüência dos cacaus assassinos (!!!) sem levantar da poltrona e ir embora, dá para se aproveitar o conceito até bacana por trás da realidade asséptica de Aeon Flux, e até mesmo adquirir alguma simpatia pela personagem, que ganha o belo rosto, o esforço e o sangue de Charlize Theron, que chegou a sofrer um acidente durante uma cena mais perigosa das filmagens. A edição frenética das seqüências de luta, por falar nisso, decepciona devido ao abuso de enquadramentos que tentam desesperadamente mascarar a evidente falta de tato da diretora com as cenas de ação.

No elenco, quem mais saiu ganhando com o filme é, evidentemente, Marton Csokas, um dos intérpretes-padrão de vilões em longas recentes de Hollywood. Frances McDormand, por sua vez, paga mico como a líder dos rebeldes. O filme só não tem cara de Sessão da Tarde completa por causa dos cenários diferenciados e pela atmosfera fictícia que demora para ser assimilada logo de cara. Não é um desperdício completo, mas trata-se do tipo de trabalho que sempre é mais bem-vindo na tela pequena.

Texto postado por Kollision em 21/Março/2006